“Vinganças e pornografia”

Por: Raphael Rocha Lopes

17/12/2020 - 08:12 - Atualizada em: 17/12/2020 - 08:28

“♫ Nem vem!/ Guarda teu lugar na fila/ Todo homem que vacila/ A mulher passa pra trás” (Nem vem que não tem, Wilson Simonal).

Há várias ondas nos mares da internet. A navegação enfrenta furações e tsumanis dependendo das rotas dos navegadores. Às vezes, os tais cancelamentos, muito próximos dos linchamentos virtuais. Outras, talvez a pior das ondas, as fake news afogando em mentiras e desinformações os internautas mais incautos. E, por fim, a pornografia não consensual.

E para quem ainda acha que é tudo igual, há uma diferença abissal entre uma profissional que ganha dinheiro com imagens e vídeos eróticos ou pornográficos e uma vítima da irracionalidade de alguém.

Os vingativos vacilões.

Os relacionamentos – qualquer um – enfrentam altos e baixos. A melhor alternativa, para quando as coisas estão mais nos baixos do que nos altos, é ir cada um para seu lado. Mas, por pior que seja o final, normalmente houve momentos bons.

Hoje em dia, com câmeras de tão alta tecnologia na palma das mãos, com o erotismo saltando aos olhos em todos os lugares, com a quebra de tabus e com mais liberdade, muitos casais, jovens e velhos, têm apimentado suas relações com vídeos caseiros proibidos para menores.

Ocorre que, quando o amor e o tesão se transformam em frustração, alguns vacilões tentam utilizar esses vídeos como instrumento de vingança. É o que se chama de revenge porn ou pornografia de vingança, uma espécie de pornografia não consensual.

As vingativas sublimes.

O impacto na vida das vítimas da pornografia de vingança pode ser devastador. Possivelmente mais do que quando um desconhecido, um hacker, acessa seu computador ou celular e divulga os vídeos. Quando a traição vem de alguém que se dividia a intimidade até pouco tempo o inconformismo e a dor são muito maiores.

Ainda que os divulgadores – inclusive quem compartilha nos aplicativos de comunicação – possam ser processados civil (pagando indenizações) e criminalmente, o estrago, invariavelmente já está feito. Especialmente quando o grau de maldade faz com que o vídeo circule acompanhado dos perfis do Facebook ou do Instagram da moça.

Em uma sociedade de muitas facetas de hipocrisia, um ato tão natural, quando divulgado desta forma, torna a mulher a abjeta de um tradicionalismo um tanto desconexo. E parte da sociedade, com suas viseiras laterais, não entende que ela é a vítima e não a vilã.

Não é fácil, não é nada fácil, mas a vingança sublime dessas mulheres pode ser a cabeça erguida, a demonstração de que são mais fortes, mais importantes e mais inteligentes do que seus ex covardes e canalhas que não têm um pingo de autoestima (e não devem ter outras coisas também).

Todo homem que vacila, principalmente deste modo, a mulher deve passar para trás. Todas as mulheres deveriam.