“Quietude, nada a ver com imobilismo”

Foto Intrínseca

Por: Emílio Da Silva Neto

10/07/2020 - 04:07

“No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho”. O marcante poema de Carlos Drummond de Andrade leva a uma conclusão simples: a pedra não impediu o poeta de chegar ao fim do caminho.

Da mesma forma, postergando a catástrofe terminal do bíblico “fim dos tempos”(1), o mundo vai conseguir contornar a “pedra” do Covid-19 e seguir em frente, com todos os estragos e necessário tempo para a cicatrização das feridas.

Pessoas nascidas em 1900 e vivas até os 75 anos foram contemporâneas de duas guerras mundiais (com 22 e 75 milhões de mortos, respectivamente), gripe espanhola (50 milhões de vítimas fatais), ‘Grande Depressão’ (com PIB caindo 27% e desemprego atingindo 25%) e, ainda, Guerras da Coreia e Vietnã (com 5 e 4 milhões de mortos, respectivamente).

Apesar de tudo, esta geração é exemplo de legado (obras e ensinamentos) para as seguintes. Nada de novo, conforme antigo provérbio oriental: “Tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis criam homens frágeis, que criam tempos difíceis”.

Pós tempos difíceis, enquanto alguns nunca se recuperam, outros, resilientes, tiram, das adversidades, lições para seguir, mais fortes e em frente, de “cabeças erguidas” a novas incertezas, atestando, enfim, que estresses não de todo mal.

Um “suplemento vitamínico” à resiliência, mormente no trabalho, é a “quietude” (syillness, em inglês), o comando firme do silêncio – exterior e interior – enquanto o mundo gira, com ouvidos apenas ao que precisa ser ouvido.

A quietude, uma das forças mais poderosas da terra, é aquele momento inspirado de paz dentro de si. É a capacidade de dar um passo atrás e refletir.

Quando alguém desenvolve a “quietude”, o mundo pode estar em guerra e completo caos, mas a tranquilidade continua presente. “Tem-se a certeza de que se está em paz consigo mesmo, quando nenhum barulho chega e quando nenhuma palavra sacode, seja ameaçadora ou apenas um som vazio zumbindo ruidosamente(2).”

A quietude é “a chave para se ser melhor em qualquer coisa que se faça/trabalhe”(3). Olhando-se para o budismo, estoicismo, cristianismo, hinduísmo e inúmeras outras escolas e religiões filosóficas, é praticamente impossível encontrar alguém que não venere essa paz interior – essa ‘quietude’ – como bem maior a uma vida próspera e significativa. “E, quando basicamente toda a sabedoria do mundo antigo concorda em algo, apenas um tolo se recusa a ouvir”(3)

A imprensa e as redes sociais, com suas fixações “crise pós crise”, gerando solicitações e obrigações, levam todos à superestimulação e sobrecarga. Como encontrar tempo para, “quietamente”, pensar, fazer um trabalho significativo e relaxar?

A história prova que a quietude faz surgir novas ideias. É com calma que a perspectiva se aguça, ou seja, que “a bola desacelera para que se possa acertá-la”. A quietude permite perseverar rumo ao sucesso no trabalho. Enfim, “a chave para a genialidade, a felicidade e o significado”(3).

Enfim, corpo parado, pode, desde que a mente… no mínimo, esteja em stand by.

Pascal(4), autor da famosa frase “o coração tem razões que a própria razão desconhece”, disse quanto à quietude: “Todos os problemas da humanidade decorrem da incapacidade do homem de sentar-se, silenciosamente, em uma sala, sozinho”.

(1): Bíblia, Atos dos Apóstolos 2:17-21
(2): Seneca, filósofo, escritor e advogado do Império Romano (04 a.C.-65d.C.)
(3): Holiday, Ryan. Stillness is the Key: An Ancient Strategy for Modern Life. Profile Books, 2019
(4): Blaise Pascal, físico, matemático, filósofo e teólofo francês (1623-1662)

Disponível para compra na Grafipel, em Jaraguá do Sul. Também com dedicatória personalizada, diretamente com o autor.

Emílio da Silva Neto

Dr. Eng. Industrial, Consultor/Conselheiro/Palestrante/Professor (*) Sócio da ‘3S Consultoria Empresarial Familiar’ (especializada em Processo Decisório Colegiado, Governança, Sucessão, Compartilhamento do Conhecimento e Constituição de Conselhos Consultivos e de Família). Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento

Curriculum Vitae: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4496236H3
Tese de Doutorado: http://btd.egc.ufsc.br/wp-content/uploads/2016/08/Em%C3%ADlio-da-Silva.pdf
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