Um projeto de revitalização do bairro Boa Vista, em Jaraguá do Sul, pretende transformar a localidade em uma rota turística com atrativos para moradores e visitantes. Criado por representantes da comunidade local em parceria com a Diretoria de Turismo da Prefeitura, a iniciativa irá traçar metas e apresentar sugestões para a melhoria da infraestrutura no local, além de estimular o resgate histórico e cultural da região. Em longo prazo, a proposta é transformar o Boa Vista em um parque ecológico para preservação das riquezas naturais deste que é um dos bairros mais antigos de Jaraguá do Sul.
Para dar conta da tarefa, foram formadas três comissões. A primeira delas será responsável por elencar ações que ajudem a melhorar o trânsito e a mobilidade de quem trafega pelo local. De acordo com o diretor de Turismo de Jaraguá do Sul, Fenísio Pires Júnior, um dos maiores problemas causados pela expansão turística na região é a insegurança, já que a estrutura do bairro ainda é precária em muitos pontos.
“A ideia é realizar algumas ações para minimizar os riscos de pedestres e motoristas. Entre as sugestões estão a melhoria da sinalização de trânsito, a instalação de faixas de pedestre e pontos de ônibus, áreas de escape para carros, construção de muretas, pavimentações. Algumas delas queremos tratar de forma emergencial para que possam ser concluídas junto com a pavimentação, em um prazo de 120 dias”, explica Pires.
Desde o ano passado, a Diretoria de Turismo tem acompanhado a movimentação no local para embasar as propostas. “Tivemos épocas em que mais de cinco mil pessoas assinaram o livro de presença da igreja Chiesetta Alpina, isso sem contar os visitantes que subiram o morro, mas não passaram por lá”, exemplifica Pires. A estimativa é de que atualmente cerca de mil pessoas visitem o Morro da Boa Vista a cada fim de semana.
Ainda relacionado à mobilidade, uma segunda comissão irá avaliar a possibilidade de instalar uma guarita para controlar o acesso ao Morro da Boa Vista. Conforme o diretor, a limitação física de espaço é o principal motivador para a medida, que ajudaria a organizar a subida e o estacionamento dos carros. “A ideia é que a própria comunidade possa gerir o local, por meio de uma licitação”, complementa. Todas as propostas devem passar pela avaliação da comunidade do bairro na próxima sexta-feira (29), durante assembleia da associação de moradores.
Além disso, existe a vontade de ampliar a pavimentação do acesso ao Morro da Boa Vista para todo o trecho. Até agora, o projeto contemplado inclui somente um dos cinco quilômetros da estrada. Segundo Pires Júnior, o projeto para pavimentação dos outros quatro quilômetros já foi inscrito junto ao Ministério de Turismo e soma cerca de R$ 4 milhões em recursos, sendo uma média de R$ 1 milhão por quilômetro.
Valorização histórica
A terceira e última comissão envolvida com o projeto está responsável pelo resgate histórico e cultural da região, fundada por imigrantes negros no século 19. Segundo a presidente Associação de Moradores do Bairro Boa Vista, Mariana Pires, uma das maiores preocupações dos moradores é fazer com que a história e as tradições da região não se percam. “Queremos enaltecer esta cultura tão vasta. Neste aspecto, queremos trabalhar a valorização da Igreja São Benedito, que poderia se tornar um ponto interessante de manifestações culturais, festas tradicionais e fé”, comenta.
Na manhã de ontem (20), a comissão esteve reunida na igreja para discutir maneiras de envolver os moradores e valorizar o calendário da principal comunidade religiosa do bairro. “O objetivo de tudo isso é fazer com que o turismo traga algo de benéfico para as pessoas daqui, fazer com que esta cultura seja disseminada, valorizada e que as pessoas tenham orgulho de fazer parte desta história”, diz Mariana.
História viva
A história do bairro Boa Vista teve início em 1876 com a vinda de Emílio Carlos Jourdan à Jaraguá do Sul e o estabelecimento de um engenho de açúcar. Segundo o coordenador de patrimônio da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul, Egon Jagnow, juntamente com o engenheiro, se mudou para a a cidade um grupo de imigrantes negros, que começaram a formar comunidades.
Os imigrantes negros decidiram atravessar o rio e se estabelecer no morro onde hoje está localizado o Boa Vista. “Se formou ali uma comunidade, onde eles viveram e sobreviveram. Com o início do processo de industrialização da cidade, estes moradores começaram a trabalhar nas fábricas, se espalhando para outras localidades”, conta Jagnow.
Cerca de 800 metros acima da Igreja de São Sebastião, existia uma capela batizada de Nossa Senhora do Rosário, onde a comunidade se reunia. “Eles tinham uma festa de natal típica, em que eram realizadas novenas nas casas no dia 25 de dezembro e no dia 26 tinha uma grande festa, com comida que os próprios moradores levavam e danças típicas”, relata Jagnow, que integra a comissão de resgate cultural e histórico. Mais para frente, o desejo é resgatar esta festa na comunidade.
Turismo histórico e cultural
A ideia é resgatar e valorizar a história dos fundadores do bairro, assim como as tradições por eles vivenciadas. Tendo como ponto chave a Igreja São Sebastião, o grupo pretende criar um calendário vasto com festas de igreja, apresentações culturais, eventos voltados ao turismo e, é claro, celebrações ecumênicas.
Ecoturismo
A ideia é transformar, em longo prazo, a área do Morro da Boa Vista em um de parque natural, para estimular a preservação e o contato com a natureza, já que a região é rica em belas vistas, cachoeiras e uma flora diversificada. Para garantir que o alto número de visitantes não prejudique as riquezas naturais da região, algumas soluções estão sendo analisadas, como a instalação de uma guarita para controlar o acesso e aspectos a respeito da coleta e remoção de lixo.
Turismo de aventura
Além das belezas naturais, o Morro da Boa Vista é um ótimo destino para quem procura aventura. Conhecido por ser um dos locais mais apreciados da região para a prática de voo livre, parapente e asa delta, a localidade também tem atraído ciclistas e amantes de trilhas ecológicas, especialmente por ficar localizado próximo ao Pico de Jaraguá. Com as medidas, a proposta é oferecer mais segurança e conforto a estes desportistas, com banheiros, guias e estabelecimentos para comercialização de água e comida.
Crescimento econômico
Um dos principais objetivos do projeto é fazer com que o turismo promova o desenvolvimento sustentável do bairro. Para isso, a ideia é envolver ao máximo os moradores e estimular o crescimento do comércio em toda a região. Além de passarem pelo aval da comunidade, a proposta é que as ações sejam acompanhadas e, em alguns casos, geridas por estes moradores.
