“O manicômio dentro de nós”

Por: Unisociesc

15/05/2020 - 09:05 - Atualizada em: 15/05/2020 - 09:41

Em 18 de maio é Dia Nacional da Luta Antimanicomial, dedicado à reflexão acerca do encarceramento da Doença Mental, retratado historicamente na figura dos manicômios ou “casas de higiene mental”.

Apesar da referência a uma estrutura física, o movimento antimanicomial busca a desinstitucionalização da própria doença mental, isto é, reconhecer as dificuldades enfrentadas pelo doente mental e seus familiares, mas também apontando caminhos para sua reinserção social e a compreensão de suas potencialidades. Embora haja avanços, o movimento de institucionalizar o sofrimento mental ainda persiste na sociedade.

Objetiva-se aqui buscar uma compreensão do cárcere e seus efeitos psicossociais, além do simbolismo envolto na limitação compulsória do direito de ir e vir. Torna-se inevitável estabelecermos um paralelo entre a “exclusão” social associada à doença mental e o “distanciamento” social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Como no encarceramento do doente mental em seu diagnóstico médico, a sociedade também se vê enclausurada na temática da crise sanitária vigente. Mas quais as semelhanças?

Você se sente limitado quanto ao seu planejamento de vida?

Recentemente, você cancelou alguma atividade social?

Você tem estado mais distante dos seus parentes e amigos?

A opinião de especialistas tem norteado os seus hábitos de vida?

Você tem se sentido impotente para decidir sobre ações do dia a dia?

Caso tenha respondido positivamente a uma ou mais das questões anteriores, você se enquadra em algumas das limitações observadas em pessoas com doença mental institucionalizadas. Por outro lado, você também deve ter observado a utilização dos termos “exclusão” e “distanciamento” social para se referir às situações destacadas.

A “exclusão” social do doente mental, marcada pelas internações compulsórias em manicômios, corresponde à limitação total dos aspectos existenciais dos sujeitos, que perdem simbólica e legalmente a gerência sobre si mesmos.

A escolha pelo termo “distanciamento” social serve para demarcar a importante diferença na situação de quarentena no enfrentamento à pandemia causada pelo novo coronavírus. Distanciar não é isolar, pois ainda temos a gestão no desenvolvimento de novas formas de convivência.

Apesar disso, percebe-se que muitas pessoas constroem “manicômios” ao seu redor nesse período de quarentena, isolando-se e excluindo-se.

A negativa repercussão na saúde mental, em decorrência do isolamento social como resposta à pandemia, tem afetado pessoas no mundo inteiro, o que nos leva a uma reflexão: se isolar e “encarcerar” adoecem, como conceber tais estratégias como norteadoras do cuidado para com o próximo?

Qual o seu manicômio? Como fazer para destruir seus muros e construir novas formas de convivência?

Prof. Dr. Jeovane G. Faria
Coordenador do Curso de Psicologia

Prof.ª Ma. Claudia D. Borges
Professora do Curso de Psicologia
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