Jornalista que iniciou carreira em Jaraguá do Sul volta para rever amigos

Foto Eduardo Montecino/OCP

Por: Elissandro Sutil

29/10/2017 - 09:10

 

De férias e passando alguns dias em Jaraguá do Sul, o jornalista Daniel Weterman, 23 anos, que atualmente acompanha a política nacional para o grupo “Estadão”, em São Paulo, aproveita para rever amigos e familiares e compartilhar experiências. Paranaense, nascido no interior, veio para Jaraguá do Sul aos 16 anos, quando passou a atuar extraoficialmente no jornalismo. Passou por rádio e jornais locais, entre os quais “O Correio do Povo”, onde atuou como repórter e editor, enquanto cursava jornalismo no Ielusc, em Joinville.

Sobre o início da carreira, ele conta que sempre gostou de acompanhar notícias, inclusive o horário eleitoral, e que também enfrentou os desafios que qualquer repórter enfrenta. “Comecei muito novo no jornalismo. Sempre brinco que tiveram coragem de me colocar em frente a um microfone com 14 anos de idade, em uma rádio do Paraná. Minha primeira vez pauta em Jaraguá do Sul foi furada, furadíssima, literalmente, porque foi um furo num portão. Era uma pessoa reclamando que o Samae estava fazendo obra em frente à casa dela e uma peça tinha voado e estragado o portão da residência. Fomos apurar e literalmente era um furo, do tamanho da tampa de uma caneta, no portão. Não dava nem para mostrar na foto”, conta, aos risos.

Dessa experiência frustrada até hoje, mudanças significativas ocorreram na vida e na carreira de Daniel, que hoje acompanha o cenário da política nacional e suas constantes mudanças. Na entrevista abaixo, ele conta um pouco mais dessas experiências.

Como foi sua experiência no OCP?

Comecei como repórter de Geral, cobria tudo, buraco de rua, plenária da Acijs, o que recebia como pauta. Aprendi muito nesse período. Na faculdade, passei a me identificar com a economia, a pegar gosto pela área. Com isso, surgiam as ideias de pauta, a curiosidade sobre o setor. Então, aqui no O Correio tive espaço para migrar para esta área, ficar de olho na economia local, empresas e setores. Acabava fazendo muita pauta, justamente por afinidade. Aí no final do período, eu estava terminando a faculdade e a Patricia (Moraes), chefe de redação, me ofereceu a oportunidade de assumir a edição aqui do OCP e eu fiquei uns seis meses no cargo, mais ou menos.

Essa oportunidade de trabalhar na edição foi importante?

Foi um desafio, porque até então eu era repórter e com pouquíssimo tempo de experiência, ainda fazendo a faculdade. Foi um desafio que me motivou a trabalhar melhor o texto, a prestar mais atenção nas pautas. Porque aí não é só pensar nas suas pautas, você tem que pensar nas pautas do jornal, pensar no dia a dia, eleger as mais importantes, pensar na foto, no texto, em como vai ser o jornal de fim de semana, que é um jornal que traz um destaque maior para a reportagem especial. Então, foi muito bom para colocar em prática aquilo que eu tinha aprendido como repórter.

E a ideia de fazer o curso em São Paulo?

No começo do ano passado, eu estava quase me formando, em Joinville, quando abriu inscrição para o Curso de Focas da Economia no Estadão. É direcionado para quem está saindo da faculdade. Eu já tinha ouvido falar do curso e obviamente me despertou o interesse, mas eu me via um pouco incapacitado de ir e de ser selecionado, porque todo o ano tem de 1;500 a 2;000 candidatos para 25 vagas. Então, eu falava, poxa, eu não estudo numa faculdade conhecida, não estou numa cidade grande, estou disputando com gente que é de São Paulo, não tenho nenhuma experiência no exterior, estou disputando com gente que tem intercâmbio. Mas tenho experiência em redação, então, pensei, eu sou repórter e quero ser repórter, acho que consigo mostrar isso. Eu me surpreendi quando fui selecionado para a segunda fase – dos 1;500 candidatos, 60 foram chamados. Foi uma satisfação muito grande, deu aquela sensação de que não sou qualquer coisa. Não esperava isso mesmo, não tinha programado viagem nem mudança, estava fazendo a monografia, no meio do meu último semestre e fui um dos 25 selecionados. O curso começou em duas semanas, período que tive para pegar as malas e ir para São Paulo ficar três meses lá (abril, maio e junho de 2016). Consegui uma licença aqui no “O Correio do Povo”. Fiquei três meses lá no curso de Economia, que é um curso em parceria da FGV e do Estadão.

