Jaraguá do Sul desenvolve programa de preservação de abelhas nativas sem ferrão

Foto Edu Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

11/09/2018 - 05:09

Enquanto o pai, Juliano Braun, mexe na caixa para mostrar como funciona o “lar” das abelhas, o olhar de Igor Arthur Braun não desvia por um instante sequer do interior da colônia.

Os olhos do garoto de nove anos só se movem quando as próprias abelhas resolvem sair do interior da caixa e tomam o rosto de Juliano que, aos 34 anos, trabalha diariamente para multiplicar as colônias da propriedade.

A proximidade de pai e filho com as abelhas não preocupa, afinal, as espécies das quais Igor se aproxima não possuem ferrão e é justamente pensando em fomentar o conhecimento sobre essas espécies que Jaraguá do Sul trabalha em um programa específico de preservação ambiental das abelhas nativas sem ferrão.

O projeto, que está sendo desenhado, tem como objetivo informar, conscientizar e fomentar a preservação das espécies nativas sem ferrão, garante o vereador Eugênio Juraszek, que desenvolve o programa em parceria com profissionais, instituições e secretarias do município.

Para ele, é fundamental que a informação sobre as abelhas sem ferrão seja difundida, especialmente entre as crianças e adolescentes da rede municipal de ensino.

“A intenção é criar um local para visitar as abelhas. É necessário promover essa conscientização de que elas não só não são perigosas como são importantes, inclusive para a agricultura do município”, explica o vereador.

O técnico de apicultura André Luís Ribeiro destaca que, no Brasil, existem aproximadamente 300 espécies de abelhas sem ferrão e, em Santa Catarina, pelo menos 30 delas se desenvolvem naturalmente.

Desenvolvedor do programa, Ribeiro explica ainda que as mais comuns são a jataí, mandaçaia, canudo, guaraipo, manduri, burgia e mirim.

Aproximadamente 30 espécies de abelhas sem ferrão se desenvolvem em SC | Foto: Edu Montecino/OCP News

Para o técnico é fundamental que a população conheça as espécies, como elas se desenvolvem, do que são capazes e sua importância para todo o ecossistema e também para a agricultura da região.

Ele explica que o objetivo principal do programa é a preservação das abelhas e também de espécies da flora que necessitam do trabalho exercido pelas espécies para que possam disseminar.

“Além de incentivar a preservação das abelhas, é preciso que as pessoas saibam que cada espécie poliniza uma determinada espécie da flora e sem polinização elas podem até mesmo deixar de existir“, diz.

Além da preservação, garante Ribeiro, a produção de mel e a regulação do comércio também é um dos objetivos. “Precisamos também reunir esses produtores e regular o comércio da produção para que essa produção possa ser comercializada em feiras e nas escolas”, complementa.

Para que essa conscientização se torne possível, o projeto pretende instalar caixas de abelhas sem ferrão em diversos pontos de áreas verdes do município, fazendo com que além da integração entre a população e as espécies também possa existir a polinização daqueles pontos por meio das abelhas.

Além disso, as escolas devem estar diretamente envolvidas, recebendo palestras sobre o tema e também tendo o mel e demais produtos ofertados na merenda escolar.

Tradição de família

A localidade de Ribeirão das Pedras, em Jaraguá do Sul, encanta por sua beleza natural e tranquilidade e, na propriedade da família Braun, essa beleza salta aos olhos.

Se o visual do alto do morro no qual está instalada a residência da família é deslumbrante, a paixão de Juliano Braun, de 34 anos, pela apicultura é um ingrediente a mais.

A herança veio ainda do bisavô que, apesar de não sobreviver da criação de abelhas, já instalava suas caixas e convivia diariamente com elas. Juliano cresceu vendo o cuidado com as abelhas e, hoje, é ele quem trata de passar essa paixão para o filho, Igor Arthur Braun, de nove anos.

A tradição é de família e de Juliano, já encantou o pequeno Igor, de apenas nove anos | Foto: Edu Montecino/OCP News

Bananicultor, assim como o bisavô ele não tira da criação de abelhas a sua renda principal, mas a paixão, sem dúvida, está estampada nos olhos de pai e filho. “Eu também tenho o meu ninho, sou eu que cuido dele”, garante o pequeno Igor que ainda completa: “eu vou criar abelhas quando crescer, não tenho dúvida”.

Atualmente, Juliano tem colônias de abelhas com ferrão e sem ferrão. Na propriedade, ele conta, são 13 colônias de abelhas da espécie jataí, cinco mirins e quatro de mandaçaias – todas sem ferrão. Além disso, há outras 17 colônias de abelhas conhecidas como africanas, aquelas com ferrão.

A tradição foi herdada do bisavô e para manter a memória dele viva, Juliano ainda mantém uma das caixas utilizadas ao longo dos anos pela família e que, ele garante, “deve ter uns 30 anos”.

Para ele, é muito importante que haja projetos visando a conscientização das pessoas sobre as múltiplas espécies que existem na natureza e, com isso, promover a preservação das abelhas que, conforme aponta, são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema.

“As abelhas tem uma importância enorme até mesmo para a agricultura e muitas pessoas sequer sabem disso”, ressalta.

A intenção do projeto é fazer com que toda a população tenha a mesma consciência que o pequeno Igor que, aos nove anos, já sabe bem a importância das pequenas moradoras do seu “ninho”.

“Dessas sem ferrão eu não tenho medo. Esse projeto é para ajudar o mundo a conhecer a abelha e mostrando, as pessoas vão saber mais e vão poder ajudar a mudar o mundo e preservar as abelhas e, talvez até criar, como eu quero”, finaliza o garoto.

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