“Autógrafos da era digital”

Por: Raphael Rocha Lopes

01/06/2021 - 09:06 - Atualizada em: 02/06/2021 - 10:38

“♫ She came in through the bathroom window/ Protected by a silver spoon” (She came in through the bathroom window, The Beatles).

Fãs são fãs. Há inúmeras histórias de fãs que, para tentar qualquer coisa com seus ídolos, invadem casas, carros, shows, camarins, hotéis. Gente disfarçada de funcionário, escondida atrás das cortinas ou dentro de armários. Normalmente são garotas histéricas – daquelas histerias próprias da adolescência – atrás de seus cantores de rock ou de música pop.

Há muitas histórias divertidas contadas pelos ídolos. Algumas viram música, como é o caso da utilizada hoje no texto, que, segundo a lenda, Paul McCartney encontrou, em sua casa, uma garota que entrou pela janela do banheiro com uma colher prateada…

Mas, normalmente, os fãs são mais comedidos, querem apenas um autógrafo e o pedem em ambientes públicos em encontros ocasionais. Ou, pelo menos, este era o enredo até alguns poucos anos.

Mudança de hábito

As fãs continuam histéricas. Isso a tecnologia não mudou e provavelmente nunca mudará. Agora, porém, dificilmente alguém pede autógrafo. Todos querem selfies, aquelas fotos de si próprios tiradas de smartphones, ao lado dos seus ídolos. Autógrafos estão virando raridades.

Na linha das mudanças determinadas pela popularização dos smartphones também tem as luzes destes aparelhos nos shows e eventos esportivos (no período pré-pandêmico), que substituíram os isqueiros naqueles que ocorriam à noite.

O lado duvidoso é o exagero de pessoas filmando os shows e espetáculos em vez de prestarem atenção e curtirem o momento. Já há bandas de rock que proíbem a presença dos celulares nos seus shows objetivando que seu público curta de verdade o momento, à moda antiga.

Também há o risco da manipulação destas fotos, para a produção de fake news ou deep fakes, mas esse assunto fica para outra coluna.

As selfies suicidas

Outro fenômeno que vem ocorrendo com o advento maciço dos smartphones e, consequentemente, da onda de selfies, são os acidentes fatais nos momentos das tentativas de fotografias inusitadas.

Estes episódios letais estão aumentando a cada ano. Estudos apontam que até 2018 cerca de 260 pessoas tinham morrido tirando selfies. Esse número pulou para 330 no início desse ano. Pelos dados levantados, a Índia lidera o ranking (176 mortes), seguida pelos EUA (26) e Rússia (19). Há que se considerar que muitas pessoas devem morrer tirando as fotos sem que entrem nas estatísticas.

Quedas de penhascos, eletrocussões, afogamentos, acidentes com bicicletas e em trilhos de trem ou em trens estão as causas mais comuns. Também há registros de acidentes fatais no Brasil. Normalmente são jovens as vítimas.

Então, da próxima vez que for tirar uma selfie, certifique-se que não está correndo nenhum risco.