Assassinos

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Por: Raphael Rocha Lopes

21/09/2022 - 05:09

“♫ You start a conversation you can’t even finish it/ You’re talkin’ a lot, but you’re not sayin’ anything/ When I have nothing to say, my lips are sealed/ Say something once, why say it again?/ Psycho killer, qu’est-ce que c’est” (Psycho killer, Talking Heads).

Assassino, segundo o dicionário, é aquele que mata outra pessoa, quem tira a vida de outro ser humano. Figurativamente, é quem aniquila alguém, sem matá-la fisicamente, quem destrói ou arruína alguém ou algo. Em inglês, killer, murderer, assassin.

Do inglês vem, também, outra expressão muito utilizada em quase todos os lugares do mundo virtual: hater. Ou, se quiser em português, odiador. E o hater é um assassino, aquele do significado metafórico, embora, infelizmente, algumas vezes a morte, sem alegorias interpretativas, seja a consequência maior.

Os haters

Os haters têm se proliferado igual erva daninha, e são, em regra, mais danosos. Os haters odeiam, muitas vezes, pelo simples prazer de odiar. Outras vezes apenas por discordarem de algum pensamento exposto na mídia ou nas redes sociais. Os haters parecem ser seus fins em si mesmos.

E estaria tudo bem se os haters ficassem enclausurados em seus ódios, frustrações e mágoas próprios dentro de suas redomas. Mas não ficam. E seu veneno, seu ódio destilado, também mata.

Os assassinatos de reputação e de honra têm se tornado cada vez mais comuns. O diálogo e a discussão de tese e antítese estão perdendo espaço diariamente para os achincalhes, os disparates, as agressões verbais e as rasas argumentações baseadas em achismos.

Mais do que isso, os haters utilizam-se de subterfúgios como mentiras, descontextualizações, acusações infundadas, montagens de fotos e vídeos para hostilizar e agregar novos companheiros em suas cruzadas contra sabe-se-lá-o-quê e a favor de suas autoafirmações. Machos-alfa querendo mostrar para o mundo que suas mentiras e obsessões valem mais do que qualquer prova histórica ou dado científico.

Os desistentes

Do outro lado, pessoas com um pouco mais de bom-senso, com base argumentativa e sem políticos de estimação, começaram a desistir destes embates que não levam a lugar nenhum porque o interlocutor não aceita ponto de vista ou perspectiva que não sejam os seus.

Estes desistentes estão tentando preservar sua saúde mental e física, recolhendo-se do cenário cujos principais pilares são: “eu acho que é assim e pronto”, “você não sabe de nada” e “eu vi no WhatsApp ou no Telegram”. Além dos aplicativos de comunicação, as redes sociais e a internet como um todo viraram uma arena de quem consegue mais seguidores para validar suas teorias, por mais bizarras que sejam, como se número de seguidores fosse lastro para qualquer coisa.

Esquecem, muitos, que estão vivendo em bolhas virtuais que nada mais são do que as confirmações de seus próprios pensamentos. E isto acontece porque os algoritmos são mais inteligentes que as pessoas e as mantêm presas nessas bolhas para que continuem lendo ou vendo só o que gostam e permaneçam o maior tempo possível conectados (consumindo e dando seus dados sem saber).

Que as pessoas voltem a discutir como gente educada, respeitando a visão alheia, com argumentos e dados. Que as pessoas percebam que estão sendo embolhadas na internet e que podem, se quiserem, evitar isso, diversificando sua navegação na internet. Que as pessoas reconheçam que democracia se faz com divergência de opiniões, argumentos múltiplos, respeito, liberdade e dignidade. Que não sejam vaidosas e cegas como o assassino psicopata da música.