Por Rosana Ritta Em uma semana pesada no meio político brasileiro, em que o nome de tradicionais representantes do segmento catarinense, incluindo o atual governador Raimundo Colombo (PSD), foram apontados como alvo de investigações na Operação Lava Jato, um dos debates mais engraçados ocorridos em uma casa legislativa vem daquela que é apontada como a maior, ou a mais populosa, diriam outros, cidade catarinense: Joinville. Não que o assunto não seja sério: o destino de dez galos de rinha, resgatados em condições de maus-tratos, virou motivo de polêmica. Afinal, para onde vão os galos? Para um lar ou para a panela? Enquanto alguns vereadores defendem que os galos virem um delicioso ensopado, há uma campanha em andamento para adotá-los. Para alguns, os galos precisam de um lar, para outros, merecem ter os pescoços cortados e seriam a solução para matar a fome de crianças pobres e moradores de rua. O assunto, apesar de ter rendido algumas piadas e discussões nas redes sociais, só ganhou mesmo mais destaque na imprensa local depois que o site de humor http://www.naosalvo.com.br/ divulgou o engraçado debate que rendeu alguns vídeos engraçados. A história começou em junho do ano passado, quando os galos, que sofriam maus-tratos e eram usados em rinhas, foram resgatados e desde então estão recolhidos no Centro de Bem-estar Animal de Joinville (Cbea), porém o destino deles ainda é incerto. Como a causa animal foi o principal motivo da eleição das duas únicas vereadoras desta atual legislatura - Ana Rita Hermes, ligada à Frente de Ação pelos Direitos Animais (Frada) e eleita pelo Pros, e Tânia Larson, eleita pelo Solidariedade -, as duas bateram de frente com os colegas, em especial os vereadores Rodrigo Coelho e o presidente da Câmara, Rodrigo Fachini. A vereadora Ana Rita encaminhou, em março, projeto à Secretaria de Meio Ambiente (Sema) solicitando autorização para socializar as aves e, posteriormente, colocá-las para adoção mediante assinatura de termo de depositário fiel. “A princípio, esse galos não poderão conviver com outros animais e serão socializados com humanos, por meio dos voluntários que a Frada está rigorosamente selecionando”, explicou a vereadora, que intermediou o contato entre a associação, a promotora Simone Schultz (MPSC), a gerência da Sema e a coordenadoria do Cbea. A Frada inspira-se em projeto da Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos, que realizou o mesmo processo, com sucesso, reabilitando 63 galos de rinhas, na cidade de Cotia (SP), em 2012. O termo de depositário fiel determina obrigações legais aos adotantes, como garantir cuidados com alimentação e condições ambientais compatíveis com a espécie, e não destiná-los ao consumo; assim como comprovar a destinação do animal para propriedade rural. Interessados em participar do processo de socialização e/ou adoção dos galos – batizados com nomes de astros do rock – devem acessar o Facebook da Frada e preencher um formulário. Ainda não há data prevista para o início das atividades. Para aplacar a fome Porém, a ideia de proteção aos galos não foi bem aceita pelo ex-vice-prefeito e vereador Rodrigo Coelho. Ele propôs que os galos servissem para aplacar a fome de pessoas em situação de rua. "Devia cortar as cabecinhas deles e fazer um ensopado", disse Coelho, para quem com certeza esta solução seria muito melhor do que a adoção dos mesmos. Fachini subiu à tribuna para fazer coro ao colega e reforçar a preocupação de ambos com a fome. Para os dois vereadores, mais importante que arrumar lares para galos, seria um esforço em favor de adoção de crianças rejeitadas por causa da idade. Odir Nunes também botou lenha na fogueira dizendo que tem uma chácara (e um freezer) para abrigar os galos. "Galináceos em geral são extremamente inteligentes e não é a sua cabeça que está sendo cortada. E nós vamos lutar para que eles sejam adotados. E desta vez o senhor deveria ter ficado calado", disse Ana Rita Hermes. "Não serão estes dez galos que serão os responsáveis por matar a fome das crianças, e gostaria que os senhores levassem a sério esta discussão. Não estou aqui brincando... Tá na hora de crescer", enfatizou a vereadora. Tânia também entrou na discussão lembrando que há várias pessoas que têm um galo como bichinho de estimação. O assunto viralizou nas redes socais e a discussão deve ir para no Ministério Público. "Eu, de minha parte, gosto muito de galos. Tanto vivos quando com farofa. Penso que animais não devem ter tratamento cruel, mas são animais. Legislação federal trata do assunto com eficiência. Vereador pode ter seus gostos e preferências, mas deve se preocupar com a cidade e sua gente", postou em seu perfil no Facebook o jornalista João Francisco da Silva. Vídeo com a discussão circula no WhatsApp: https://www.youtube.com/watch?v=MhB1Y9EpBcE&feature=youtu.be