“Dedo Podre”

Por: Francisco Hertel Maiochi

30/06/2020 - 15:06 - Atualizada em: 30/06/2020 - 15:54

Anos atrás tive o privilégio de trabalhar a temática de relacionamentos com algumas turmas de adolescentes. Numa dessas conversas ouvi um garoto expressar um certo desprezo por um grupo de mulheres, que ele se referiu como “Maria gasolina”. Imaginem qual era o plano dele no futuro. Comprar um carrão assim que possível.

Qual a lógica de se esforçar para conquistar alguém que você despreza? Talvez esse garoto crescesse para se tornar um homem que reclama de ter dedo podre. Já vai ter tentado namorar com várias mulheres, mas vai reclamar que são interesseiras, que ficam querendo que pague tudo para elas, que desconfia que não gostam dele, mas do dinheiro dele. Talvez por fim coloque a culpa em todas as mulheres, dizendo aqueles ditados bobos que “quem gosta de homem é gay, mulher gosta de dinheiro” ou algo assim, como forma de justificar o que vê acontecer com a própria vida.

Conseguem apontar o erro?

É alguém que busca atrair pessoas com dinheiro, reclamando que as pessoas se atraem por ele por causa do dinheiro.

As pessoas se atraem ou não pelo que demonstramos, e se demonstramos coisas que atraem pessoas que não estamos gostando, é mais importante olhar para nós mesmos, analisarmos como nos colocamos no mundo, observarmos que filtros temos, como fazemos nossas escolhas. Tudo isso é mais construtivo do que culpar o destino, a sorte, ou todos os outros.

Também é importante continuar observando. Quando nos apaixonamos é comum não perceber bem as características da pessoa, e ver só o que queremos ver. Temos que parar e pensar mais racionalmente, ver se o que a pessoa oferece realmente é o que queremos para um relacionamento.

Outra história: um homem que quando namorava, reclamava que a namorada não deixava que encontrasse seus amigos. E quando estava solteiro, e conhecendo algumas pessoas, acabava topando por namorar com a mulher que mais lhe fazia pressão para ter um relacionamento “sério”, que mais fiscalizava seu comportamento, porque achava que era a que mais gostava dele. Achando que filtrava por amor, acabava por filtrar justo a mais controladora.

Não quero aqui julgar qualquer desejo, nem culpar as pessoas pelos seus relacionamentos ruins. Às vezes encontramos pessoas que nos fazem mal e nos enganam, apesar dos nossos melhores cuidados. Mas quando há um padrão, temos que olhar para nós mesmos. Dizer que quer uma coisa, mas filtrar seus relacionamentos por critérios diferentes, ou não querer ver que nosso parceiro não nos faz sentir bem. Esse conflito interno pode existir por diversas razões, e terapia pode ajudar a descobri-las.

É importante assumir para nós mesmos o que realmente queremos. Às vezes queremos mesmo priorizar um relacionamento com uma boa química sexual, mesmo que tenha mais conflitos. Às vezes o que realmente importa para nós é o humor, mesmo que a aparência nos agrade, e por aí em diante. Pode ser difícil, pode haver algum preço social até, mas no final se torna irrelevante quando desenvolvemos relações realmente boas.

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