Morre o expedicionário João Rodolfo Hauck, último pracinha de Corupá

Por: Gabriel Junior

13/12/2017 - 11:12 - Atualizada em: 13/12/2017 - 13:44

Morreu de causas naturais nesta quarta-feira (13), João Rodolfo Hauck, 96 anos, um dos últimos pracinhas da região do Vale do Itapocu. Ele vivia em Corupá e deixa enlutados a mulher, dois filhos, três netos, quatro bisnetos, demais familiares e amigos, além do genro Arno Neuber, vice-prefeito de Corupá. Seu sepultamento será realizado nesta quinta-feira (14), às 9h, saindo cortejo do Centro de Velórios União para o Cemitério Municipal de Corupá. O corpo está sendo preparado e o velório deve começar no início desta tarde.

O secretário-executivo da ANVFEB (Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira), Ivo Kretzker, informa que Hauck era vice-presidente da ANVFEB e não pode participar do almoço no último sábado no encerramento da associação. “A filha dele veio representá-lo, pois ele já estava bem debilitado. Lamento essa cadeia de falecimentos que está acontecendo nos últimos tempos, mas precisamos lembrar que os expedicionários ainda vivos se encaixam em faixa etária acima de 94 de idade”, destacou.

Kretzker recorda que João Rodolfo Hauck embarcou no 4º escalão da Força Expedicionária Brasil (FEB), em 23 de novembro de 1944. “Ele não participou do combate, mas do serviço da intendência, nos ranchos, fazendo o serviço de cozinheiro. Ele era muito estimado na tropa brasileira. Além de também ser brasileiro, sabia fazer muito bem o feijão para eles. Dentro do contexto da FEB, ele passou a ser um herói e continua sendo em nossa memória”, disse.

Com a morte de João, a região conta agora somente com um expedicionário vivo, o veterano Walter Carlos Hertel, 94 anos, de Jaraguá do Sul. “A associação ainda fica com um tesouro vivo, para levarmos avante o símbolo”, finalizou.

Biografia

Hauck mostra o diploma da Medalha de Campanha | Foto Divulgação/OCP

João Rodolfo Hauck, 96 anos, nasceu em Joinville no dia 16 de julho de 1921. Filho de José, nascido em Massaranduba, e a alemã Antônia Hauck. Ele é o terceiro filho do casal, que teve quatro meninos: Martin, Harry, João e Wilhelm. Aos dois anos, mudou-se com a família para Corupá, onde o pai abriu uma ferraria na rua Francisco Mees, comunidade Vila Isabel, ofício que herdou, dedicando também a uma serraria no bairro Ribeirão dos Correias. Estudou até a 3ª série na Escola da Vila Isabel. Durante a adolescência, dos 13 aos 21 anos, ajudou o pai na ferraria e na serraria.

Servir ao Exército e sua participação na guerra

Aos 21 anos, Hauck foi servir ao Exército. Ficou sete meses em Joinville, cinco meses em Blumenau e alguns meses em São Paulo. Depois formou-se Praça na Companhia de Intendência da FEB, no Rio de Janeiro. Em 1944, figurou entre os soldados convocados para participar das Operações de Guerra na Itália. Aproximadamente 956 soldados catarinenses integraram a Companhia da FEB, que lutaram ao lado dos aliados na 2ª Guerra Mundial, entre o dia 6 de setembro de 1944 e 2 de maio de 1945. O município de Corupá contribuiu com 23 homens, dentre eles estava João Rodolfo Hauck.

Na companhia, atuou principalmente como cozinheiro, além de atuar na distribuição de armamento, munição e remédio e material de higiene. Nas últimas semanas conheceu um corupaense, que também havia sido convocado e representava outro município. Eles se emocionaram muito, quando se encontraram tão distante de seu país. “O que mais recordo é o grande frio que passamos, chegando a 15 graus abaixo de zero. Vi muita gente ferida e passando fome”, diz Hauck. A rotina era acordar cedo, por volta das 3 horas da manhã para preparar a sopa de aveia e o café que era servido às 7 horas. Durante o almoço e no jantar era servido feijão. O soldado lembra que muitos italianos vinham pedir comida em sua companhia. Hauck guarda algumas fotos de oficiais, cabos e sargentos que trabalharam junto na cozinha.

Volta a Corupá

Depois de um ano, os soldados voltaram para o Rio de Janeiro, e posteriormente a Corupá. Hauck recebeu do Ministro da Guerra, o diploma e medalha de Campanha por ter integrado a FEB e participado das operações da guerra na Itália, que guarda com carinho. Em Corupá voltou a trabalhar na ferraria e na serraria.

Conheceu a esposa Hildegard Darius em um baile no Salão Weber, atual cancha de bocha Weber, na Vila Isabel. Namoraram por dois anos e casaram no dia 4 de janeiro de 1950. Foram morar próximo a ferraria na Vila Isabel. Tinham roça, gado, plantavam rosas e pés de frutas. Depois de quatro anos, mudaram para o bairro Bomplandt, onde começaram a Floricultura Darius, seguindo o ramo do pai de Hildegard. João também continuou ajudando na ferraria.

Na floricultura o ramo era plantio de mudas de rosas e de frutas como laranja, uva e outros, além do enxerto de mudas e comércio de plantas. Ao longo da vida, João trabalhou na floricultura, auxiliando o filho Roland que assumiu a empresa e expandiu o comércio de plantas ornamentais, exportando para outros estados como Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais. João morava com sua esposa na casa ao lado floricultura, na rua Alberto Darius.  Tiveram dois filhos: Roland e Marcely. Segundo o casal o segredo do sucesso foi sempre trabalhar juntos, sem discussões e brigas.