Qual foi seu desempenho no curso?

A avaliação do curso tem base nos exercícios que a gente faz, nas aulas, na prova de economia da FGV, nas entrevistas que a gente entrega e com base na experiência na redação, nas editorias que a gente passa, que são as ligadas à economia e à política, assuntos mais relacionados com o curso. Eventualmente, após o curso, dependendo do desempenho e dependendo das vagas na redação, você pode ter uma oportunidade no próprio veículo, no Estadão. Acabei ficando em primeiro lugar no ranking entre os 25, tive o melhor desempenho, e logo que acabou o curso me chamaram. Fui contratado em agosto do ano passado.

Na área de política, o que você acompanha?

Eu acompanho a política nacional. Trabalho para um serviço de tempo real do Estadão, que é o broadcasting, serviço voltado majoritariamente para o mercado financeiro, mas também para outros públicos, que cobre assuntos econômicos, macroeconômicos, negócios, agronegócio e política em tempo real. A cobertura é em tempo real. O meu foco está nesse cenário de Brasília, presidência, Congresso, mas eu estou em São Paulo, então é fazer essa ponte Brasília-São Paulo. Em São Paulo é onde está a direção dos principais partidos políticos e onde estão os atores importantes para a política nacional também.

Como você vê o cenário atual?

Eu não posso revelar a minha opinião, mas, para o jornalista de política em São Paulo é um cenário extremamente desafiador e extremamente promissor para a profissão, porque você é surpreendido por assuntos novos todo o dia. Então, o cenário hoje traz o presidente acusado de corrupção, um Congresso tentando alinhar essa pauta com as eleições do ano que vem e algumas investigações na justiça que estão se misturando com a política e até uma disputa de poderes, entre Judiciário e Legislativo. É uma convulsão política. A economia já se descolou um pouco disso. A economia esteve muito mais conectada com a política na época do impeachment, e agora está um pouco mais distanciada, andando com as próprias pernas.  Mas, por outro lado, o Judiciário e a política estão misturados. O Judiciário fazendo política, os agentes políticos de olho no Judiciário, praticamente todas as medidas que são aprovadas no Congresso, todas as decisões de governo são objetos de ações no Judiciário, a última, por exemplo, agora, do trabalho escravo, a portaria que foi suspensa pelo STF. E aí ser repórter com todo esse cenário é desafiador.

O que você pode nos falar a respeito do cenário em São Paulo, em relação ao prefeito João Doria?

Eu comecei a acompanhar o Doria logo que ele se elegeu. Até fiz uma reportagem especial, desenhando esse perfil político dele, apesar dele dizer que não é político, que é um gestor, já sendo cotado para uma eleição presidencial ou ao governo do Estado do ano que vem. Logo que ele se elegeu não era tão claro isso, mas, agora, está mais do que claro. É um personagem que tem muita repercussão, que gera muita polêmica, que gosta de estar exposto à mídia, que faz questão de emitir suas opiniões, que agora está enfrentando um incômodo interno com o padrinho político dele, que é o Geraldo Alckmin. Mas é uma indisposição que eles vão ter que resolver, ou o Doria saindo do partido para se candidatar por outra legenda ou se resolvendo internamente ali para escolher quem vai ser o candidato.

Como você avalia as mudanças do jornal impresso e online?

Nas grandes redações, o impresso sofreu queda, mas ainda tem muita relevância e credibilidade. Uma notícia que sai na Folha, no Estadão, no Globo, mesmo com essa queda nos últimos anos no impresso, ainda tem aquela marca, ainda tem aquela credibilidade, estar no papel. Estar no Estadão ou em um jornal local, regional, fora dos grandes centros, tem muita importância hoje, tem peso maior do que outras mídias. A internet hoje é a mídia onde mais se propaga informação, é a mídia onde as notícias são publicadas e vão continuar sendo publicadas cada vez mais. Tem uma abertura maior, tem espaço para outras formas de comunicação, outras formas de notícia, tem um espaço maior para o público opinar diretamente, interagir, mas, mesmo na internet, quem acaba pautando o volume de notícias publicado são os grandes jornais. Nesse meio, acho que o impresso ainda tem o papel muito forte de ser o garantidor da informação com conteúdo. A gente fala em impresso e online, mas hoje tudo que está no impresso está no online, tem essa interação de plataformas. O repórter que está no impresso está no online e vice-versa.