“Chipar ou não chipar, eis a questão”

Foto divulgação

Por: Raphael Rocha Lopes

26/05/2021 - 09:05 - Atualizada em: 26/05/2021 - 09:29

“♫ Pane no sistema/ Alguém me desconfigurou/ Aonde estão meus olhos de robô?/ Eu não sabia, eu não tinha percebido/ Eu sempre achei que era vivo” (Admirável Chip Novo, Pitty).

Está tudo cada vez mais conectado. Coisas com coisas, coisas com pessoas e pessoas com pessoas. E empresas e conglomerados no meio disso tudo. Com a entrada no mercado da tecnologia 5g isso se tornará ainda mais evidente e corriqueiro.

Umas das possibilidades – já existente – é a chipagem das pessoas, isto é, a implantação de chips subcutâneos. Ou melhor, o aumento do uso desta tecnologia.

Não é novidade

O uso de chips subcutâneos em pessoas tem acontecido há bastante tempo. Tenho um amigo com um chip, do tamanho de um grão de arroz, implantado em sua mão. Ele é especialista em segurança cibernética, programação e direito digital, ou seja, sabe exatamente dos riscos e vantagens e o fez, segundo o que falou em congresso que participamos, por curiosidade científica. Entretanto, nem todos tem este arcabouço de conhecimento e, quem pretende implantar, deverá se informar das consequências.

O fato é que há exemplos das mais diversas naturezas. Um clube argentino de futebol, o Tigre, em 2016, criou um projeto para implantar chips em seus torcedores para facilitar a entrada nos jogos. Na Suécia, desde 2018, milhares de pessoas já usam para acesso aos sistemas de trens.

Também na Suécia, em 2015, uma empresa implantou em alguns colaboradores – apenas nos que concordaram – para abrir portas automaticamente e acionar equipamentos com o toque das mãos, agilizando os processos. Na Bélgica, outra empresa, com o mesmo intuito, em 2017. Uma balada de Barcelona já usava esta técnica em 2004 com seus clientes VIPs. Esses são apenas alguns, e desses anos para cá, o uso aumentou e para diversos objetivos.

Benefícios e riscos

Esse panorama futurista, como se vê, não é mais do futuro; é do presente. Resta avaliar quais os benefícios e se há riscos. Óbvio, a reflexão caberá a cada um, e as opiniões serão, sem dúvida, divergentes. O importante é que as pessoas tenham conhecimento da tecnologia e do que pode acontecer.

Vejo inúmeras vantagens, desde as mais prosaicas, como a simples facilitação de entradas a diversos lugares (clubes, academias, trabalho) e ter o prontuário médico no corpo para alguma emergência, até aquelas estilo Família Jetsons, como acionar equipamentos e fazer pagamentos sem toques, cartões ou senhas.

O perigo maior, parece-me, é o risco de perda da privacidade, ou do controle por alguma empresa ou governo dos passos do cidadão chipado, meio nos moldes do livro 1984, de George Orwell, aquele do Grande Irmão.

O futuro está aí. O importante é que as pessoas possam fazer a escolha se querem ou não ser chipadas, e, principalmente, sabendo do que se trata.

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.