“O Novo Retrato de Dorian Gray”

Por: Raphael Rocha Lopes

20/07/2021 - 12:07 - Atualizada em: 20/07/2021 - 12:09

“♫ I’m a model, ya know what I mean/ And I do my little turn on the catwalk/ Yeah on the catwalk/ On the catwalk yeah/ I do my little turn on the catwalk. “ (I’m too sexy – Right Said Fred).

A situação faz lembrar um dos maiores clássicos da literatura mundial, O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, publicado pela primeira vez no final do século XIX. No romance, Dorian Gray vende sua alma em troca da beleza eterna. Seu retrato, porém, arca com as consequências de uma vida tão libertina. Paro por aqui para não dar spoiler e, obviamente, este é um resumo que nem de longe reflete a grandeza dessa obra.

O novo retrato de Dorian Gray às avessas, porém, pode ser visto todos os dias nas redes sociais. Muita gente linda de rostos e corpos perfeitos que, na vida real, não são tão maravilhosos e perfeitos. Por conta deste excesso de ajustes irreais, alguns países estão discutindo seriamente o assunto.

Vale tudo para parecer mais bonito?

Quase todo mundo já ouviu falar do tal Photoshop, um programa de computador que faz transformações em fotos, muito utilizado por desconhecidos e famosos para melhorar suas curvas e aparências. É usado desde para retirar manchas do rosto até para fazer cinturinhas fitness em corpões sarados. É usado para exibicionismos nas redes sociais tanto quanto em campanhas publicitárias. E isto está levantando fortes debates.

Esse excesso de perfeição está causando problemas psicológicos nos jovens e adolescentes? Alguns estudiosos entendem que sim!

Por isso, há movimentos em diversos países para coibir estas manipulações, pelo menos em corpos e rostos. Na França, desde 2017 já há limitações legais. Agora, na Noruega há uma lei que determina que, a partir de 2022, influenciadores digitais e campanhas publicitárias terão que informar quando houver utilização de manipulação digital nas imagens. Por outro lado, na Áustria, pesquisadores apontam que criar estas obrigações não surte efeito prático para o público-alvo, ou seja, dos jovens e adolescentes.

Baixa autoestima

Os defensores da redução do uso da manipulação digital ou de que seja expressamente informado alegam que esse excesso de virtuosismo e beleza tem gerado problemas de autoestima nos jovens e adolescentes, pois, nesta faixa etária, a comparação é algo comum.

Pesquisas em diversos países, inclusive, sugerem que há alguma relação entre o aumento do uso das redes sociais com o aumento de suicídios de adolescentes, especialmente meninas.

Esse mundo lindo e maravilhoso, irreal, muitas vezes é percebido apenas pelos adultos (e olhe lá!). Adolescentes são mais suscetíveis a estas impressões desequilibradas da realidade e mostrar o tempo todo corpos sarados e rostos perfeitos não tem contribuído para que busquem uma vida mais saudável, mas, sim para uma busca desenfreada e a qualquer custo desses padrões – além de trazer alguns problemas psicológicos.

Por isso, continuo insistindo: devemos conversar mais sobre educação digital e as escolas devem ser o principal vetor dessa dinâmica, ligando pais, filhos e sociedade. É urgente!