Sapateiro de três gerações, uma profissão que resiste ao tempo

O passatempo do pequeno João Vitor, de seis anos, é matar a curiosidade e conhecer mais sobre o trabalho que o pai, Márcio, aprendeu com o avô, José Ernesto - Fotos: Rafael Verch

Por: OCP News Jaraguá do Sul

19/02/2016 - 04:02 - Atualizada em: 20/02/2016 - 10:01

A profissão que não gostava de exercer quando novo acabou ganhando os dias, a admiração e o coração de Márcio José de Farias. Responsável por dar continuidade ao trabalho iniciado pelo pai, José Ernesto de Farias, há quase 30 anos em Jaraguá do Sul, com a Sapataria Farias, ele se orgulha ao trabalhar com uma profissão que resiste ao tempo, à tecnologia e que leva o nome e está no sangue da família.

Se falasse, a máquina de costura antiga com pedais de ferro, e que está na mão da terceira geração Farias, certamente teria muitas histórias para contar. Foi nela que o avô de Márcio começou os trabalhos como sapateiro em Petrolândia. Entre consertos, linhas e costuras, ele ensinou o ofício aos filhos, que deram continuidade ao trabalho. Quando mudou para Jaraguá do Sul, em 1982, o pai de Márcio, José Ernesto, manteve viva a saga e continuou atuando como sapateiro como queria o patriarca.

Até que quatro anos mais tarde, em 1986, ele abriu o próprio negócio. Localizada na mesma rua desde a abertura, na Walter Marquardt, no bairro Vila Nova, a sapataria fez e faz a história da família Farias em Jaraguá do Sul. Os clientes que eram atendidos por seu José Ernesto seguem fieis e confiando no trabalho executado agora por Márcio, que começou por acaso e acabou criando gosto pela coisa.

Fotos Rafael Verch (3)

“Quando novo não gostava muito de acordar cedo e ajudar meu pai, mas sempre ajudava. Quando fiquei mais velho, estava com vontade de comprar uma casa. Perguntei para meu pai se ele pagaria um salário para eu trabalhar com ele e assim fiquei trabalhando meio período aqui e no outro em uma empresa até que consegui comprar minha casa”, explica.

Com o sonho realizado, Márcio poderia voltar a atuar apenas na fábrica, porém, a demanda de serviços e a paixão que criou pela sapataria não permitiram. Aliás, permitiram, mas que ele deixasse o chão da fábrica para passar os dias entre os calçados. “Comecei a perceber que meu negócio era trabalhar com o público e não ficar em uma empresa fechado. Me sinto feliz e realizado com o caminho que escolhi”, diz. De maneira artesanal, dispensando a ajuda de equipamentos tecnológicos, ele conserta todos os tipos de calçados e faz arrumações em bolsas, coloca zíperes, entre outros pequenos serviços. “Quero continuar nesse ramo, consertando calçados, porque tenho amor a esse trabalho”, enfatiza.

Há dois anos, ele comanda sozinho a Sapataria Farias. O pai, José Ernesto, deixou o trabalho para se dedicar aos cuidados com a esposa. Quando ela faleceu, há cerca de um ano, ele decidiu continuar afastado para cuidar de sua vida e deixar o filho trilhar o caminho dele. Dedica o tempo a suas plantas e criações, mas vez ou outra passa na sapataria para matar a saudade e ajudar o filho. “Meu pai vem aqui, mas sem o compromisso de ter que fazer os trabalhos. Ele apenas ajuda, mas vejo que ele ficou feliz por eu ter seguido sua profissão”, conta.

Para dar conta da demanda de serviços, que aumentou nesse período de crise, Márcio conta com a ajuda da esposa. Todas as tardes, ela vai até a sapataria na companhia do filho mais velho, João Vitor, de seis anos. “Como trabalho sozinho, ela vem para fazer alguns serviços de acabamento. Meu filho, apesar da pouca idade, já mostra interesse e curiosidade pela profissão”, diz orgulhoso. O pequeno João Vitor não esconde a vontade e o gosto pela pintura e, da maneira dele, contribui com os pais. “Na sapataria você tem que gostar do que faz e fazer bem feito. Se ele quiser, vai ser um prazer ensinar tudo que sei”, completa.

E é assim que em algumas tardes as três gerações da família Farias se unem aos sapatos, botas, sapatilhas, tênis, máquinas e linhas para fazer aquilo que sabem de melhor e se orgulham: consertar calçados.