“Tradição”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

17/02/2020 - 09:02

Há muito tempo eu ouvi uma história que seguia assim: a mãe na cozinha ensinava a filha adolescente a fazer o assado de peixe da família, receita que esta mesma aprendeu com a sua mãe, que aprendeu com a mãe dela. “Então pega o peixe, que tem que ser mais ou menos desse tamanho, corta a cabeça e o rabo…”, ao que a filha interrompe: “mãe, por que tem que cortar o rabo e a cabeça?”.

A mãe parou para pensar, mas não conseguiu chegar a uma resposta além de que tinha aprendido assim com a sua mãe. Recorreram, então, à avó para saber o motivo. Ela também não sabia, tinha aprendido assim com a mãe dela. A bisavó já estava bem velhinha, mas respondeu com facilidade a questão: “porque lá em casa a maior travessa não cabia o peixe inteiro, então cortava a cabeça e o rabo para que coubesse!”.

Tradições têm o seu valor. Várias delas carregam alguma sabedoria ou alguma razão para sua existência. Outras não, mas ainda têm algum valor simbólico, que une uma família ou um grupo em seu entorno. Outras ainda não têm mais nenhuma conexão com o nosso dia a dia, e são continuadas por serem tradições em si mesmas, com a justificativa de continuar fazendo porque sempre foi feito assim.

Estas últimas podem ser prejudiciais, como desperdiçar comida, na melhor das hipóteses, ou gerar muito sofrimento, na pior delas.

A única forma de saber separar tradições que têm valor das que não têm é examiná-las. Perguntarmos a nós mesmos por que fazemos o que fazemos. Por que continuamos a fazer o que viemos fazendo?

Em terapia esse é um passo muito importante. É muito comum nos depararmos com uma realidade de que constantemente fazemos coisas que nos fazem mal, ou fazem mal para as pessoas à nossa volta, simplesmente porque nunca paramos para pensar nos motivos das nossas ações.

Aprendemos várias “verdades” sobre nós mesmos, os outros, o mundo, que simplesmente tomamos como verdadeiras porque vieram de pais, mães, avós, tios, professores ou alguma outra pessoa de autoridade quando éramos crianças.

Se nunca questionarmos essas tradições podemos passar muito tempo perdendo oportunidades de ter uma vida mais agradável e verdadeira, e ainda podemos impor o mesmo destino a mais pessoas à nossa volta, tudo sem ter realmente uma razão de ser. Ao não questionarmos as tradições, acabamos fazendo mal porque sempre se fez o mal.

É mais importante saber se estamos fazendo bem ou mal a nós mesmos, bem ou mal ao próximo, do que se os outros acham bonito o que fazemos, e se cabe nas crenças ou tradições que eles têm. Assim vivemos vidas mais autênticas, mais interessantes, somos pessoas mais éticas.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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