Jaraguaenses voltam olhar para o lixo orgânico

Bons exemplos na cidade, como o de Telma, dão destino sustentável para o lixo orgânico - Fotos: Eduardo Montecino

Por: OCP News Jaraguá do Sul

27/02/2016 - 04:02

Saem de Jaraguá do Sul todo mês em torno de 1,4 tonelada de resíduos orgânicos. Durante um ano são quase 17 toneladas de material, o que representa 51% do lixo produzido no município. Reduzir esse índice em 10% até o fim do ano é uma meta da Fujama (Fundação Jaraguaense do Meio Ambiente), mas, para isso, é preciso reciclar antes a consciência da população.

Cascas de frutas, verduras, legumes, grãos e sementes são transportados até o aterro em Mafra e encontram um destino aquém do verdadeiro potencial. A principal ação para reverter esses números é a compostagem, que promove a transformação dos resíduos orgânicos, gerando adubo e devolvendo à matéria orgânica seu papel natural de fertilizar o solo.

Construir uma composteira doméstica não é nenhum grande desafio, mas requer cuidados e engajamento. Para o coordenador administrativo de uma empresa de composteiras e um dos idealizadores do projeto Composta São Paulo, Leopoldo Matosinho, a principal barreira a ser rompida é o distanciamento das pessoas com o lixo.

“As pessoas querem que o lixo esteja longe delas. No caso dos orgânicos, você está se alimentando e joga os restos no lixo. Nesses poucos segundos, o alimento se torna uma coisa nojenta”, reflete. Com o projeto na capital paulista desde 2014, mais de oito mil pessoas receberam compoteiras domésticas e houve apenas 43 desistências até agora. “Esse processo toca no ponto de observar a natureza, você se conecta mais com a alimentação, pensa mais no desperdício”, complementa.

A quantidade de lixo orgânico produzida no país segue a média jaraguaense e representa em torno de 50%. De acordo com o relatório do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, somados aos resíduos provenientes de atividades rurais e industriais, há uma geração anual de 800 milhões de toneladas. Desse montante, menos de 2% são destinados para compostagem.

O plano prevê que os orgânicos não devem ser considerados indiscriminadamente como rejeitos e devem ser parte das estratégias de gestão em escala domiciliar, comunitária, institucional, industrial e municipal. Em pronunciamento, a secretária de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Cassandra Maroni Nunes, destacou que devolver à terra o potencial de nutrientes dos resíduos é um dos maiores desafios do plano.

Em Jaraguá do Sul, algumas pessoas já despertaram para a importância de reaproveitar as sobras e tentam disseminar atitudes sustentáveis. O presidente da Fujama, Leocádio Neves e Silva, destaca que o município tem intenção de promover campanhas de conscientização. Atualmente, a falta de recursos inviabiliza projetos maiores. “Temos mais lixo a cada dia e não existe milagre, se olhar exclusivamente pelo aspecto financeiro, a compostagem é uma questão de economia”, pontua.

infografia ocp
Resíduos são usados para produzir adubo em horta
Há oito anos, Telma Delfino inclui em sua rotina levar parte dos restos de alimentos consumidos direto para a composteira. As três caixas ficam empilhadas em um cantinho da garagem e dentro delas minhocas californianas aceleram a decomposição dos resíduos que antes iam para a lixeira. O húmus misturado com a terra vira adubo, com o qual ela mantém pequenas hortas ao redor da casa que retornam produtos à mesa para consumo da família.

Um saco de lixo com cem litros demora em média duas semanas para ser cheio. “Acho que diminui consideravelmente a quantidade de lixo, também tenho cuidado com as quantidades para evitar o desperdício. Eu acredito muito por uma filosofia, de sustentabilidade, de fazer a minha parte”, comenta.

Para Telma, mesmo estando em um meio urbano, manter a composteira é fácil. Sua forma de estimular outras pessoas a terem a mesma atitude é na conversa. Ela abre a casa para quem tem dúvidas, doa minhocas e tenta levar o ciclo adiante. Mas a dona de casa acredita que ainda há um longo caminho de conscientização a ser trilhado. “Ainda tem uma caminhada. Temos que acabar com a cultura de responsabilizar os outros e achar que isso é dever do poder público. No mundo aonde vivo, eu consegui fazer a transformação de pessoas ao meu redor e na minha vida”, conta.

Restaurante assume responsabilidade ambiental
Com uma produção de até 40 quilos de resíduos orgânicos por dia, um restaurante na Vila Baependi começou a implantar um projeto para aproveitar o potencial nutritivo desse material. Segundo um dos proprietários, Leandro Farias, a equipe está construindo com consultoria do Sebrae uma composteira que comporte essa produção e reverta com rapidez fertilizante para uma horta vertical, com temperos e folhas que passarão a ser utilizados na cozinha.

“Isso está dentro da nossa gestão e consciência como ser humano. A gente quer de alguma forma ajudar a diminuir a produção de lixo, dando um destino adequado para cada produto”, comenta Leandro.

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Leandro Farias destaca que a compostagem dos resíduos do restaurante tem objetivo de diminuir o impacto negativo no meio ambiente

Atualmente, o restaurante mantém um controle rigoroso do que é descartado. A reciclagem de material é levada a sério e promove ações sociais. A venda de latinhas, explica Farias, é revertida em recursos financeiros para entidades.

Para ele, sustentabilidade e conscientização social são conceitos que fortalecem o negócio. O principal desafio é inserir a atitude na rotina e conscientizar a equipe atarefada a fazer a separação adequada. “A gente tem que bater nessa tecla. A sociedade pode mudar bastante de postura referente ao lixo, podemos reaproveitar e oferecer um benefício gigante para o meio em que vivemos”, acredita.

Compostagem é possível em apartamentos
Além de levantar a bandeira da compostagem como membro da administração municipal, o presidente da Fujama, Leocádio Neves e Silva, leva a teoria para a prática. A composteira, construída por ele mesmo há cerca de três anos, ocupa espaço na sacada do apartamento, junto com uma pequena horta vertical montada dentro de garrafas pet.

O mecanismo foi feito com caixas plásticas e minhocas comuns. “São várias técnicas de compostagem, até sem a minhoca, mas dessa forma o processo é mais rápido. Algumas minhocas são mais eficientes, mas todas cumprem o papel” explica.

2016_02_26 Leocadio composteira - em

Composteira alojada na sacada foi construída por Leocádio Neves e Silva, que destaca a importância de reaproveitar o potencial dos resíduos orgânicos

A maior responsável por levar o material para as caixas é a esposa, Josiane Duwe. Segundo ela, é preciso pelo menos dez minutos diários para garantir que a compostagem aconteça corretamente. Além de depositar as cascas, frutas ou legumes, é preciso tampar com material seco para evitar o cheiro e pequenos insetos. “No verão surgem aqueles mosquitinhos da fruta, é preciso estar sempre revirando e tampando. Exige uma dedicação”, conta.

Leocádio destaca que a destinação ao aterro gera custos e também desperdiça o potencial dos nutrientes presentes nos resíduos. A produção de húmus e de adubo líquido do casal ajudou também a nutrir hortas e plantas de alguns vizinhos.