A Polícia Civil prendeu um homem de 32 anos suspeito de matar um morador de rua em Jaraguá do Sul.

O primeiro homicídio ocorrido na cidade em 2021 foi registrado na madrugada deste sábado (24), em uma casa abandonada na rua João Jaunário Ayroso, no bairro Jaraguá Esquerdo.

Horas após serem chamados para atender a ocorrência, os policiais civis do plantão de crimes graves conseguiram levantar informações que levaram até a prisão do suposto autor do crime.

Para tentar enganar a investigação, ele foi a pessoa que chamou a Polícia Militar após trocar as roupas sujas de sangue.

 

 

O delegado Diones de Freitas, da DIC (Divisão de Investigação Criminal) de Jaraguá do Sul, afirma que o início da investigação começou ainda durante a madrugada, quando o corpo de Wilson Carlos Ranijac, de 56 anos, encontrado em um barranco nos fundos da residência.

“No início, quando a equipe policial chegou, ele foi tratado como testemunha. Ele quis simular uma situação em que ele teria encontrado a vítima já sem vida e seria a pessoa que pediu ajuda para os vizinhos para chamar a Polícia Militar”, conta.

Ao longo da coleta das informações sobre o crime, os policiais civis perceberam que a versão dada pelo homem apresentava diversas inconsistências.

O horário citado por ele como o do encontro do cadáver ocorreu horas antes do chamado para o número 190, à 1h48.

O suspeito contou que viu a vítima pela última vez às 10h de sexta-feira (23).

Porém, um sobrinho de Wilson passou pelo local.

A testemunha viu o suposto autor e a mulher dele bebendo com a vítima na residência abandonada por volta das 22h30.

Os policiais civis e agentes do IGP (Instituto Geral de Perícias) encontraram um chinelo com marcas de sangue no local da cena do crime.

Foto: Polícia Civil/Divulgação

A hipótese levantada era de que o autor do homicídio fugiu deixando o calçado próximo ao corpo da vítima.

“Os policiais civis observaram que a testemunha estava calçando um chinelo de cor rosa da esposa, inclusive com numeração inferior a do pé. Com as inconsistências, ele passou a ser tratado como suspeito desse crime. Foi feita uma entrevista mais incisiva e os agentes foram até a residência desse casal, que fica a cerca de 200 metros do local onde a vítima foi encontrada”, destaca o delegado.

Roupas sujas de sangue

Ao chegar na casa, os agentes do IGP jogaram reagente e encontraram manchas de sangue no formato de pegadas.

Nas paredes, principalmente no banheiro, também foram encontradas manchas de sangue, provavelmente do momento em que o suspeito tomou banho.

“Havia muito sangue na residência e isso corroborou para a participação do casal no crime. No tanque, havia muitas roupas com sabão e água. Foi colocado o mesmo reagente nas peças e também reagiu. Eles trocaram a roupa ensanguentada e colocaram no tanque justamente para evitar algum comprometimento quanto a autoria delitiva”, destaca.

Foto: Fábio Junkes/OCP News

Com as provas colhidas na residência, o casal foi conduzido para a Central Regional de Plantão Policial de Jaraguá.

Durante o interrogatório, a esposa resolveu contar tudo o que aconteceu.

Ela relatou que não teve participação, mas presenciou o momento em que o marido matou Wilson.

A mulher informou detalhes de como ocorreu o homicídio. Segundo ela, o marido deu socos e chutes na cabeça da vítima.

Depois, pegou uma faca que estava no local e passou no pescoço do morador de rua.

A hemorragia provocada pelo grave ferimento é apontada como causa da morte da vítima.

Motivação do crime

A companheira do suposto autor do crime também contou o que motivou o homicídio.

Ela lembrou que o marido pegou um cartão de ajuda social da vítima para comprar bebida há algumas semanas.

Na ocasião, Wilson acabou falando para a mulher sobre o receio do homem não voltar por causa da demora.

“Acabou que o cartão foi devolvido. A esposa contou para o marido e ficou esse mal-entendido. Ele não engoliu essa história. Na sexta, ele foi com a esposa até o local. Durante o consumo de bebida alcoólica, esse assunto veio à tona novamente. O fato de Wilson sugerir que a esposa mentiu, irritou ele”, frisa Diones.

Na versão da testemunha, o suposto autor teria dado um tapa no rosto no momento em que a vítima estava deitada em um colchão.

Mesmo sem esboçar nenhuma reação, Wilson foi espancado. A mulher disse que o companheiro pegou uma faca que estava no local e cortou a garganta da vítima.

“Ele arrastou a vítima para os fundos da residência e jogou no barranco. A faca usada no crime foi lançada no rio. Eles foram até a residência e é nesse momento que ele tira a roupa suja de sangue. Nos temos imagens que mostram que essa bermuda que estava suja de sangue foi a utilizada quando ele chegava na residência logo após o cometimento do crime”, relata.

Frio e violento

O suspeito é descrito por Diones como frio e violento. O delegado destaca que o suposto autor foi até a residência e ficou por mais de uma hora para tentar encobrir vestígios do delito.

Depois, ele retornou para a cena do crime para, provavelmente, ocultar mais provas e tentar localizar o chinelo perdido.

“Então, ele decide chamar a polícia acreditando que seria o primeiro a ser excluído, mas aconteceu justamente o contrário. O trabalho foi feito de forma técnica e com diversas análises. Ele acabou sendo surpreendido e ficou preso aqui na unidade policial”, revela.

Diones conta que vai pedir para a Justiça a conversão do auto de prisão em flagrante para prisão preventiva.

O inquérito policial vai continuar no sentido de buscar mais provas que apontam a autoria. A expectativa é de que o homem responda ao processo preso pela natureza grave do crime.

“O inquérito tem cerca de 30 dias para ser concluído. Nós vamos pedir o exame de DNA para o IGP, pois há sangue no chinelo, nas vestes. Agora, queremos deixar esse inquérito robusto e fornecer para a Justiça o maior número de provas possíveis para que ele não consiga sair impune da prática desse crime grave”, pondera.

O homem tem passagens por crime patrimoniais. Inclusive, ele ficou preso durante dez meses após uma regressão de regime de uma condenação por roubo.

Ele deve ser indiciado por homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.