“A cada cem metros uma lombada”

Por: Raphael Rocha Lopes

04/05/2021 - 10:05 - Atualizada em: 04/05/2021 - 10:59

♫ Ando meio desligado/ Eu nem sinto/ Meus pés no chão/ Olho, e não vejo nada” (Ando meio desligado, Pato Fu)

Semana passada vazou áudio de prefeito da região reclamando do excesso de lombadas e faixas elevadas em rua da cidade que governa. Lembrei de um ditado: “A quantidade de lombadas de uma cidade é inversamente proporcional à educação de seu povo”.

Concordo com o ditado. Ou seja, com o prefeito também, embora discorde da forma como se dirigiu a sua interlocutora.

O fato é que as lombadas e faixas elevadas existem porque os motoristas são contumazes em desrespeitar as leis e os pedestres. Desconfio, até, que lombadas são as jabuticabas do trânsito. Não sei se existem em outros países. Não nesta quantidade que deixou o prefeito nervoso.

Faixas 3D

Como resolver a imprudência e a negligência dos motoristas? É um dilema para qualquer gestor público. Principalmente em tempos de cintos apertados. A solução mais óbvia, parece-me, é educação. Mas leva tempo e depende de vontade política. Ou fiscalização e multas altas. Isso dá choradeira. Há muito tempo digo que crianças se educa pelos livros e adultos pelo bolso.

Então criatividade e tecnologia entram. Além das já conhecidas lombadas eletrônicas – que, pelo menos, não estragam as suspensões dos veículos – há algumas possibilidades interessantes.

Faixa de pedestres 3D é uma. A faixa pintada no chão parece flutuante e chama a atenção dos motoristas, fazendo-os reduzir a velocidade naturalmente. Pelo menos enquanto for novidade.

A faixas 3D já existem no Brasil desde 2017. Cidades do Amazonas, Acre, Mato Grosso e São Paulo já utilizam. Copiaram da China, Índia, EUA e Islândia (país que reduziu em 25% os atropelamentos). #ficaadica.

Do outro lado

Existe, entretanto, o outro lado. O pedestre desatento. Em especial os que não tiram os olhos de seus celulares. Ficam hipnotizados e caminham olhando apenas para seus aparelhos. Essas pessoas já ganharam até nome. São os smombies, os zumbis dos smartphones. É só ficar cinco minutos observando uma região com pedestres que serão encontrados vários. Em cidades da China e da Bélgica há calçadas divididas com vias para smombies e para pessoas que ainda olham por onde andam. Quando mostro as imagens nas minhas palestras todos riem. Parece bizarro, mas é real.

E, para evitar acidentes mais graves, há o exemplo de Bodegraven (Holanda). Em 2017 foram instalados LEDs no chão que variam entre verde e vermelho, alertando os pedestres que andam de cabeça baixa. Alguns projetos mais sofisticados pretendem emitir sinais para os celulares dos pedestres que se aproximam das faixas.

Mas se a administração pública quiser uma solução mais radical (e mais barata) pode adotar a estratégia de Honolulu, Havaí. Lá cruzar uma rua de olho no celular dá multa de US$ 35.

Como se vê, todos somos responsáveis pelo trânsito: motoristas, pedestres e ciclistas. E que tenhamos menos lombadas e faixas elevadas no futuro.