Saúde do trabalhador está diretamente ligada à maior produtividade na indústria

Por: OCP News Jaraguá do Sul

02/09/2017 - 06:09 - Atualizada em: 03/09/2017 - 14:08

O sucesso dos processos produtivos da indústria catarinense está ligado à situação dos colaboradores dentro dos parques fabris. Percebendo mudanças no cenário trabalhista e uma crescente relação entre a saúde dos trabalhadores e o aumento da produtividade, é cada vez maior o número de empresas que adotam programas específicos voltados ao bem estar, ultrapassando os quesitos previstos em lei.

Sabendo disso, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) tem buscado manter uma agenda junto às empresas associadas para discutir e incentivar ações que supram as demandas e características de cada um dos setores. O conceito central é que investir em promoção da saúde e da qualidade de vida tem sido uma decisão que pode render dividendos para as pessoas, para as empresas e para a sociedade.

Essa é uma crença também do diretor superintendente do Sesi em Santa Catarina, Fabrízio Machado Pereira. Ele defende que as empresas precisam investir mais em projetos de saúde e qualidade de vida para os funcionários, o que tem influência direta na produtividade. A preocupação das indústrias com esses fatores já é sentida pelos trabalhadores. No último levantamento do Índice de Qualidade de Vida (IQV), realizado em 2015, os dados mostravam uma proporção maior, ainda que tímida, de trabalhadores com percepção positiva sobre a qualidade de vida. Calculado com a soma dos itens estilo de vida, perfil do ambiente e condições de trabalho, o índice teve como média 6,36 em 2015, em uma escala de 0 a 10. Em 2012, a média era de 6,32.

Outro estudo, realizado CDC Healthy Scorecard (HSC) em parceria com o Sesi em Santa Catarina, revelou apontamentos sobre as promoções de saúde mais desenvolvidas na indústria. Segundo Pereira, os resultados mostram que quase 24% das ações executadas em saúde têm lacunas e que se tem a oportunidade de trabalhar em 70% mais efetividade nelas. “Há baixa efetividade das ações implementadas pelas empresas em Santa Catarina, por mais que exista um esforço, que tenhamos empresas eficientes. Isso significa que os investimentos ainda não reverteram em melhoria dos índices de afastamento, ainda precisamos evoluir muito mais nisso”, afirma. Para ele, um dos maiores desafios da indústria catarinense é transformar essas ações em hábitos adquiridos que vão afetar na produtividade e qualidade de vida do trabalhador dentro e fora da empresa. “Não adianta ter um mundo controlado dentro da indústria, se não tem estrutura extra muro da empresa. É preciso chegar nos lares, nas famílias. A conscientização de todos os indivíduos é a chave para o equilíbrio no processo. A  saúde é um elemento cada vez mais importante e determinante. Dá para melhorar a condição de nutrição, olhar para fatores psicossociais, questões de combate mais objetivo sobre sedentarismo, obesidade para evitar diabetes e outras doenças”, argumenta.

 

– As doenças mentais são a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil e também em Santa Catarina, atrás apenas dos acidentes de trabalho e de lesões por esforço repetitivo. Estudo do Banco Mundial prevê que, no futuro, esse mal será a principal causa de afastamento do trabalho. Por isso, criar um ambiente mais acolhedor, mesmo que competitivo e com desafios, é importante para as empresas.

 

– Atividade física, alimentação e controle do estresse são os fatores que merecem atenção nos programas de estilos de vida saudáveis. Já na dimensão do ambiente e condições de trabalho, quatro itens merecem atenção: condições de ruído e temperatura, oportunidades de crescimento profissional, remuneração relativa ao trabalho realizado e oportunidades de lazer para o trabalhador e familiares.

 

De acordo com estudo da Gallup, empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos, empresas que investem em saúde têm 48% menos incidentes de segurança e 37% menos ausências no trabalho.

 

-O custo anual da obesidade nos Estados Unidos em função da produtividade para as empresas chega a 153 milhões de dólares, segundo a consultoria Gallup. Na Europa, o valor ronda os 160 bilhões, segundo estudo do Bank of America-Merrill Lynch. O problema não afeta apenas as empresas, mas também o trabalhador, uma vez que as pessoas obesas têm menor probabilidade de serem contratadas e inclusive ganham menos, especialmente no caso das mulheres.

