“Resiliência na família empresária”

Por: Emílio Da Silva Neto

10/06/2019 - 11:06 - Atualizada em: 28/09/2019 - 11:50

A resiliência é um conceito que adquiriu grande relevância nos últimos anos, sobretudo, a partir das perspectivas da psicologia positiva, esta que investiga características que permitem que pessoas superem adversidades.

Ser resiliente, do ponto de vista da psicologia, é ser capaz de enfrentar adversidades e sair fortalecido. Mas, não envolve somente eventos traumáticos, como a perda de entes queridos e acidentes, como também, situações complexas, como o enfrentamento de críticas e retorno à alegria após períodos de tristeza.

Pessoas caracterizadas como de grande resiliência são aquelas que têm como arma sua capacidade de se manter à tona, diante das dificuldades, e encaram as dificuldades como aprendizado.

Elas sabem que a imunidade ao sofrimento é impossível e compreendem que as tempestades, que tornam os dias mais obscuros, são, também, oportunidades para se superar. Elas se enchem de valor e continuam, tendo, como mantra, prosseguir para crescer, apesar das adversidades. Tudo, como disse Mahatma Gandhi: “Quando há uma tempestade, os passarinhos se escondem, mas as águias voam mais alto.”

Há pessoas que são resilientes porque tiveram um exemplo de resiliência a seguir, como, por exemplo, seus pais, mas outras aprenderam a lidar e a superar as ‘pedras do caminho’ sozinhas, aprendendo a partir da tentativa e erro, e tornando-se fortes a partir das suas próprias cicatrizes.

Ou seja, a resiliência é uma habilidade que todos podem desenvolver e, portanto, praticar. Para isso, é necessário gerir adequadamente os pensamentos e emoções, canalizando-os através da forma que mais dê controle sobre eles.

Estudos comprovam que crianças que crescem em famílias empresárias, têm a resiliência como indispensável ferramenta para a sua formação rumo a maiores chances de se tornarem adultos de sucesso.

Ou seja, desenvolvendo a capacidade de flexibilidade e adaptação a mudanças, usando-a a seu favor, maior será o preparo de um jovem para uma eventual sucessão empresarial familiar, pois a resiliência é uma característica fundamental a qualquer empreendedor. E neste preparo, torna-se marcante o papel dos pais, como orientadores, facilitadores, mentores.

Estudos identificam três fatores que impulsionam a resiliência em crianças e jovens: a sua própria personalidade, um cuidador de confiança e a sensação de pertencimento a uma comunidade.

Os filhos, comprovadamente, enxergam nos pais um espelho, principalmente nos primeiros anos de vida, e a sensação de confiança e pertencimento faz com eles possam desenvolver a sua personalidade, da melhor forma possível.

E os ‘invencíveis’ (de especial resiliência) são, desde pequenos, ágeis, espertos e encontram, pelo menos, uma pessoa para ser sua ‘âncora’ no meio familiar e subjacente, seja, por exemplo, um dos pais, um avó ou um professor. Com essa pessoa, estabelecem fortes laços de carinho e confiança.

Assim, tal como adotar um estilo de vida empreendedor, a resiliência pode, sim, ser desenvolvida. Pesquisas recentes associam a resiliência com a plasticidade cerebral e a capacidade do cérebro de se adaptar a condições adversas. Por isso, pode-se defender que a resiliência seja vista mais como um processo, do que algo que uma criança ou jovem tem e o outro não.

Segundo BRAGA(1), é possível se tornar um empreendedor, no sentido mais amplo da palavra. Nem todo mundo nasce cheio de ideias e vontade de empreender e fazer diferente, mas, em relação à resiliência, todos e, principalmente, as crianças, podem ser treinadas e adquirir, ao longo da vida, características para melhorar a forma com que lidam tanto com desastres, quanto com estresses do dia a dia e aqueles naturais no empreendedorismo.

Na visão de BRAGA(1), ser empreendedor é muito mais que abrir o próprio negócio. Trata-se de uma atitude, da forma de enxergar e encarar as coisas, uma forma de agir (e reagir), de pensar e de viver. E as pessoas, que absorvem tais características, estarão sempre um passo a frente, tanto na vida pessoal, quanto na profissional.

Enfim, especialmente os pais empresários precisam preparar seus filhos para o mundo e não tentar mudar o mundo para eles, dando a eles a chance de ver o mundo com outros olhos, o da resiliência e do empreendedorismo, que juntos podem ajudar a construir o futuro sonhado pela família empresária.

(1): BRAGA, JOÃO KEPLER. Educando Filhos para empreender. São Paulo: Ser Mais, 2016