“Alice, os sem senso e as crianças”

Por: Raphael Rocha Lopes

18/01/2022 - 12:01 - Atualizada em: 18/01/2022 - 13:04

“♫ Tantos sonhos morrem em poucas palavras /Um bilhete curto… já não há nada/ Alice, não se esqueça do nosso amor/ Será que eu tenho sempre que te lembrar/ Todo dia, toda hora?/ Eu te imploro por favor/ Alice, não me escreva aquela carta… de amor” (Alice, Kid Abelha).

Ano passado, muita gente se encantou com a pequena Alice, a bebê prodígio no falar, que ficou conhecida nas redes sociais por dizer palavras incomuns e difíceis para sua idade, com leveza e carisma. No final do ano ela ganhou ainda mais notoriedade ao estrelar com ninguém menos que a veterana Fernanda Montenegro a companha publicitária de um grande banco.

Respeito, esperança, humanidade e amor foram as palavras da conversa trocada com a atriz. Uma bela mensagem.

A falta de bom senso.

Contudo, esse anúncio, como tudo ultimamente que ganha alguma relevância, repercutiu em forma de memes na internet. Memes são imagens ou vídeos de humor ou paródia que circulam na internet. Não necessariamente de bom gosto.

No caso da pequena Alice, muitos memes passaram bastante longe do bom senso, associando sua imagem a drogas, mensagens ofensivas ou palavras de baixo calão. Digitei “bebê Alice meme” no Google e apareceram incríveis 5.460.000 resultados. Quando digitei “Alice Fernanda Montenegro meme” foram 743.000.

A mãe da bebê não gostou e se manifestou publicamente, pedindo bom senso e dizendo o óbvio, que só uma empresa tinha autorização para a utilização da imagem da filha (teve até uma administração municipal usando-a sem autorização para campanha de vacina!). Foi criticada com a justificativa de que ela já expunha a filha em redes sociais (uma com 4 milhões de seguidores e outra com 3 milhões) e, porque autorizou um comercial de banco.

Realmente algumas pessoas perderam o bom senso. O fato da criança (por seus pais) possuir perfis em redes sociais ou figurar em anúncios publicitários em nada autoriza que terceiros se aproveitem de sua imagem, em especial com piadinhas de baixo nível.

As crianças na internet.

Não me parecem razoáveis esses argumentos, em especial aos que criaram memes ofensivos. O bom senso já deveria falar por si, mas ainda há o Estatuto da Criança e do Adolescente que diz, em seu art. 18, que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Para dizer o mínimo, circularam muitas montagens constrangedoras.

De outra via, considerando a falta de bom senso de muitos “imbecis a quem as redes sociais deram voz” (palavras do saudoso filósofo Umberto Eco, não minhas), este episódio serve de alerta para os pais em relação a seus filhos na internet.

Infelizmente, é impossível controlar como as coisas acontecerão depois que as fotos e vídeos são publicados. Ainda estamos aprendendo a viver nesses novos tempos tecnológicos e ter consciência dos riscos é um passo importante para uma vida mais saudável também neste aspecto.