Fabrízio Machado Pereira, superintendente do Sesi de Santa Catarina

 

Profissionais saudáveis são mais

ativos e estratégicos”, diz diretor do Sesi

A indústria catarinense está preocupada com melhorias das condições de trabalho que influenciam na qualidade da vida do colaborador. Conforme o diretor superintendente do Sesi em Santa Catarina, Fabrízio Machado Pereira, essa é uma bandeira defendida pela Fiesc, que tem o Sesi como um braço direto na ligação das empresas com atividades que promovam saúde e bem estar.

Segundo Pereira, está sendo feito um trabalho de conscientização para o uso de práticas que promovam a qualidade de vida, além dos cuidados com a saúde e combate às doenças crônicas. Apesar de ainda ser uma cultura recente, ele diz que iniciativas adotadas em diferentes municípios do Estado já têm mostrado resultados. Para Pereira, é essencial que os líderes tenham convicção que um trabalhador competente e saudável é mais produtivo. Mensurar os resultados das ações praticadas também é essencial. Com isso, é possível perceber no que é necessário investir e como esses projetos refletem na produtividade.

De acordo com estudo do instituto americano de pesquisa Gallup, realizado em 2012 com cerca de 1 milhão e 400 mil trabalhadores de 49 indústrias de 34 países, há um claro vínculo entre investimento em qualidade de vida, competitividade e produtividade. Se comparados, os resultados das 25% de unidades de negócios melhor pontuadas com as 25% com pior resultado, os indicativos mostram que as empresas de sucesso têm 48% menos incidentes de segurança, 37% menos absenteísmo, 41% menos problemas com qualidade na produção (defeitos), 21% maior produtividade, e resultados 10% mais elevados em lealdade do cliente. “As empresas estão tendo um olhar de gestão sistêmica e dando mais ênfase na promoção e prevenção do que no pós, na remediação. Todos ganham: uma empresa mais competitiva, acionistas tendo resultados, trabalhadores com novos hábitos mais saudáveis e satisfeitos. Sem contar que toda a sociedade ganha porque passa a contar com cidadãos mais conscientes e dispostos”, defende.

Abaixo, Fabrízio fala mais sobre o assunto:

OCP – Como observa o avanço dessa questão da qualidade de vida do trabalhador da indústria?

Fabrízio: A qualidade de vida é uma bandeira importante para Fiesc, uma bandeira estratégica junto à educação e que faz parte da agenda da federação. A Fiesc, e o Sesi, responsável por cuidar dessa agenda, estão atuando muito fortemente na busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas também atrelando isso à competitividade. Só na saúde contamos com o atendimento de 420 mil trabalhadores por ano, mais da metade dos trabalhadores da indústria catarinense.

Acreditamos que quanto mais saudáveis, melhor será o desempenho.  Também temos que ter o cuidado com o indivíduo fora do ambiente de trabalho. Parte da baixa condição de saúde e qualidade do trabalhador advém dos hábitos que ele tem fora do ambiente de trabalho. Não adianta ter toda a estrutura dentro da empresa, se em casa ele extrapola.

OCP – O que precisa ser feito para melhorar esse cenário?

F: Temos que começar a pensar nos programas de qualidade de vida aplicados pelas empresas além dos muros dela. Há um movimento para a conscientização do empregador, empregado e da própria Federação para criar condições para que o indivíduo tenha assistência dentro e fora do ambiente de trabalho, isso aumenta a produtividade e saúde desse colaborador. Estamos construindo soluções juntamente com as empresas como forma de monitorar e melhorar continuamente a aplicação de ações em prol da qualidade de vida e saúde.

