Nas semanas passadas vim falando de como educação sexual pode ser importante para as pessoas enquanto indivíduos, principalmente em relação aos outros, sejam filhos, pais, amigos, como lidamos com a sexualidade dos outros. Hoje vamos falar de como lidar com a sexualidade dos nossos parceiros, e começamos com o público heterossexual, com as diferenças entre homens e mulheres, e dos problemas que surgem disto.
Existem muitos livros e textos que tentam abordar e explicar supostas diferenças de gênero, comportamento, personalidade, alguns baseados em estudos sólidos, a maioria buscando justificativas para estereótipos do dia a dia, mas em sexologia, as pesquisas apontam para dois problemas comuns que vem parar no consultório: a diferença de desejo, e a diferença de orgasmos, e hoje vamos abordar o segundo.
O problema é o seguinte: diversas pesquisas, entrevistando milhares de homens e mulheres demonstram que as mulheres atingem o orgasmo com muito menos frequência nas relações sexuais em comparação com os homens. Certamente orgasmos não representam o todo do prazer, e relações sem eles ainda podem ser muito boas, mas não há dúvida que algo nas relações heterossexuais vem deixando muitas mulheres insatisfeitas.
Vários estudos já demonstraram que mulheres demoram mais para ter orgasmos do que os homens, mas este não parece ser um fator tão relevante neste diferencial: a diferença média de tempo é de apenas 2 minutos, e mulheres que se relacionam com mulheres tem orgasmos praticamente tão frequentes quanto os homens, então algo está errado nas relações de homens com mulheres.
Olhando para as razões disto, percebemos que ensinamos muito pouco sobre prazer. Uma quantidade enorme de pessoas, especialmente mulheres, nunca aprendeu que sexo é para ser prazeroso para todosos envolvidos. Não é sobre uma pessoa dar prazer a outra, é sobre todas terem prazer, e todas saírem satisfeitas.
Em muitas revistas “femininas” existem centenas de dicas para agradar o parceiro, e pouquíssimo sobre o que dizer ao parceiro para sair mais satisfeita. Mulheres que se conhecem e sabem o que querem, e mais que isso, que pedem o que querem, tendem a ter vidas sexuais mais prazerosas. Sexo tem que ser prazeroso para todos, ou tem algo errado.
Nós homens também somos parte do problema (se não a maior parte). Aprendemos roteiros que funcionam para nós, como “preliminares, depois penetração” e que “o sexo termina quando o homem termina”, e com isso limitamos muito as possiblidades de satisfação para as mulheres.
Temos que aprender novas formas de sermos bons amantes. O primeiro roteiro assume que penetração que é o principal do sexo, e em função disto muitas mulheres se culpam por não terem orgasmos somente com penetração.
A verdade é que uma minoria das mulheres sente prazer apenas com a penetração, e maioria precisa de outras formas de estimulação para ter orgasmos, sejam dedos, boca ou brinquedos sexuais. A maioria de nós não quer demonstrar inexperiência, e muitas vezes passamos longe de qualquer novidade que possa entregar que não sabemos de algo na cama, mas aprender coisas novas faz muito bem no longo prazo.
Outra crença que atrapalha é a de que o sexo termina quando o homem termina. Ela se baseia na existência do período refratário, onde o homem perde o interesse sexual após o orgasmo, entrando num período de relaxamento. É um fenômeno real, mas que não nos impede de estimular a parceira de outras formas, ou ainda a abraçar, beijar, enquanto estimulamos que ela faça isto por si mesma.
Mudando nossas crenças, aprendendo novas habilidades, ouvindo nossas parceiras, certamente todos teremos vidas melhores no futuro.