Puma, jaguatirica, tiê-sangue, tamanduá-mirim, jaracuçu, lagarto teiú. Os morros que cercam Jaraguá do Sul, além de serem lindos cenários, são os guardiões de um bioma rico e diverso que preserva centenas de espécies de animais – inclusive algumas ameaçadas de extinção.
De acordo com dados da fundação SOS Mata Atlântica, existem 23,1 mil hectares de floresta preservada no município, o que representa 43,7% do território.
O índice é positivo comparado a realidade nacional: restam apenas 12,5% de Mata Atlântica preservada considerando os 17 estados brasileiros por onde esse bioma se estende.
Existem fatores que colaboram para essa preservação. As leis ambientais mais rígidas e o processo de industrialização do município a partir dos anos 1980 contribuíram para a regeneração de muitas áreas devastadas.
“É um paralelo curioso. As cidades mais industrializadas em Santa Catarina, como Joinville, Jaraguá do Sul e Blumenau, têm um maior nível de preservação”, comenta o presidente da Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama), César Rocha.
Segundo ele, moradores mais antigos relatam que nos anos 60 e 70, os morros da cidade eram “pelados” para criação de gado e monoculturas. “Teve essa industrialização e depois, o trabalho de fiscalização para a proibição de uso desses lugares”, aponta.
Para dar conta de monitorar o potencial poluidor de indústrias, a existência da Fujama, um órgão fiscalizador municipal criado em 2005, também contribuiu no quesito preservação.
Corredores ecológicos
Outro fator que contribui para a ocorrência de uma fauna tão rica em Jaraguá do Sul é o contexto regional. Olhado de cima, é possível ver que o município se interliga com outras regiões muito preservadas.
O biólogo da Fujama, Christian Lempek, cita dois corredores ecológicos importantes: a região do Rio Manso, que se conecta com Campo Alegre, Joinville, na Área de Proteção Ambiental da Dona Francisca; e a região de Jaraguazinho, que tem conexão com Rio dos Cedros.
Essas são as maiores áreas, mas Lempek destaca Garibaldi e Rio Cerro como regiões igualmente bem preservadas.
Distanciamento da natureza
Se o processo de industrialização teve papel na regeneração de áreas de mata usadas para cultivo, em outro ponto, a migração para a cidade afastou as pessoas do meio ambiente. E é esse resgate da natureza humana que vem sendo feito pelos programas educacionais da Fujama.
Uma das frentes é a criação de uma cartilha educacional com as espécies animais que ocorrem na região, que será disponibilizada na internet para a população e usada nas escolas.
O também coordenador do serviço de resgate da Fujama, Christian Lempek, destaca que muitas pessoas têm familiaridade com animais da fauna africana, mas desconhecem os bichos daqui.
A prova: é bem mais fácil imaginar um leão do que um graxaim, ou uma girafa do que um tamanduá-mirim.
Para ele, essa falta de conhecimento acaba distanciando – as pessoas não sentem que pertencem a esse bioma.
Conhecendo melhor a riqueza da Mata Atlântica, Lempek acredita que a população ficam muito mais apta a cuidar e zelar pela natureza.
População ao resgate
Com uma cidade cercada por tanta mata, a ocorrência de animais em residências sempre foi uma realidade. Desde 2017, a Fujama criou um programa que resgatou mais de mil animais selvagens. Só neste ano foram quase 130.
Para Lempek, esse trabalho contribui para que as pessoas entendam a importância ecológica de cada animal, que devolvidos à natureza são fundamentais para a manutenção daquela espécie.
O resgate é feito por solicitação no número de telefone da Fujama (3273-8008), segunda a sexta, das 7h30 às 17 horas; ou por meio de registro na Ouvidoria da Prefeitura (0800-642-0156). Quando a Fundação está fechada, a noite e nos finais de semana, é possível solicitar o resgate aos Bombeiros, no telefone 193.