Uma foto virou assunto em Corupá, no Norte catarinense, durante o fim de semana, e vem provocando curiosidade na população. O registro compartilhado nas redes sociais mostra um casal que mora em um ponto de ônibus na rua Roberto Seidel, no bairro Seminário. No lar improvisado, o clima festivo de fim de ano ganha contornos com os enfeites de Natal colocados no local. Albano Marquardt, Silvete Rossil dos Santos e o cachorro, chamado Menino, há cerca de um mês fizeram do ponto de alvenaria e tijolos à vista seu lar.
Albano relata que convive com Silvete há pelo menos 12 anos. Após uma discussão familiar, os dois acabaram saindo da casa em que moravam em Corupá, mas ele não sabe precisar há quanto tempo. “Mandaram ela embora e eu não iria deixar a minha mulher sozinha na rua. Então, eu disse para a minha mãe que iria atrás dela. Encontrei ela no pesque-pague lá no Ano Bom. Ela sentou na minha garupa e nós fomos para a praça”, conta.
Os dois moraram de forma improvisada no Ginásio Municipal por um tempo. Depois viajaram a pé por outros municípios. Depois de passar por Barra Velha e Joinville, Albano e Silvete retornaram novamente à cidade e voltaram ao ginásio, onde chegaram a ter um quarto. Mas eles acabaram sendo retirados do local.
De acordo com o morador de rua, os objetos utilizados para enfeitar o ponto de ônibus foram doados por um vizinho. “Ele me deu os enfeites de Natal e disse que eu poderia pendurar quando quisesse. Aí, eu peguei os enfeites e coloquei aqui no ponto. Inclusive, ele me ajudou a pregar esse plástico utilizando um grampeador”, revela Albano. O plástico serve de proteção contra a chuva e exibe a mensagem “Feliz Natal” com tinta branca. Pertences como roupas e um colchão ficam guardados no pequeno espaço. Até uma cozinha foi improvisada.

Pertences do casal ocupam espaço no ponto de ônibus que virou moradia improvisada há um mês | Foto Eduardo Montecino/OCP
O cão Menino, grande companheiro dos moradores de rua, foi encontrado em Joinville. “Nós estávamos indo no mercado e encontramos um saco se mexendo e algo uivando. A gente até achou que seria um bebê. Como eu fiquei com medo, eu pedi para ele ir lá e abrir o saco. Quando ele abriu, viu que era um cachorro. Ele veio com a gente até aqui a pé”, afirma Silvete.

Cão Menino é o grande companheiro dos moradores de rua | Foto Eduardo Montecino/OCP
Albano gostaria de sair do local, mas ele não sabe para onde ir, pois não aceita fazer tratamento contra a dependência do álcool. Vizinhos doam alimentos e eles também recebem ajuda da Prefeitura. “A gente vai lá e ganha uma cesta básica. Nós não temos problemas com comida, mas gostaríamos de ganhar calçados”, destaca. Ele trabalhou como marceneiro durante mais de 20 anos e revela que gostaria de ter um emprego para poder pagar um aluguel.
MORADORAS DIZEM NÃO SE IMPORTAR COM OS VIZINHOS
A diarista Natália Radünz, 68 anos, mora a poucos metros do ponto de ônibus onde o casal vive. Há mais de 40 anos na região, ela diz que os moradores das redondezas não gostam da situação. Natália discorda e frisa o fato de não se incomodar com os Albano e Silvete. “Eu não tenho queixa deles. O pessoal reclama muito, mas, por mim, eles podem ficar o tempo que quiserem”, constata, ao ressaltar que a vizinha do lado dá café e comida para os dois.
Nesta segunda-feira (20), a diarista Loni Heinrich, 53 anos, deixou sacolas de lixo e água gelada para o casal, mas também doa alimentos e outros artigos para Albano e Silvete. “Eu ajudo pelo fato de me colocar no lugar deles e me sensibilizo com isso. Eu dou graças que na minha família não tem ninguém assim. Eu acho que não é a situação ideal para os dois. Eu fico bem triste pelos comentários que estão fazendo na internet, os xingamentos. Eu acho uma covardia, porque eles não podem se defender”, contextualiza.
CASAL DEVE SER ALOJADO PELA ASSISTÊNCIA SOCIAL
A chefe da Divisão de Assistência Social, Trabalho e Emprego da Prefeitura de Corupá, Jussara de Carvalho, revela que é proibido o uso do ponto de ônibus como moradia permanente. “Eles até poderiam ficar ali por um tempo, mas estão ocupando aquele local de uso público, guardando seus pertences e impedindo que as pessoas utilizem a estrutura”, dispara, ao reiterar que Albano e Silvete são acompanhados pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do município a cada 15 dias.
“Nós até ofertamos vagas de emprego. Eles aceitam, mas não conseguem ficar mais do que um ou dois dias. Eles também não têm interesse no tratamento. A gente não pode internar os dois compulsoriamente. É uma questão muito delicada, porque ele tem parentes na cidade que tenta entrar em contato, mas ele não aceita por causa da companheira”, afirma. “Nos dias mais frios, a gente recolheu os dois provisoriamente no ginásio”, completa.
Jussara explica que o casal não é abrigado no ginásio por “situações específicas e pontuais”. “Havia problemas de higiene e aquele é um espaço de uso comum. Eles optaram em voltar para a rua, mas estamos adequando um espaço. Por enquanto, eles vão ter um banheiro químico, mas já estamos providenciando um banheiro com chuveiro. Um vigia noturno vai controlar a saída e a entrada deles. Durante o dia, os dois ficam na rua. Durante a noite, eles vão poder ficar no local com cama e um armário para guardar os pertences. Até amanhã (terça),eles já devem estar alojados”, finaliza.