Se tem uma causa que também precisamos tratar com atenção é o avanço das doenças crônicas que advém, sobretudo, do sedentarismo e da obesidade, assumindo características importantes. Dados do Ministério da Saúde mostram que 52% dos adultos entre 18 a 54 anos têm sobrepeso. Estamos caminhando para sermos um país de doentes crônicos. Isso influencia diretamente a indústria, que vai perdendo produtividade, vai aumentando custos da saúde da empresa e do Estado. Por isso temos que focar energias em promover ações ligadas à saúde, atividades físicas e esportivas. Temos que trabalhar também em várias frentes sócio-emocional, físico, comportamental. Esse conjunto de ações leva a um ganho importante para todos.

Dados do Ministério da Saúde mostram

que 52% dos adultos entre 18 a 54 anos

têm sobrepeso. Estamos caminhando

para sermos um país de doentes crônicos.

OCP – O que a indústria vem fazendo nesse sentido?

F: A indústria está financiando, apoiando e liderando esse movimento em prol da qualidade de vida. A consciência empresarial no Brasil ainda está se desenvolvendo, mas está caminhando. Pode-se ter um bom plano de saúde, mas se não tiver na porta de entrada programas de saúde e bem estar que promovam mudanças de hábitos e façam a diferença na vida da pessoa, não vai adiantar. Então, está sendo feito um esforço casado de prover plano de saúde consistente e saúde complementar com diversos programas.

OCP – Quais os resultados desses investimentos para a empresa e o trabalhador?

F: É sabido que profissionais saudáveis são mais ativos e estratégicos, as empresas que se antenaram com relação a isso de maneira mais ávida estão tendo resultados mais consistentes. Temos multinacionais, dentro e fora do Brasil, onde a implantação de programas voltados à qualidade de vida estão sendo fator determinante para os futuros investimentos. Elas estão utilizando essas métricas para tomadas de decisão. Antes se tomava por custos de energia, competências instaladas nos locais, pela capacidade de retorno sobre investimento e hoje entra também na agenda dos principais executivos a questão “como estamos cuidando das pessoas e qual o custo de efetividade nesse cuidado?”. Todos ganham com isso: uma empresa mais competitiva, acionistas tendo resultados, trabalhadores com novos hábitos mais saudáveis e satisfeitos. Sem falar que todos nós pagamos a conta quando temos uma população de doentes. Investir em qualidade de vida é melhorar todos esses índices.

“Profissionais saudáveis são mais ativos

e estratégicos, as empresas que se antenaram

com relação a isso de maneira mais ávida

estão tendo resultados mais consistentes.”

OCP – Há algum país referência nesse segmento que o Estado se espelha?

F: Temos como referência Singapura. Claro que em dimensões bem menores, mas que, talvez pela escassez de recursos, tem focado muito nas pessoas. A agenda principal do Estado de Singapura é saúde. As agências especializadas atraem investimentos em saúde, tecnologias em saúde, conhecimento em saúde, desenvolvimento em prol da saúde dos indivíduos. É um dos países mais inovadores do mundo. Então, eles aliam esses cuidados à competitividade, algo que estamos perseguindo.

 

Investir em qualidade de vida é evitar doenças

Trabalhador saudável é mais produtivo, criativo e motivado. “Quando não existe qualidade de vida, é provável que o estresse esteja presente. E problemas originados pelo estresse relacionado ao trabalho geram muitos custos para as empresas”, atesta a coach Fabiana Coch (foto). Ela explica que o estresse faz parte do mecanismo de sobrevivência do ser humano sendo uma resposta necessária para que ele possa enfrentar perigos, obstáculos e desafios.

“Porém, é preciso conseguir relaxar, para que possamos recuperar o equilíbrio. Se não houver essa alternância, o estresse se torna crônico, e possivelmente afetará a qualidade de vida, gerando uma série de problemas, inclusive para o empregador. Um profissional doente não produz. Por isso é fundamental medir indicadores de absenteísmo, do turnover, das reclamações e conflitos entre funcionários, queixas de clientes, queda de produtividade e desinteresse do staff. A partir do momento que existem dados para gerar um diagnóstico, é possível pensar em ações que gerem conscientização e melhorem a qualidade de vida dos colaboradores”, afirma.

