O chorume da internet

Foto: Pixabay

Por: Raphael Rocha Lopes

25/04/2023 - 10:04 - Atualizada em: 25/04/2023 - 10:31

 

“♫ Os meus sonhos/ Foram todos vendidos/ Tão barato que eu nem acredito/ Ah, eu nem acredito” (Ideologia, Cazuza e Roberto Frejat)

Sou um entusiasta da inovação, da tecnologia e da internet. Em relação à internet, especificamente, após seu advento e com sua popularização, e com a conexão cada vez maior entre pessoas, empresas e sociedades, abre-se um contínuo filão de oportunidades e acessos a boas informações.

Entretanto, muita gente está alheia ao lado positivo da internet, desatenta ao que consome e compartilha, alimentando, consciente ou inconscientemente, redes nefastas à saúde e segurança de si próprias e de outras pessoas e grupos.

O CONTEÚDO TÓXICO

Apesar, ou por causa delas, da vastidão e da diversidade da internet, as pessoas estão acumulando um conteúdo tóxico em diversos aspectos. Negligência de um lado e intencionalidade de outro, fazem com que os elementos negativos ganhem força e velocidade nas redes sociais e aplicativos de mensagens, especialmente.

Fake news, discursos de ódio (em vários níveis), conteúdos violentos, cyberbullying, cyberstalking, golpes de todos os tipos, com destaque aos com objetivos financeiros, são apenas alguns dos exemplos do que vem correndo diariamente na grande rede. A motivação da produção e do compartilhamento destes conteúdos tóxicos varia caso a caso, mas uma certeza pode se ter: não contribuem em nada para uma sociedade mais justa, serena, verdadeira e pacífica.

Consequentemente, muitas pessoas se sentem – mesmo sem perceber – enredadas pelas informações que recebem, normalmente em grupos relativamente fechados, cujas ideias passam a compactuar sem saber exatamente o porquê. É muito comum ver um comportamento de manada nas bolhas que a internet, por meio de seus algoritmos, vem criando. E as pessoas não procuram criar o hábito de sair das bolhas; sentem-se confortáveis e às vezes até úteis em poder compartilhar antes de todos os seus companheiros de bolha, mesmo sem confirmar se é real ou verdadeiro

A DESINFORMAÇÃO QUE FEDE

A desinformação generalizada que se propaga está atingindo níveis alarmantes, fazendo com que todos desconfiem de toda e qualquer notícia – desde que essa notícia não vá ao encontro do que pensam. Aquelas velhas histórias do político de estimação, das teorias da conspiração que agradam ou do inimigo do meu inimigo é meu amigo.

Associados a esses problemas, a sociedade ainda tem que encarar de maneira responsável as questões que envolvem privacidade e segurança online. Até onde (ou quando) as pessoas estão dispostas a trocar seus dados sem a noção exata do seu valor ou para que serão utilizados é algo que deve ser discutido urgentemente, pois, em algumas searas, também contribuem para a propagação da desinformação e até para a prática de crimes cibernéticos.

O chorume da internet traz consequências graves tanto para o indivíduo, com problemas de saúde física e mental, quanto para a sociedade, por incapacitá-la, paulatinamente, ao convívio harmonioso, ainda que com o debate de ideias divergentes.

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.