O adeus ao industrial Werner Voigt

Fotos: Eduardo Montecino/OCP Online

Por: OCP News Jaraguá do Sul

03/06/2016 - 04:06 - Atualizada em: 03/06/2016 - 08:57

Consternação e lágrimas marcaram o velório e o enterro do industrial Werner Ricardo Voigt – conhecido carinhosamente como Seu Werner – o “W” da WEG – no final da manhã de ontem, e levou centenas de pessoas, entre familiares, amigos, funcionários, empresários e políticos da região ao local. Werner Voigt morreu de causas naturais por volta das 13h de quarta-feira (2), no Hospital São José, onde estava internado desde último sábado, após sofrer acidente vascular cerebral (AVC). A família Voigt, bastante abalada, preferiu não falar com a imprensa.

O eletrotécnico que contribuiu para construir um império e espalhar a marca WEG pelo mundo, ao lado de Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus, e que teve uma vida marcada pela tenacidade, talento e simplicidade, recebeu homenagens emocionadas. A comoção tomou conta não somente dos familiares e pessoas mais próximas, mas também dos colaboradores: do diretor até o operário da fábrica.

A chuvosa noite de outono, que marcou o velório, deu lugar à manhã ensolarada do sepultamento, pouco depois das 11h. Foi o assunto do dia, em todas as rodas. Tanto o velório como o enterro foram celebrados pelo pastor luterano da igreja Apóstolo Pedro, William Bretzke, da paróquia da qual Werner participava ativamente, e onde o grupo de terceira idade leva o nome da mãe do homenageado, Alma Voigt.

Na celebração do velório, o pastor William destacou a humildade e o jeito simples de Werner, que fazia questão de chamar os colaboradores pelo nome. “Foi um dos maiores homens do Brasil e do mundo, e a região está grata à ele”, disse o religioso. Um quarteto de cordas da Sociedade Cultura Artística (Scar) acompanhou a cerimônia, encerrada com o “Toque do Silêncio”, entoado na trombeta. Enquanto era velado, a gaitinha de boca colocada no caixão.

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Um apaixonado pela eletricidade
O presidente do Conselho da WEG S/A., Décio da Silva, filho do também fundador Eggon João da Silva (in memoriam) lembra da genialidade do homem apaixonado pela eletricidade. “Um ponto importante é que o senhor Werner nasceu com a evolução tecnológica no DNA, antes mesmo desse termo ser conhecido no mundo corporativo. Era quase uma missão de vida, fazer equipamentos com menor custo e maior eficiência”, pontua. Décio recorda que, quando a Eletromotores Jaraguá surgiu, na década de 1960, Voigt influenciou para que a ABNT passasse a adotar normas métricas, com motores padronizados, mudando a história da indústria brasileira. “Outro aspecto é o respeito e a quantidade de pessoas agradecidas a ele, pela maneira exemplar com que tratava toda a equipe da WEG, de forma especial e diferenciada. A maioria foi fazer a homenagem pela pessoa do senhor Werner”, observa Silva.

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Lideranças comparecem
Dentre as lideranças que compareceram no velório e no sepultamento, os prefeitos de Jaraguá do Sul, Dieter Janssen; de Guaramirim, Lauro Fröhlich; e Udo Döhller, de Joinville. O senador Paulo Bauer, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Carlos Chiodini; o deputado estadual Vicente Caropreso e diversos empresários também participaram da despedida.

“A perda do senhor Werner é irreparável, pois o que marcou a sua vida foi o empreendedorismo, a simplicidade, a visão social e cultural. Sempre apoiou iniciativas, lutando por uma Jaraguá do Sul e Santa Catarina melhores”, salientou o empresário e presidente da Scar, Udo Wagner.

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O homem que não fazia distinção de classes
“Sou engenheiro-eletricista e ele sempre foi o meu padrinho. Tinha muita habilidade e conhecimento. Na sua simplicidade, ensinava a não desperdiçar e a fazer tudo muito bem feito”, assinalou o diretor presidente executivo da WEG, Harry Schmelzer Jr., emocionado.

O motorista Nilson Borba, 46 anos, que foi funcionário da WEG Motores por seis anos e mora no terreno vizinho ao de Werner Voigt, no Vieiras, tem boas lembranças: “Ele esteve na minha casa há duas semanas para falar do limite do terreno e doou um pedaço da terra para a gente fazer o muro. Foi uma sorte do povo jaraguaense ter esse ícone, que conversava com todo mundo”.

O eletricista autônomo, líder comunitário do Jaraguá 84 e presidente do PROS, Adilson Braun, referenda a imagem que Werner deixou. “Não tem quem não reconheça a história da WEG. Mesmo assim, era simples, andava de moletom e tênis. O senhor Werner é um cara que vai fazer muita falta para Jaraguá do Sul”.

Flores para a despedida
Na entrada da ala luterana do cemitério central, um corredor com dezenas de coroas de flores conduzia ao jazigo dos Voigt. Eram lembranças de prefeituras, empresas, sindicatos, famílias da região, e até de países como Estados Unidos e Canadá.

Durante as homenagens, o prefeito Dieter Janssen conta que começou na WEG com 14 anos, como contínuo, e aos 25 anos saiu como economista. “A WEG me ajudou com metade da faculdade”, enfatiza. “Perdemos uma referência de ser humano, querido e muito parceiro da comunidade”, resume.

“Mais do que parentes, fomos grandes amigos. Era despojado de valores materiais, à frente de seu tempo. Dizia que o motor precisava ser mais eficiente, mais leve e mais barato. Queria que todos tivessem a mesma oportunidade. Essa foi a grande fortuna de valores morais que deixou”, observou o prefeito de Joinville, Udo Döhler.