De catástrofe a acidentes: o que causa o Transtorno de Estresse Pós-Trauma?

Por: Elissandro Sutil

17/12/2020 - 07:12 - Atualizada em: 17/12/2020 - 10:59

Existem vários tipos de transtornos de ansiedade, e o de estresse pós traumático (TEPT) é um deles. De acordo com o psiquiatra Dr. Daniel Medeiros, ele se caracteriza, principalmente, por sintomas variados de ansiedade, sendo que os principais são queixas relacionadas ao medo e a ansiedade aguda e grave. Isso ocorre devido a lembranças de fatos em que a pessoa teve uma percepção de risco de vida, seja com ela ou com terceiros.

O especialista explica que o TEPT sempre vai acontecer após a exposição a casos de violência urbana, agressão física, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, sequestro, acidentes, guerra, catástrofes naturais ou provocadas, em que desenvolverão sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais.

“Essa pessoa pode desencadear sintomas de ansiedade e até e pânico em situações em que ela vê movimentação de polícia. Por exemplo: sirenes, giro flex ou qualquer outro fato que lembre o momento do trauma em que ela se sentiu ameaçada. Estas situações fazem ela sentir as mesmas sensações, principalmente de insegurança, angustia etc”, pontua.

Nesses episódios o paciente pode desenvolver até algum ataque de pânico. Entretanto, o psiquiatra pondera que não se pode diagnosticar como uma síndrome do pânico, pois os sintomas são desencadeados pela revivência do trauma.

Tratamento precoce é essencial

Esse é um tipo de transtorno é recorrente e não se alivia sozinho. Dr. Daniel alerta que é preciso de tratamento, pois a gravidade principal nesses casos é que, muitas vezes, pode levar a limitações e invalidez da pessoa.

“Um quadro comum é da pessoa começar a evitar e/ou restringir o tipo de atividade rotineira que lembra o trauma original, ela pode deixar de sair de casa, por exemplo por não se sentir segura”, detalha.

Exemplos de casos

O TEPT é muito comum após grandes catástrofes. Em Jaraguá do Sul o episódio das enchentes em que muitas pessoas perderam as casas, familiares e empregos, gerou muitos casos desse transtorno.
Segundo o médico, existem casos de pacientes que ainda hoje, quando começa a chover, desencadeiam sintomas de estresse, não saem de casa e tem medo de qualquer situação que possa gerar uma nova inundação.

“Isso também é chamado de neurose de guerra, casos de pessoas que voltam da guerra e ficam em estado desajustado social. O filme Rambo retrata um pouco disso. Os gatilhos mentais que lembram situações em que os soldados viveram na guerra desencadeiam crises de pânico.”

Além disso, também é comum que as pessoas tenham sonhos e sejam perturbadas corriqueiramente por cenas relacionadas com o conteúdo do trauma original. E segundo ele, ter conhecimento dessa revivescência do trauma é fundamental para o diagnóstico do TEPT.

Assalto em Criciúma e medidas de saúde mental

Tivemos situações em nossa região de catástrofes naturais. Quando ocorreram os deslizamentos de terra houve bastante diagnóstico de TEPT e até hoje essas pessoas ainda sofrem.
Recentemente ocorreu o grande assalto em Criciúma, que gerou a sensação do rompimento da segurança da sociedade, fazendo com que as pessoas se sentissem expostas e de que poderia acontecer algo de ruim com elas.

O especialista enaltece que isso é fundamental para desencadear o quadro de TEPT, e comenta que a Associação Brasileira de Psiquiatria, juntamente com o serviço de saúde mental do município, iniciaram um planejamento para oferecer tratamento preventivo para as pessoas que foram vítimas ou que se sentiram sensibilizadas por aquele fato.

Segundo ele, mesmo que as pessoas não busquem atendimento, está sendo feita uma triagem para buscar cidadãos que tenham se sentido afetados.

“Tudo isso porque se sabe da morbidade desse transtorno, que é limitante e incapacitante, além da dificuldade de cura depois que se torna crônico. É mais fácil tratar quando os sintomas estão em fase de formação, e não concretizados, seja por meio de terapia cognitiva comportamental e terapias de exposição. Nessa fase é possível dessensibilizar e mudar os pensamentos da pessoa acerca daquele acontecimento.”

Para ele é primordial a identificação e estratificação de grupos e para iniciar o tratamento preventivo e precoce dessas pessoas.

Sobre o especialista

O psiquiatra Daniel Bittencourt Medeiros (CRM 13797 e RQE 6814) atende no Centro Executivo Jourdan, no Centro de Jaraguá do Sul. Mais informações pelo telefone (47) 3373-8832.