Reportagem de Kamila Schneider para o jornal O Correio do Povo.
Dentre as páginas de um caderno, é possível guardar muitas coisas: histórias, lembranças e até ideias de uma noite de sono mal dormida. Não importa se é um rabisco escrito as pressas ou um registro elaborado de um momento marcante – o fato é que cada linha preenchida é um toque da personalidade de quem escreve.
Por isso, quando a designer Bruna de Moraes viu seu caderno de viagens virar uma verdadeira obra de arte nas mãos de uma amiga, foi impossível conter o sorriso. “Ficou incrível”, disse ela, com orgulho. Mesmo que indiretamente, Bruna passou a fazer parte das lembranças vividas pela amiga, já que foram suas mãos habilidosas as responsáveis por cada recorte e cada página daquele caderno.
Desde maio do ano passado, Bruna se dedica à criação de cadernos artesanais para a sua marca, a Caderneto. Aos 27 anos de idade, a jovem empreendedora se mostra uma designer talentosa e uma artesã dedicada, que vê em cada projeto uma oportunidade de experimentar novos caminhos.
A história de Bruna e seus cadernos teve início em 2009, quando ela aprendeu as primeiras técnicas de encadernação básica em um evento de design. “Gostei muito da experiência e comecei a fazer alguns modelos para os amigos. Foram anos me aperfeiçoando para conseguir um bom acabamento. Eu queria acabar com aquela ideia de que produtos artesanais são mais grosseiros”, conta a empreendedora.
Desde o início, a ideia sempre foi apostar em uma marca com design sóbrio e uma pegada natural, que não utilizasse matérias-primas de origem animal, conta Bruna. “Fiz um amplo trabalho de pesquisa para encontrar a estética certa. Eu queria algo que servisse para homens e mulheres. Meu maior investimento foi intelectual”, diz ela. Para isso, a profissional adotou materiais como couro sintético, tecido e papéis especiais como base em suas peças.
Compartilhando conhecimento
Para ampliar a gama de serviços e explorar novas oportunidades, Bruna também tem investido na realização de oficinas sobre encadernação voltadas tanto para artesãos, quanto para pessoas que desejam adentrar este universo. Os cursos acontecem de forma itinerante, em ateliês ou espaços parceiros, e normalmente são realizados a cada dois ou três meses, aos fins de semana.
“Já dei cursos em Joinville e Brusque, por exemplo, e estou programando um para Jaraguá do Sul em março”, revela a designer. Para participar, basta deixar o nome na lista de interessados da Caderneto e aguardar pelos detalhes do curso.
Atêlie aconchegante desperta a criatividade
Na hora de criar, o céu é o limite: ilustrações, fontes e miolos personalizados estão entre os serviços oferecidos pela designer. A produção é feita em um ateliê com jeitinho de casa, aconchegante o suficiente para despertar a criatividade de qualquer visitante. A confecção de um caderno varia de acordo com a peça, podendo levar de 15 minutos à uma hora e meia, no caso de itens mais elaborados.
“Todos os dias tiro um tempo para produzir. Tento otimizar o processo, criando pequenas ‘linhas de produção’ no caso dos pedidos personalizados, mas às vezes o Diego, meu marido, me ajuda com a produção quando a situação aperta”, relata Bruna, que com o apoio do marido – fotógrafo e principal fã da marca – já comercializou mais de 400 cadernos.
A produção é dividida em duas linhas: a autoral, que é comercializada através do site caderneto.com, e a personalizada, que atende principalmente às demandas do mercado coorporativo. “Muitas companhias buscam algo diferente para presentear seus parceiros, seja em uma data comemorativa ou em algum evento.
Percebi que essa era uma carência do mercado, já que nas gráficas é preciso fazer grandes quantidades e isso nem sempre vale a pena”, explica. Hoje, a maior parte do faturamento da empresa é fruto dos trabalhos corporativos.
Independente do projeto, uma das coisas que mais encantam Bruna neste trabalho é perceber o valor que cada caderno tem nas mãos daqueles que os recebem. “A maior parte dos clientes compra para presentear alguém, então é algo que foi pensado com carinho.
São pessoas que valorizam o trabalho artesanal e o produto local, e que buscam refletir sobre o que consomem ou como é feito aquilo que compram”, comenta a empreendedora, que encontra no feedback positivo dos clientes uma motivação a mais para criar. “É algo que eu adoro fazer e, mesmo se eu tiver que trabalhar num domingo, você vai me ver trabalhando feliz”, brinca.
