“Certamente não serei um vice decorativo”

Por: OCP News Jaraguá do Sul

19/11/2016 - 04:11 - Atualizada em: 22/11/2016 - 07:48

Atual presidente da Sociedade Cultura Artística (Scar) de Jaraguá do Sul, Udo Wagner (PP), 67 anos, é o próximo vice-prefeito do município, ao lado de Antídio Lunelli (PMDB). O OCP encerra na edição de hoje a série de entrevistas com os representantes que passarão a auxiliar os novos gestores da microrregião a partir de 1º de janeiro.

“Eu nasci em uma família de empresários, na época meu pai tinha armazém de secos e molhados, serraria, açougue, engenho de arroz, de fubá, e eu me formei encostando a barriga no balcão desde os dez anos”, conta Wagner. Atualmente também empresário, o eleito iniciou os estudos em Jaraguá do Sul, indo depois para Blumenau e fazendo faculdade de Administração em Joinville, com cursos de especialização em São Paulo e Rio de Janeiro.

“Eu sempre gostei muito de associativismo, eu penso que onde duas pessoas ou mais se encontram, o clima, o ambiente, se torna ideal para gente fazer mais pelo próximo, discutir, trocar ideias”, comenta Udo, que é envolvido em entidades de classe como a Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs) e a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL).

O eleito destaca seus 14 anos de atuação na Scar, três como vice-presidente de marketing, indo para o décimo ano como presidente voluntário. Foi no Centro Cultural que Wagner recebeu a equipe de reportagem do OCP, na semana passada. Visivelmente feliz e satisfeito pela oportunidade de presidir um dos melhores teatros do país, Udo fala com carinho das suas atividades na entidade, que visita todos os dias. “Estou em um conflito muito grande. Eu tirei 60 dias, na época da campanha, de licença da presidência da Scar e tem muita gente pedindo para eu não deixá-la”, diz Udo.

Com a relação estreita construída dentro do meio cultural, ele avalia a possibilidade de ficar na presidência até maio do ano que vem, quando o conselho da entidade se reúne. “Vou fazer uma avaliação, se eu estiver muito sobrecarregado, a preferência será a Prefeitura, só que a Scar é minha grande paixão”, declara.

Na vida pública, o futuro vice já atuou como secretário adjunto da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Santa Catarina, foi superintendente da Fundação Catarinense de Cultura e durante oito anos, de 1990 a 1998, foi deputado estadual. “Eu tenho experiência de 11 anos no setor público e quis o destino que fosse convidado e convocado pelo meu partido, e por outras pessoas em Jaraguá, para participar da chapa junto com o Antídio”, declara.

ENTREVISTA

Por que decidiu aceitar o convite e voltar para a política?

Por me achar preparado para contribuir com nossa cidade. Eu me sinto preparado tanto por causa da experiência empresarial, líder de classe e como político, achei o que eu poderia contribuir. E foi fundamental o apoio da minha esposa e da minha família. Quando veio o convite eu já estava mais numa zona de conforto na minha vida, e minha família me apoiou, e sem o apoio da família a gente não consegue fazer absolutamente nada.

Como o senhor pretende atuar como vice-prefeito?

Certamente não serei um vice decorativo, serei um vice atuante na proporção do desejo do nosso prefeito Antídio, das tarefas que ele me der, fora as que já me comprometi em campanha. A primeira, de agilizar o sistema de informação na Prefeitura, pois as demandas, os pedidos, os serviços que se desejam atualmente são muito lentos, levando cerca de seis a oito meses, quando não mais. Assim como um banco, que as pessoas se atendem pelo internet, pelo celular, essa tecnologia também tem que ter na Prefeitura. O segundo grande objetivo, eu vou coordenar, será uma comissão que vai enxergar Jaraguá do Sul a longo prazo. O sistema político brasileiro está falido de cima para baixo e 80% das prefeituras hoje não tem nem dinheiro para pagar o decimo terceiro, e Jaraguá também está numa situação muito difícil. Eu não vejo nenhum outro caminho se não dois: contenção de despesas e ir atrás de dinheiro novo. Vem o grande desafio que vou coordenar, elaborar projetos para buscar recursos, porque sem projetos não existe dinheiro. E eu também tenho um dever constitucional que é substituir o prefeito quando do impedimento dele, eu espero que ele nunca precise se afastar.

O senhor falou muito sobre associativismo, que costuma trabalhar dessa forma. Pretende levar essa ideia para a Prefeitura?

Sem dúvida, acho que temos que deixar um legado e eu penso que a Prefeitura, apesar de ter fatores que não existem na iniciativa privada, como estabilidade e outros itens, nós temos que conscientizar também o setor público de que a eficiência tem que se fazer presente no desempenho das suas funções, respeitando a legalidade, a moralidade, isso por meio de treinamento, motivação e dando ferramentas adequadas para que eles possam exercer com dignidade suas funções. Eu tenho visto e ouvido falar que muitos funcionários não tem, por exemplo, na área de computadores algo recente, novo, e isso emperra, atravanca as atividades, e a Prefeitura tem que ser um facilitador para os cidadãos e hoje nem sempre é assim.

Como o senhor imagina que será sua atuação junto com o prefeito, o relacionamento, como será o trabalho em dupla?

Nós nunca trabalhamos juntos antes, mas a ideia é nós trocarmos informações. Eu penso que, como ele é o prefeito, à medida que ele precise da minha opinião ele vai me chamar, vai perguntar o que acho, onde posso contribuir. Eu tenho alguma experiência já, por exemplo, na interlocução junto aos setores públicos, tanto municipais quanto estaduais e federais. Eu conheço 16 deputados federais, os três senadores (de Santa Catarina), ex-governadores, o atual governador do estado, eu conheço o sistema político. Eu penso que esse aspecto deve ser mais por minha conta. E se ele me der também algumas missões especificas, olhar essa ou aquela área, eu também farei. Por isso que não vou ser secretário, porque eu ficaria em uma função apenas, e eu quero ficar mais livre coordenando áreas, cobrando.

Vindo da área da cultura, tendo esse histórico na Scar, o senhor defende que a cultura é importante até nos momentos de crise. Considerando a atual crise financeira, a Prefeitura deve continuar investindo na área?

Eu penso que a prefeitura de Jaraguá tem um bom legado na área da cultura, principalmente nos editais. Para mim o edital é uma distribuição de benefícios democrática, porque as pessoas se inscrevem com sua atividade e tem um conselho que julga quem merece méritos. Depois os selecionados produzem aquilo que se propuseram a fazer. Eu quero abrir um pouco essa pergunta. Eu penso que um edital desse deva existir também para o esporte amador do município. Jaraguá tem muito clube amador, e eles estão penando para pagar juiz, comprar um novo uniforme, enfim. Voltando à cultura, também pretendo propor uma ação para colorir os muros cinzentos de Jaraguá, como fizemos na Scar com o grafite. A ideia seria convidar artistas plásticos, pessoal da Fundação Cultural, estudantes, arquitetos, fazer um mutirão e periodicamente ir avançando e colorindo. Mas, primeiramente, temos que ter conhecimento do orçamento, ajustar o que é necessário, ter pé no chão, devido ao momento econômico atual.