Fabiana explica também que a ciência do bem-estar vem dominando os investimentos para descobrir o que torna as pessoas mais felizes e produtivas, tudo resultando em qualidade de vida. “Uma das grandes descobertas refere-se ao fato de que somos responsáveis em construir a nossa felicidade através das nossas escolhas. Outra descoberta diz que para o colaborador se sentir mais feliz no trabalho é preciso existir a sensação de que se está crescendo. Não necessariamente subindo de cargo ou salário, e sim, ter a percepção de envolvimento e contribuição em algum projeto”, diz.

Trabalhador deve fazer sua parte em busca de bem estar

Para otimizar o bem-estar, segundo a coach Fabiana Coch, existem seis comportamentos fundamentais que cada um deve adotar: priorizar, organizar, energizar, otimizar, valorizar e realizar. A coach afirma que esses itens aliados a pequenas atitudes diárias ajudam melhorar a qualidade de vida. Veja:

Priorize você. Assuma responsabilidade pela sua saúde e bem-estar. Ninguém e nada são culpados por você deixar a academia, cancelar a aula de inglês, ou esquecer da massagem. Tudo é escolha sua.
Organize o seu tempo, eleja prioridades. Tudo é importante, mas nem tudo é urgente.
Descubra o que te energiza e alimente-se disso. Exemplo: ir à praia aos finais de semana, cultivar espiritualidade, cantar, dançar.
Otimize as suas escolhas. O que você faz que te dá o máximo retorno? Invista sua energia sabiamente.
Valorize o passado e o presente. Pratique a gratidão, ela é remédio para tudo.
Realizar significa entrar em ação: faça o que disse que ia fazer por você.

 

Menegotti oferece programa para

funcionários que querem perder peso

Quando começou no novo emprego, Debora Julia, 42 anos, sabia que iria encarar desafios desconhecidos. Porém, não tinha nem ideia que um deles mudaria sua vida além do dia a dia no trabalho. Quando entrou na Menegotti Malhas, uma empresa com 37 anos e mil funcionários, a recepcionista decidiu cuidar da alimentação motivada pelo cardápio oferecido pelo restaurante da unidade. O depoimento de uma colega de trabalho que emagreceu 20 quilos serviu de inspiração.

Um ano e quatro meses depois, Debora comemora oito quilos a menos na balança e exibe um sorriso de quem conseguiu vencer diversos obstáculos para mudar os hábitos. Impulsionada pelos resultados conquistados, ela pretende ficar ainda mais em dia com a própria saúde, por isso, começou a participar do Grupo de Emagrecimento Saudável, projeto realizado pelo Sesi e que a Menegotti decidiu levar para dentro dos portões da fábrica. A iniciativa atende uma necessidade crescente no mundo atual. Como mostram dados do Ministério da Saúde, mais de 50% dos brasileiros estão com sobrepeso.

Através do programa, de maneira gratuita, a recepcionista e outros 34 funcionários participam semanalmente dos encontros do grupo. O projeto oferece acompanhamento de profissionais da saúde, como nutricionistas, psicólogos e professores de educação física. “Aqui aprendemos que a mudança começa pela cabeça e, como estamos fazendo com colegas de trabalho, um fica pegando no pé do outro”, diz. A mudança alimentar iniciada no trabalho teve reflexos positivos para toda família. “Acabei levando os novos hábitos para minha casa e melhorando a vida de todos”, comemora.

O auxiliar de produção Miguel Rauber, de 32 anos, também participa do projeto e diz que um dos primeiros sintomas observados foi o aumento da disposição no trabalho. As noites mal dormidas e a má alimentação o levaram a procurar por hábitos melhores e foi na empresa que encontrou o apoio necessário. “Acabamos conseguindo ter uma disciplina com esse apoio. Agora me sinto mais disposto, consigo dormir bem e me recuperar para chegar bem aqui no outro dia”, conta.

As atividades do grupo de emagrecimento ganham ênfase com a alimentação balanceada servida no refeitório e outros programas oferecidos pela empresa como a ginástica laboral, ergonomia e atividades que promovam o bem-estar.

