“Saliva, pólvora e internet”

Foto divulgação | Pexels

Por: Raphael Rocha Lopes

25/11/2020 - 14:11 - Atualizada em: 25/11/2020 - 14:45

“♫ Minha mente está tão cheia e estou me transbordando/ Você pensa que sou louco, mas estou só delirando/ Você pensa que sou tolo, mas estou só te olhando” (Núcleo Base, Ira!).

A sabedoria é algo que pode ser nata ou pode ser aprendida. O silêncio, às vezes, é o seu maior sinal. Se um chefe de Estado fala, olhando para seu ministro que cuida das relações com outros povos, que, quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, pode-se questionar se esse chefe de Estado entende de guerra, se conhece de diplomacia ou se sabe em que era vivemos.

Um chefe de Estado deveria primar pela união, por agregar e ter pensamento e discurso de construção, não de destruição. E assusta quando demonstra, numa só frase, desconhecimento triplo. Desconhece o poderio bélico do país que provocou, desconhece a saia justa em que meteu seu ministro dos contatos de fora (cujo silêncio, neste caso, foi tão ruim quanto a manifestação de seu chefe) e desconhece que vivemos na Era da Informação.

Os novos campos de batalhas.

Ainda há, sim, muita gente morrendo em guerras tradicionais. Há, sim, muita violência, muita tortura, muita sanguinolência em batalhas selvagens que não poupam crianças, idosos e mulheres, com decapitações, estupros e todo tipo de barbárie.

Todavia, as novas guerras dos países mais desenvolvidos se fazem cada vez menos com pólvora. As guerras agora são em novos campos, os virtuais, e se fazem com bytes, tecnologia, informação (ou mesmo desinformação).
Os novos ataques vêm por redes com ou sem fio e explodem nas telas com mentiras (as fake news em todas as suas variáveis) e vírus que podem destruir sistemas e computadores ou esvaziar contas bancárias.

Para se ter um exemplo, estudos apontam que as eleições anteriores dos Estados Unidos foram bombardeadas massivamente por fake news que possivelmente interferiram no voto de milhares de pessoas. E o mais assustador é saber que provavelmente a intenção dos mercenários virtuais – ou de seus financiadores – não era favorecer este ou aquele candidato: era jogar uns contra outros e criar o caos. E conseguiram: os eleitores passaram a polarizar politicamente as coisas mais absurdas e desnecessárias. O efeito rompeu fronteiras e atingiu vários países, inclusive o Brasil.

Enquanto as pessoas inocentemente polarizam politicamente tudo, por mais bizarro que seja, muita gente ri do outro lado do mundo.

Guerras cibernéticas.

As guerras cibernéticas já ocorrem há mais de década, mas cada vez com mais intensidade. Países volta e meia se acusam de ciberterrorismo. Não se apontam mais canhões para grandes instalações petrolíferas, empresas de energia elétrica ou bancos. Ataques hackers são mais baratos e, muitas vezes, mais eficientes.

Indiscutivelmente, países com mais dinheiro, mais tecnologia e menos pudores, de todas as colorações imagináveis, podem provocar estragos monumentais com alguns cliques bem articulados.

É um mundo novo, onde saliva vale mais que pólvora, bytes valem mais que pólvora, inteligência vale mais que pólvora.