“Ciúmes”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

11/08/2020 - 16:08 - Atualizada em: 11/08/2020 - 16:10

Aqui está uma emoção polêmica. Enquanto emoção, o ciúme faz parte de um grupo: alegria, rancor, tristeza, raiva, paixão, inveja, felicidade, contentamento, alívio, entre várias outras. No entanto, o ciúme é tratado de uma maneira diferente.

Uma das melhores definições que ouvi para isso foi que o ciúme é uma “super emoção”. O super poder dele é a sua capacidade de ser problema do outro.

Explico: quando sentimos emoções, elas até podem ser causadas pelo outro, mas não dão direitos. Talvez eu tenha tido raiva do outro. Talvez esteja apaixonado. Feliz por alguém, ou triste por causa de um comentário.

Podemos até esperar alguns comportamentos dos outros, talvez um acolhimento, um pedido de perdão, mas não entendemos essas coisas como direitos. Também não sentimos que por que uma pessoa nos fez sentir qualquer uma dessas coisas, podemos controlar seu comportamento em diversas situações.

Já o ciúme… quando alguém é tomado pelo ciúme, muitas vezes se sente no direito de exigir mudanças grandes de comportamento. Não pode mais falar com pessoa X, não pode mais ter amigos do sexo Y, não pode ir ao lugar W. A pessoa pode demandar acesso irrestrito às comunicações e registros do outro: senhas de redes sociais, acesso ao celular.

E muita gente acha que esses controles vão trazer alguma segurança que impeça o ciúme de se manifestar. Como se o ciúme não fosse uma emoção que eu sinto, mas que é o comportamento do outro que me faz sentir, então é o outro que tem que deixar de fazer tudo o que me faz sentir ciúmes.

Ciúmes é uma emoção. Demandar todas essas coisas tem outro nome: controle. Demandar controle por sentir ciúme pode parecer normal, mas interfere com a autonomia do outro, e gera ressentimento. Uma pessoa se torna fiscal da outra, ao invés de parceira, e essa relação de fiscal-fiscalizado é muito menos propícia a um relacionamento gostoso, construtivo, do que outras.

Ciúmes também é visto frequentemente como prova de amor. Não é. Muita gente sente ciúme de gente que nem quer mais, só não quer que outros tenham, por exemplo.

Ciúme pode surgir num contexto onde existe algum desejo em relação a uma pessoa, especialmente um desejo de posse, de exclusividade, mas ser dono de alguém não é amor, e literalmente define escravidão.

Claro que as pessoas vão dizer que não é isso que querem dizer, não são donas da outra, do seu corpo. Mas querem ser donas emocionalmente, comandar o que e por quem a pessoa sente. Talvez não seja aprisionar o corpo, mas é de alguma forma aprisionar o coração.

Quer dizer que ciúmes é sempre ruim? Não. Ciúme é uma emoção, ela existe, assim como alegria, tristeza, raiva. Tem horas onde sentimos alegria, outras onde sentimos raiva, outras onde sentimos ciúmes, e nada disso é bom ou ruim por si só.

O que sentimos é para nós mesmos. Para os outros, o que importa mais é o que fazemos com os nossos sentimentos. O que fazemos quando temos ciúmes? Demandamos controle? Quem sabe poderíamos conversar mais abertamente sobre as nossas inseguranças ao invés disto?

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos

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