“As lições das perreyas e as startups”

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Por: Raphael Rocha Lopes

25/01/2022 - 12:01 - Atualizada em: 25/01/2022 - 12:54

“♫ There’s a man who leads a life of danger/ To everyone he meets he stays a stranger/ With every move he makes another chance he takes/ Odds are he won’t live to see tomorrow” (Secret Agent Man, Johnny Rivers).

Algum tempo atrás encontrei rastejando, na frente da garagem da minha casa, um aglomerado de bichinhos estranhos, uns sobre os outros, feios, quase nojentos. Procurei, então, no Oráculo o que poderia ser aquilo e, sem muita dificuldade, descobri que eram perreyias.

Segundo o Wikipedia, com base em literatura técnica, “Perreyia é um gênero de insetos da ordem Hymenoptera, que ocorre em partes da América do Sul. As larvas são negras, similares a lagartas; (…) alimentam-se da folhagem baixa (…) caminham no solo, aglomeradas e em grandes grupos, com a finalidade de ganhar uma forma estranha para afastar predadores, e tentar preservar um grande número de sua espécie devido sua mortalidade dentre o período migratório (…). O nome popular da larva em português é mata-porcos, pois é tóxica para o gado. Porcos ou bovinos que ingerirem larvas apresentam mudanças de comportamento, e morrem menos de dois dias depois dos primeiros sintomas”.

Eu filmei aquela densidade ambulante e postei no meu perfil do Instagram à época. Vou ressuscitar a postagem no dia da publicação desse texto.

As perreyas e as startups.

Quando descobri o modus operandi das perreyias, veio-me à cabeça uma relação com as startups. Há alguns pontos que, indiscutivelmente, remete à luta pela sobrevivência destes empreendedores inovadores.

Raríssimas são as startups que nascem, se organizam, sobrevivem, crescem e ganham corpo apenas com um idealizador. Normalmente se vê, quando se trata desse tipo de iniciativa, um grupo de pessoas, cada uma com suas competências, unindo forças para o mesmo objetivo.

Assim, unidas, elas formam um grupo que, em tese, transmite mais força e tamanho e, de certa forma, espantam os predadores mais ávidos e aproveitadores. No caso da união das startups, não se trata apenas de força e tamanho; a sinergia daquele grupo de pessoas pode proporcionar troca de experiências e equilíbrio entre os sócios mais afoitos e os muito conservadores.

Esta discussão interna, aliada a boas orientações jurídica, financeira e administrativa, contribuirá, sem a menor sombra de dúvidas, para as conversações com expoentes do seu segmento, seja para parcerias, seja para aquisições ou fusões, sem que sejam engolidos por predadores.

As vespas.

Por outro lado, muitas das pequenas startups causam certos temores em alguns grandes negócios. Empresas maiores que não se atualizam mercadologicamente, que não entendem os rumos da inovação em seus negócios, podem estar para as startups, assim como os suínos e bovinos para as perreyias.

Exemplos não faltam: taxistas e empresas de ônibus foram diretamente afetadas pelo Uber e seus similares, hotéis pelo AirBnB, o mercado da música pelos streamings especializados, os grandes bancos pelas fintechs. E tenho certeza que o leitor poderia contribuir com muitos outros exemplos.

Algumas espécies de perreyas, se sobreviverem aos percalços e predadores da sua jornada, transformam-se em um tipo de vespa pouco visto. Até nisso me lembrou os unicórnios.