“Na era dos absurdos”

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Por: Raphael Rocha Lopes

04/12/2019 - 12:12

♫ “Muito prazer, meu nome é otário/
Vindo de outros tempos, mas sempre no horário/
Peixe fora d’água, borboletas no aquário/
Muito prazer, meu nome é otário/
Na ponta dos cascos e fora do páreo/
Puro sangue, puxando carroça/
Por amor às causas perdidas/
Tudo bem, até pode ser/
Que os dragões sejam moinhos de vento/
Tudo bem, seja o que for”
(Dom Quixote, Engenheiros do Hawaii).

A humanidade passa por estranhos tempos. Tempos em que a realidade tem sido relativizada, os fatos passam por pós-verdades e as verdades viram alternativas. Não interessa o que é; interessa o que interlocutor quer. E só.

Então surgem pérolas.

Raciocínios irracionais.

A onda de que “só vale o que eu penso”, mesmo que o tal pensar esteja contra tudo o que já se falou, ensinou ou provou, pérolas pululam aqui e lá e causam estranheza até aos mais céticos e, sem dúvida, aos mais cautos.

Nesta tempestade de absurdos, vê-se pessoas defendendo que a terra é plana, que a ditadura não existiu no Brasil, que governos comunistas não dizimaram milhões de pessoas, que o homem não pisou na lua, que os prédios do World Trade Center foram derrubados pelo governo norte-americando, que anular 50% dos votos mais invalida eleição, que nazismo é comunismo, que o atual presidente não levou uma facada, que não existe racismo no Brasil.

E nem estou citando assuntos tecnicamente mais polêmicos.

O catalisador.

Algumas destas teorias já existem há um bom tempo. A internet, porém, não só catalisou esta saraivada de desinformação, mas, principalmente a potencializou. E trouxe novas.

Seja pelas redes sociais, por aplicativos de comunicação ou por sites “especializados”, o fato é que estas assombrações ganharam velocidade e abrangência, especialmente com tanta gente procurando justificativas para suas ideias injustificáveis.

Algumas pessoas, nestes tempos de polarização e conhecimento raso e pobre, agarram-se àqueles argumentos que querem que seja verdade sem abrirem a mente para analisar, com inteligência e parcimônia, os dados contrários.

Doutores de nada.

É difícil argumentar com pessoas que discutem política, mas que nunca leram um livro sobre política ou história, que discutem economia sem nunca terem lido sobre economia, que discutem justiça sem jamais terem encostado num livro de direito, que discutem ecologia e planeta sem sequer saberem os pontos cardeais, que discutem saúde sem nunca terem lido um livro de medicina. Ou quando toda sua fundamentação teórica veio de sites da internet…

E é difícil porque nenhum argumento sensato contraposto será suficiente, pois a pessoa quer que seja assim e ponto final, na ponta dos cascos e fora do páreo.