Clientes fazem novas acusações de golpes em Jaraguá do Sul e advogado se defende

Na sexta-feira (21), o jornal O Correio do Povo publicou uma reportagem a respeito da denúncia do trabalhador Luis Fernando de Souza, de 47 anos, contra o advogado Francisco Carlos de Campos Junior.

O profissional teria se apropriado indevidamente de mais de R$ 41 mil da vítima, após um processo de pagamento retroativo de benefícios da Previdência Social.

No início desta semana, Campos Junior procurou a equipe do OCP para prestar esclarecimentos sobre essa e outras denúncias que surgiram contra ele. O advogado declara que está sendo acusado de algo que não é verdadeiro.

“O senhor que fez a denúncia me deve mais do que apresentou não ter recebido. Prestei outros serviços para ele, tenho documentação sobre a regularização de um carro que eles estão usando”, declara Campos Junior.

Ao ser questionado sobre o motivo para ter sacado o valor ganho pelo cliente no processo e transferido para outra conta, o advogado responde: “aí que tá, é pelos serviços prestados. Se eu pagasse e depositasse o dinheiro na conta dele, ia ver ficar a ver navios”.

Em conversas no WhatsApp com Souza, o advogado dizia que ia pagar o que faltava e fazer depósitos diários R$ 1 mil. “Não fiz o pagamento. Por que ele não tenta falar comigo para fazer certo?”, indaga o advogado.

Cliente tentou marcar reunião

Apesar das declarações do advogado, o trabalhador mostrou conversas onde tenta marcar reuniões com o Campos Júnior. Nenhuma foi respondida.

Nas mensagens, o advogado não comenta sobre os outros serviços prestados e diz que não nega a responsabilidade de entregar o dinheiro ao cliente.

Registro das conversas entre Luis Fernando de Souza e Francisco Carlos de Campos Junior | Foto Reprodução/WhatsApp

Registro das conversas entre Luis Fernando de Souza e Francisco Carlos de Campos Junior | Foto Reprodução/WhatsApp

“Marcar os encontros é uma forma de chamar ele, eu quero que ele venha no escritório”, disse Campos Junior. “Não me apropriei de ninguém, o dinheiro está disponível, é só marcar comigo e pronto”.

Para explicar o caso da regularização do carro, que seria de Souza, o advogado apresentou uma consulta do veículo no site do Detran com diversas multas de trânsito em nome de uma terceira pessoa. No entanto, Souza revela que o processo não está relacionado a ele e foi quitado.

“Ela (proprietária do carro) é conhecida, sogra do meu filho e contratou os serviços do advogado para regularizar o veículo, que tinha algumas multas causadas pelo então companheiro. Foi pago R$ 1 mil por isso na época, mas não tem nada no meu nome que me relacione ao caso”, explica o trabalhador sobre a acusação.

Sobre os oito processos que o advogado é acusado e aparecem ao consultar o site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Campos Junior rebate que nenhum foi julgado ainda e que muitas denúncias não tem fundamento.

Era fiador e não sabia

Após a publicação da matéria, outros moradores de Jaraguá do Sul entraram em contato com a equipe do OCP para relatar casos em que também teriam sido lesados pelo advogado.

Valdir Straub, 56 anos, aposentado, contratou os serviços de Campos Junior em 2015 para resolver uma situação de pensão alimentícia.

Quando o profissional lhe chamou para dar o resultado positivo do processo, também pediu se Straub poderia ser avalista de um contrato de aluguel para ele.

O espaço seria utilizado para montar uma loja de calçados no Centro de Jaraguá. “A gente não consegue dizer não e eu acreditei na palavra do advogado também”, comenta.

Depois, o advogado pediu para Straub assinar outros documentos alegando que a assinatura anterior tinha ficado ilegível. O aposentado rubricou alguns papeis e não viu mais a documentação. “Ele disse que ia entregar, mas não fez isso”, observa.

Recentemente, ele recebeu uma notificação para pagar R$ 120 mil referentes a compra de um imóvel em Joinville.

“O Francisco adquiriu esse espaço para construir uma loja, no total de R$ 400 mil, e já não está pagando algumas parcelas. Eu não sabia que era fiador desse negócio, apenas do aluguel aqui em Jaraguá”, relata Straub.

