“Triângulo da fraude”

Por: Raphael Rocha Lopes

22/12/2021 - 13:12 - Atualizada em: 22/12/2021 - 14:46

“♫ Malandro agulha/ Como se sente? como se sente?/ Malandro agulha/ Nunca tá contente! nunca tá contente!/ E não interessa se é do bem ou do mal/ E se for preciso é romântico, imoral/ O que interessa é se dar bem no final” (Malando agulha, Blitz).

A internet tem sido, infelizmente, um campo extremamente fértil para golpes e fraudes. Pessoas ingênuas, incautas ou ávidas por ter alguma vantagem irreal são vítimas constantes dos meliantes digitais.

Todos os dias aparecem novas modalidades de golpes ou golpes antigos com roupagens atualizadas. Todo cuidado é pouco e, mesmo saindo notícias diariamente na mídia, sempre tem mais uma vítima. Hoje em dia é difícil não conhecer alguém que já tenha caído em algum golpe.

O triângulo

Existem várias teorias para justificar os atos dos criminosos, cibernéticos ou não. Uma dessas teorias, aplicada para golpes e fraudes corporativos, é a do Triângulo das Fraudes, desenvolvida nos anos 1950 pelo americano Donald Cressey.

Segundo essa teoria, há três fatores que desencadeiam crimes dessa natureza: pressão, oportunidade e racionalização. A pressão – ou motivação – normalmente é a existência de problemas financeiros; a oportunidade é o conhecimento com a chance de praticar o ato. O terceiro vértice é o mais inquietante: a racionalização, que é o processo pelo qual o criminoso relativiza sua atitude, convencendo-se de que aquele golpe ou fraude é aceitável ou justificável.

A teoria na internet

Essa teoria foi, como dito, desenvolvida para o entendimento dos golpes ou fraudes corporativos. Um elemento bastante importante, nestes casos, é que o fraudador desfruta de cargo de confiança.

A teoria se aplica muito bem também aos golpes digitais corporativos, o que leva à necessidade das empresas atentarem para o desenvolvimento de programas sérios de compliance. Penso que, de certa forma, pode também ser aplicada aos golpes cotidianos praticados contra todo tipo de vítima na internet.

A pressão, a oportunidade e a racionalização costumam estar presentes nos golpes cibernéticos. Pelo menos de início. Talvez, com o andar da carruagem e o enchimento das burras do golpista, o fator pressão se perca no meio do caminho, já que não haverá, teoricamente, mais dívidas. Deste momento em diante será apenas ganância mesmo. As oportunidades caem nos colos dos bandidos, pois esbarram virtualmente com milhares de pessoas ingênuas ou ansiosas por levar vantagem de alguma maneira.

Por fim, muitos deles racionalizam seus atos, dando mil justificativas a si próprios sobre sua conduta de causar prejuízo às vítimas (são eles, os criminosos, as vítimas da sociedade; os outros são mais ricos; se eu não fizer, outro faz; muitos políticos também dão golpes; eu sou melhor; etc.), sendo verdadeiros narcisistas.

O ano que passou foi profícuo em golpes na internet e nada demonstra que 2022 vai ser diferente. Duvidar do que é fácil demais ou de quem pede dinheiro é o primeiro passo para não ser enganado nessa selva virtual.