“O que é amor romântico?”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

04/06/2019 - 10:06 - Atualizada em: 04/06/2019 - 17:12

Desde antes de resolver estudar psicologia, os relacionamentos amorosos atraíam minha curiosidade. A gente cresce ouvindo falar de amor sem entender muito bem como que isso realmente acontece.

Sabe do amor dos pais, do amor dos avós, do amor dos amigos, do amor pelos animais, até do amor pela natureza, mas pelo jeito que todo mundo fala o amor romântico tem algo de diferente, algo a mais.

Me perguntava, como pode ser? O que é o amor senão se alegrar com a alegria do outro? Querer ver uma pessoa feliz, realizada, que busca seus desejos e os alcança?

Crescendo, se percebe que tem mesmo uma diferença, mas infelizmente o “algo a mais” geralmente é controle.

Explico: quando os pais amam seus filhos, um irmão até pode ter ciúmes do outro, achar que a mãe prefere aquele, o pai prefere aquela, mas quando há amor, há amor. Quando a criança ama seus amigos, não deixa de amar porque os amigos têm amigos também.

É um amor cuja condição não é a felicidade do outro (ou as vezes nem a própria!). Deseja a felicidade do outro apenas enquanto esta serve as minhas expectativas. Se a felicidade do outro não se adequa ao que eu imaginava, frequentemente proibimos essa felicidade.

É um “amor” mais preocupado com si mesmo do que para o outro. É um amor que toma a outra pessoa como um meio para realizar um sonho próprio, do que realmente um cuidado com o outro, um estar com alguém que existe como pessoa completa, com seus próprios desejos, próprias vontades.

Claro que amar tem que ser bom pra nós, mas tem algo errado quando o que é bom pra nós entristece ao outro ou quando a felicidade do outro nos entristece, não tem?

Somos ensinados a pensar assim, a descartar esse outro e focar no papel que esse outro vai representar na nossa vida. Não dizemos “quero alguém que faça assim, que pense “assado”, que queira isso, que faça aquilo”, muito antes de conhecer a pessoa de carne e osso que vai encarnar tudo isso?

Não vemos as meninas e mulheres sonharem com como vai ser a própria festa de casamento, atendendo a todos os seus próprios desejos, muito antes de sequer ter um noivo à vista?

Tudo isso acaba por levar ao controle. O amor é usado como desculpa para forçar a pessoa no papel de ser minha fonte de felicidade exclusiva, e de mais ninguém. O amor é usado como justificativa para afastar o “amado” de todas as outras fontes de felicidade e realização.

Tudo pode virar ameça: os amigos, alguma pessoa da família, o sucesso profissional, a beleza do outro, os colegas de trabalho, o futebol, o café da tarde com as amigas, e por aí vai. Mesmo sabendo que isso tudo traz felicidade, vemos o amor sendo usado para refrear, cortar, monopolizar.

Esse amor romântico, é menos, menor, mais limitado, menos generoso do que todos aqueles outros, e não mais como achava que seria.

Proponho que olhemos de outra forma para o amor, para que esse amor não seja menor. Que priorizemos realmente o que faz quem a gente ama ficar feliz. Entender que a presença dos amados na nossa vida não é obrigação, é presente, é uma escolha diária que nos desperta gratidão e não medo.

E que a visão de alguém amado feliz nos traga alegria, mesmo que seja uma alegria que não possamos dar pessoalmente. Ter a noção de que uma pessoa não depende de nós, mas ainda assim continua a nos escolher é ainda mais valioso do que amor por obrigação, por contrato, por controle.

Pode ser um processo longo, mudar como percebemos a nossa própria noção de amor e felicidade, mas leva a um lugar de maior amor próprio, de maior confiança e estima, de sentimentos mais resistentes, de generosidade ampliada, de construir em conjunto ao invés de usar do outro na nossa própria fantasia, de decidir como viver em vez de tentar encaixar a si mesmo em formatos empurrados que não nos servem.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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