Aposentado não tem como quitar dívida

Com os próprios bens penhorados na compra, o aposentado não sabe o que fazer para quitar o pagamento.

“Não consigo dormir e nem comer, não tenho dinheiro nem para comprar um óculos novo”, avalia. A aquisição do imóvel em Joinville foi feita no nome da filha do advogado.

O aposentado fez boletim de ocorrência e uma representação na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o advogado. “Fico envergonhado por ter acreditado, mas fui na confiança, a gente tinha uma amizade”, declara Straub.

Em relação a este caso, Francisco Carlos de Campos Junior pergunta: “quem em sã consciência vai assinar um documento de fiador sem ler o que está escrito?”.

Ele ainda relata que as lojas são das filhas e uma é menor de idade. “Por isso os papeis têm meu nome, mas não tenho nada a ver com as lojas, querem me atrelar a isso e não faz sentido”, afirma.

O advogado completa que nunca virou as costas para o aposentado e disse que podia trocar de fiador a hora que ele quisesse.

Outra fonte anônima, que preferiu não se identificar, acusa Campos Junior de ter embolsado o valor dado a ele para consignação em juízo.

“Quando fui fazer uma compra, vi que meu nome estava negativado porque ele não fez o pagamento”, garante.

Mais problemas com negociação

O caso do contador Maicon Sehnem também envolve uma loja. Ele e a esposa eram proprietários de um comércio no Centro de Jaraguá do Sul. Francisco Carlos de Campos Junior comprou o negócio e deu entrada no processo para abrir um novo CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), que no caso, seria em nome da sua filha.

“Como era época de greve dos servidores, demorou uns três meses pro registro ficar pronto. Enquanto isso, ele utilizou o meu CNPJ para fazer compras com fornecedores. Tínhamos um contrato de compra e venda que o responsabilizava por esses gastos, mas ele não pagou e eu fiquei com uma dívida de R$ 240 mil”, conta Sehmem.

O advogado também não teria passado o contrato de aluguel para o nome dele, gerando inúmeros pagamentos atrasados. “Paguei os alugueis atrasados para tirar o nome do meu fiador do Serasa”, diz o contador.

Segundo Sehmem, o advogado dizia que ia pagar o valor mas depois desapareceu. O contador abriu processo contra Campos Junior em fevereiro de 2017 e fez boletim de ocorrência. “Ele não foi em duas audiências de conciliação. Fizemos a publicação de um edital para a filha dele comparecer também”, explica.

O contador ainda lembra que na época da compra da loja, o advogado e a esposa fizeram a negociação com ele, mas dizendo que o nome dos documentos seria no nome da filha porque o casal já tinha outras propriedades e atuações profissionais.

“Não sou obrigado a comparecer nas negociações”

Para explicar sobre a situação de Maicon Sehnem, Francisco Carlos de Campos Junior diz que “quer que o processo ande, mas não é obrigado a comparecer nas audiências de conciliação”.

O advogado ainda reitera que as acusações são falsas e tem como provar que fez os pagamentos das compras feitas com o CNPJ em nome de Sehnem.

O profissional disse que apresentaria comprovantes dos pagamentos que efetuou no caso de Sehnem e documentações que provam que prestou os serviços de regularização de um veículo a Luis Fernando de Souza e não foi pago por isso.

Até o fechamento desta edição (26), os papéis não foram entregues a equipe de reportagem.

Prioridade na OAB

De acordo com a presidente da 23ª Subseção da Ordem do Advogados do Brasil em Santa Catarina, Luciane Mortari Zechini, não foram apresentadas novas representações na OAB desde a reportagem.

Ela garante que tudo que for recebido sobre o caso será encaminhado com prioridade para o Conselho Seccional.

“A OAB não está medindo esforços para fazer apurações e dar uma resposta a sociedade”, declara Luciane.

Ações trabalhistas contra o advogado também estão em trâmite

De acordo com o advogado Fábio Roberto de Oliveira, existem três ações trabalhistas tramitando contra Francisco Carlos de Campos Junior.

“Ele não vai longe com esse histórico de coisas que vem fazendo. É gravíssimo e a OAB precisa priorizar a situação”, avalia Oliveira.

As ações são movidas por funcionárias da loja de calçados aberta pela família em Jaraguá do Sul que teriam sido dispensadas sem receber os direitos trabalhistas.

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