Diabetes e obesidade em tempos de Covid-19

Por: Elissandro Sutil

10/12/2020 - 07:12 - Atualizada em: 10/12/2020 - 14:46

O Diabetes Mellitus, doença caracterizada pelo aumento da glicemia (açúcar) no sangue, e a obesidade tem apresentado aumento crescente na população mundial devido aos maus hábitos alimentares e sedentarismo.

Ambas as doenças têm sido muito citadas como fatores de risco para complicação em caso de infecção pelo coronavírus (Covid-19) e, de acordo com a endocrinologista, Dra. Angela Beuren, isso realmente deve ser uma preocupação, já que, atualmente, cerca de 10% da população brasileira possui diabetes mellitus e 56% está acima do peso ou com obesidade.

“Muitas vezes as pessoas possuem essas doenças associadas, além de hipertensão e outras comorbidades metabólicas. Essas condições propiciam quadros mais graves de Covid-19, pois colocam o corpo em vulnerabilidade, deixando o organismo mais propenso à inflamação, formação de coágulos e complicações da infecção”, explica a médica.

Ela também ressalta que esses pacientes tendem a baixa imunidade, que está ligada à elevação do açúcar no sangue e não à falta de produção de insulina. Os pacientes diabéticos e obesos podem ter marcadores de inflamação aumentados e, sendo cronicamente “inflamados”, apresentam respostas mais agressivas à infecção.

Segundo a especialista, “diabéticos e obesos têm o mesmo risco de contrair a Covid-19 do que não diabéticos e pessoas magras. Contudo, o risco da doença ser grave é maior nesses indivíduos”.

Isso ocorre porque o sistema imunológico sofre alterações devido aos problemas causados pelo excesso de açúcar no sangue, levando a um aumento exagerado da reatividade do sistema imunológico, aumentando as chances de ocorrerem complicações pulmonares.

Ocorre um estado de hipercoagulabilidade, aumentando ainda mais a possibilidade de tromboembolismos e ainda, há um desequilíbrio metabólico, que reduz a resposta do corpo para combater a doença.

A médica ainda pontua que nos pacientes obesos os quilos de sobra comprometem a capacidade respiratória.

“No abdome mais volumoso, os pulmões acabam comprimidos. Além disso, a gordura na barriga e no tórax dificulta o trabalho do diafragma e de músculos da região peitoral, levando a uma capacidade respiratória deficiente.”

Sintomas e riscos

Os sintomas da Covid-19 são similares aos de não diabéticos, como tosse, dor de garganta, cansaço, dificuldade de respirar, mas a febre, muito comum na maioria das pessoas, pode estar ausente nos diabéticos.

O risco das complicações de Covid-19 é muito menor, e quase igual ao das pessoas sem diabetes, se os níveis de açúcar no sangue estiverem bem controlados. “Por isso a importância de manter o acompanhamento regular com o endocrinologista, para ajuste do tratamento e manutenção do controle glicêmico adequado”, ressalta Dra. Angela.

As pessoas com diabetes vulneráveis, e que provavelmente terão resultados piores se contraírem Covid-19, são aquelas com longa história de diabetes, mau controle metabólico, presença de complicações e doenças concomitantes e especialmente os idosos, independente do tipo de diabetes. O risco de complicações na pessoa com diabetes bem controlado é menor.

Como o controle glicêmico é essencial para enfrentar o Covid-19, monitorar frequentemente a glicemia e ajustar as medicações, de acordo com as orientações do seu endocrinologista, são procedimentos que podem prevenir complicações.

Tratamento

Não há tratamento diferente para o Covid-19 nos pacientes diabéticos ou obesos, porém deve-se lembrar que os quadros infecciosos e o uso de corticoides podem descompensar o diabetes.

Segundo a especialista, no momento da infecção precisa-se de mais energia para combater a doença, assim o corpo reage liberando hormônios que dificultam a ação da insulina e aumentam a produção de açúcar pelo fígado.

“Para quem tem diabetes, essa elevação de hormônios pode levar ao aumento dos níveis de glicose e necessidade de adequação do tratamento do diabetes durante o período da doença e mesmo a necessidade de administração de insulina temporariamente.”

Assim, a monitorização dos níveis de glicose durante o tratamento é necessária e o paciente pode fazer contato com o endocrinologista que acompanha o tratamento para receber as devidas orientações.

Sobre a especialista

A Dra. Angela Beuren (CRM 22889 / RQE 13603) é endocrinologista, formada pela Universidade Federal de Santa Maria, Medicina Interna pelo Hospital Universitário de Santa Maria e Médica Endocrinologista pelo IEDE (Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione) do Rio de Janeiro. Atende na Rua Guilherme Weege, Numero 202, Sala 407, Edifício Accord Center – em cima do Laboratório Fleming. Os contatos são (47) 3054 0514, 99222 3314 ou angela.beuren@gmail.com.