“♫ Nós tamo entrando sem óleo nem creme/ Precisando a gente se espreme// Mistura sua laia/ Ou foge da raia/ Sai da tocaia/ Pula na baia/ Agora nós vamos invadir sua praia” (Nós vamos invadir sua praia, Ultraje a Rigor)
Quase ao estilo do “Precisamos conversar sobre o Kevin”, filme de 2011, um tanto quanto perturbador, nós, precisamos conversar sobre as patinetes. E tudo o que se assemelha às patinetes.
Refiro-me às patinetes elétricas, ou e-scooters, que estão surgindo aos borbotões pelas ruas de quase todas as cidades. E as cidades ainda não sabem muito bem como lidar com esta quase novidade.
Parece-me, até, que os problemas que enfrentaremos com cada vez mais constância daqui em diante não será propriamente com as patinetes, mas com outras geringonças que estão expulsando pedestres das calçadas e ciclistas das ciclofaixas ou ciclovias. São coisas com rodas e que se arvoram no direito de andar em todas as direções (inclusive na contramão) e em todos os lugares (especialmente nas ciclofaixas) simplesmente porque são elétricas.
Expectativa e realidade
Quando as patinetes, na versão para locações rápidas, surgiram, principalmente nas grandes cidades, houve um certo frenesi de muita gente. De fato, ocorreu um boom. As expectativas cresceram e muitas cidades médias e pequenas começaram a esticar os olhos para a novidade, ansiando para que o serviço chegasse a suas terras.
Porém, o negócio desandou. As grandes do setor picaram a mula do Brasil ou diminuíram suas operações. Ajustes operacionais, disseram. Na realidade, andar de patinete elétrica alugada não era tão barato quanto parecia, e o poder aquisito do brasileiro... bom, nós sabemos. Além disso, as inseguranças social e jurídica também contribuíram. Tudo é custo, e o custo-Brasil... bem, nós sabemos. Em outros países as patinetes estão mais populares.
De repente, os monstrengos
Outro ponto que deve ser considerado na conversa sobre as patinetes elétricas é o quesito acidentes. Por conta e para evitar acidentes é necessário que haja regulamentação. Não só nos casos das patinetes alugadas que ficam espalhados pela cidade após seu uso, gerando transtornos, mas pelos acidentes que estão acontecendo.
Há poucas estatísticas sobre o tema, mas alguns números podem contribuir aqui. Na Suécia, pulou de poucos acidentes em 2017 para mais de 500 em 2019; nos EUA foram mais de 39 mil feridos entre 2014 e 2018; na Inglaterra houve grande comoção, em 2019, quando uma apresentadora de TV de 35 anos foi a primeira vítima fatal em acidente com patinete elétrico.
Contudo, ainda acredito que há espaço para as patinetes. O que me assusta são os monstrengos que tenho visto pela cidade: coisas que parecem patinete, mas que tem pneus tala mais larga do que muita moto.
Como conciliar bicicletas, patinetes elétricos e estas aberrações que invadem as ciclofaixas? Não sei, precisamos conversar antes que seja tarde demais.