De acordo com a psicóloga e responsável pelo RH da empresa, Marcelle Buttchevitz Volpi, esse segmento está na pauta de prioridades da empresa desde a fundação, há 37 anos, mas nos últimos anos ganhou destaque. “Todas as ações visam o resultado do trabalho, mas acima de tudo o ganho para a vida daquela pessoa seja no âmbito da saúde, família, social, entre outros”, afirma.  Basta caminhar pelos setores da Menegotti Malhas, que integra o Grupo AMC Têxtil e detém marcas como Colcci, Fórum e Triton, para perceber a cultura de promoção do bem estar de todos. Em sua maioria, as salas contam com espaços de descanso que levam em conta as características do setor onde estão instaladas. Segundo Marcelle, a empresa procura oferecer espaços que promovam a integração entre os cerca de mil colaboradores e também sirvam para descansar. “É fato que todos passamos muito tempo dentro da empresa, então é preciso promover a integração entre setores e oferecer um espaço aconchegante, afinal de contas, somos uma grande família”, enfatiza. De acordo com ela, um novo espaço está sendo implantado na empresa. Chamado de “Integração entre setores”, contará com uma sala de jogos com pingue e pongue, truco, xadrez, entre outros itens. “Essa atenção especial faz bem para toda a empresa. Temos colaboradores mais dispostos, saudáveis e motivados a encararem os desafios profissionais”, argumenta.

 

Debora, 42 anos, perdeu oito quilos desde que entrou na Malhas Menegotti. A recepcionista conta que quer melhorar ainda mais, por isso, entrou no Grupo de Emagrecimento Saudável oferecido pela empresa em parceria com o Sesi. Os novos hábitos, conta ela, foram adotados pelos familiares | Foto Eduardo Montecino/OCP

 

O auxiliar de produção, Miguel Rauber, de 32 anos, entrou para o grupo de emagrecimento oferecido pela empresa em parceria com o Sesi e ainda garante disposição extra | Foto Eduardo Montecino/OCP

 

Na Lecimar, colaboradores criam

espaços para as horas de descanso e lazer

Ouvir as demandas dos colaboradores para que as soluções sejam pensadas por todos. Essa é uma das medidas adotadas dentro da Lecimar Confecções que, desde a criação do Comitê de Ideias há cerca de três anos, conseguiu promover ações pontuais para suprir as necessidades dos colaboradores e iniciativas que vem melhorando a qualidade de vida no dia a dia do trabalho. A mais recente delas foi a criação do “Espaço de boas”, um local para os funcionários descansarem, conversarem ou apenas ficarem de “pernas para o ar” no horário do intervalo.

O local está sendo bem utilizado pela auxiliar de produção, Marli Floriani. Todos os dias ela aproveita o horário do almoço para descansar, já que quando está trabalhando passa a maior parte do dia de pé. “Agora que temos esse espaço dá para descansar e até relaxar um pouco da correria do trabalho. Só o fato de poder colocar as pernas para cima ajuda a ter mais disposição para o resto do dia”, conta. Com 15 anos de ‘casa’, Marli se sente feliz em saber que todos os colaboradores contribuem para a criação de espaços que promovem mais qualidade na rotina agitada. E foi no novo espaço que ela também acabou criando um novo hábito: o da leitura. “Temos uma biblioteca aqui, então sempre acabo pegando um livro para ler no tempo que estou descansando”, afirma.

Conforme a diretora de marketing da empresa, Joice Marchi, o fato de os colaboradores participarem da criação do espaço já que é fruto de uma ação conjunta – inclusive os livros da biblioteca foram doados por eles – dá o sentimento de pertencimento. “Esse espaço nasceu do Comitê de Ideias, criado especificamente para falar sobre bem estar e promover ações diferenciadas aos colaboradores”, enfatiza. Segundo Joice, o grupo ainda é responsável por organizar passeios e promover ações de acordo com a solicitação dos colaboradores. “O comitê apresenta algumas sugestões que vão desde atividades de lazer a melhorias nos processos da fábrica. As ideias são levadas para a diretoria e a partir disso são feitas as melhorias”, explica.

Para a colaboradora Lídia dos Santos, que há seis anos atua como zeladora na empresa, essa atenção faz diferença no dia a dia no trabalho. “São coisas que fazem todos se sentirem melhor, nos permitem descansar, mostra que existe uma atenção diferenciada para o colaborador”, diz. Ela também acredita que as ações, como o “espaço de boas” aproximam os funcionários. “Não conhecemos todos os setores, tendo um espaço comum, a convivência acaba sendo maior e fazemos mais amizades aqui”, enfatiza ela, que não dispensa uma boa conversa com os colegas de trabalho.

Para a diretora de marketing, Joice Marchi, esses momentos transformam o dia a dia. “Eles trazem um pouco de descontração porque o trabalho aqui acaba sendo muito em cima de metas, exige concentração. São momentos que refrescam e aliviam no dia a dia, deixando o ambiente como um todo mais saudável”, defende. Localizada no bairro João Pessoa, a Lecimar  em 30 anos de história e se destaca como um dos grandes polos têxteis da cidade. Hoje, a empresa conta com 250 colaboradores.

 

Poder relaxar no horário de descanso, colocando as pernas para cima e o papo em dia é, para a zeladora Lídia dos Santos, uma oportunidade de desacelerar e recarregar as energias | Foto Eduardo Montecino/OCP

 

Estudo revela o que torna os

brasileiros mais felizes no trabalho

Engana-se quem pensa que apenas uma boa remuneração é o suficiente para manter uma pessoa feliz e engajada no ambiente de trabalho. Um estudo feito pela Boston Consulting Group, como forma de ajudar com que empresas encontrem maneiras de aumentar a produtividade e manter  quadro de colaboradores, aponta os aspectos que garantem a felicidade dos brasileiros em seus ambiente de trabalho e a remuneração não aparece ente os dez primeiros itens relacionados à felicidade.

O relatório “Understanding Brazil’s Workforce in a Troubled Time” – Entendendo a força de trabalho do Brasil em um momento conturbado, em tradução literal – mostra que os brasileiros se preocupam mais com a experiência do trabalho do que com o salário e benefícios oferecidos pela empresa.  A pesquisa ouviu profissionais de todos os níveis, sendo ao todo entrevistadas 203 mil pessoas em 289 países, destes 11 mil eram brasileiros.

 

Indicadores de felicidade no ambiente de trabalho

1 º Reconhecimento profissional

2º Aprendizado e desenvolvimento de carreira

3º Equilíbrio entre vida pessoal e trabalho

4º Bom relacionamento com superiores

5º Bom relacionamento com colegas

6º Valores da empresa

7º Estabilidade financeira da empresa

8º Oportunidade para liderar e assumir responsabilidade

9º Reputação do empregador

10º Atividade profissional interessante

Fonte: Boston Consulting Group

Infelicidade gera improdutividade

  • No Brasil, 74% das pessoas não estão engajadas no trabalho porque não estão felizes.
  • 87% é o número de pessoas no mundo que não estão engajadas no trabalho.
  • 35% é índice de gestores que estão realmente engajados no trabalho.
  • Há imensos custos sociais e econômicos derivados do absenteísmo.
  • Rotatividade no trabalho e redução na produtividade, depressão e ansiedade são alguns.

Fonte: International Stress Management Association (ISMA))

Infelicidade gera doenças

  • 91% dos profissionais relatam insatisfação.
  • 86% apresentam ansiedade e 81% se sentem angustiados.
  • 59% consomem álcool ou drogas prescritas ou de rua.
  • 89% associam o problema a dores musculares e dor de cabeça.
  • 72% apresentam cansaço.

Fonte: Escola Feliz Vida Livre

 

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  • Segundo pesquisadores da Universidade do Texas, liderados por Leonard L. Berry, programas de promoção da qualidade de vida dos trabalhadores devem ser vistos como ativo estratégico. A equipe identificou seis pilares essenciais de um programa de bem-estar bem-sucedido, sendo eles: envolvimento de lideranças de vários níveis hierárquicos; alinhamento com cultura organizacional e estratégia do negócio; preocupação com o escopo, relevância e qualidade do programa; acesso gratuito, ou de baixo custo, aos serviços oferecidos; parcerias internas e externas e uma comunicação eficiente.

 

  • Já resultados publicados na Harvard Business Review mostram que cada dólar investido em programas estruturados de bem-estar pode gerar uma economia de até 6 dólares nos custos com saúde.