Por Heloísa Jahn | Fotos Eduardo Montecino
Imponente à primeira vista, a Casa Helga Tribess da Costa se revela muito mais encantadora para quem conhece de perto sua estrutura. O casarão às margens da rua Manoel Francisco da Costa, no bairro João Pessoa, em Jaraguá do Sul, guarda nos detalhes de suas paredes muitas histórias: cada cômodo da parte inferior é repleto de pinturas manuais, de motivos florais e formas geométricas que a transformam em uma preciosidade arquitetônica. Riqueza essa que a jaraguaense Salete da Costa Silva luta para preservar.
Atual proprietária do imóvel, a costureira de 52 anos lembra que a casa faz parte da história da família. Ela foi construída pelo avô de Salete, Acelino da Costa, em 1927. “Meu avô e minha avó, dona Augusta, criaram os sete filhos aqui. Depois meu pai herdou a casa e também criou seus sete filhos. Hoje moro com meu marido e minha filha e tenho a responsabilidade de manter essa estrutura em pé, um dos últimos desejos de meu pai”, conta. Salete explica que a casa leva o nome de sua mãe, Helga, pois era a proprietária do imóvel quando o setor de Patrimônio Histórico começou o processo de tombamento.
A casa tem dois quartos, uma sala e uma grande cozinha no piso inferior e mais quatro quartos e um banheiro no superior, considerado o sótão. Além disso, o imóvel conta com uma construção anexa, um grande salão que era utilizado pelo pai de Salete para guardar a colheita da produção agrícola. “Antigamente ainda haviam outros ranchos no terreno onde meu avô tinha os engenhos de farinha e cachaça”, conta.
De acordo com a análise do Patrimônio Histórico, a arquitetura da casa apresenta marcas do período neoclássico e também influências das imigrações alemãs e italianas na cidade, sendo as pinturas manuais nas paredes internas e também na varanda um dos diferenciais do imóvel. Segundo relato do historiador Ademir Pfiffer, preservar a memória dessa edificação é um desafio. “O casarão traz a história da família da Costa, que no passado contribuiu para o desenvolvimento da cultura de engenho e a prática da agricultura, base e origem do crescimento da Colônia Jaraguá”, pontua.
Tombamento dificulta manutenção
Hoje o imóvel mantém todas as características da construção original, sem nunca ter passado por um processo de restauro, apenas a cozinha foi alterada por outro familiar. As fortes marcas do tempo são visíveis. Rachaduras na estrutura, principalmente na parte da varanda e no quarto da frente, e o telhado com goteiras e algumas madeiras comprometidas são as principais preocupações da costureira, que teme pela segurança da família. “Eu gostaria de reformar, manter a construção como ela é, mas deixar a vida mais segura e funcional aqui dentro”, destaca.
Para Salete, o maior desafio é aliar os cuidados do imóvel com as restrições “impostas pelo tombamento”. “A única coisa que eu gostaria é fazer um banheiro no quarto para ser mais prático e deixar essa casa segura, porque dá forma como está, não sei quanto tempo mais vai aguentar”, desabafa. Pelo fato de morar em um imóvel tombado, ela afirma que tudo é muito burocrático. “A gente trabalha para ter uma casa bonita, porque dá gosto morar em um lugar bem cuidado. Mas eu não posso mexer em nada no imóvel. Não tenho nenhuma vantagem para preservar”, lamenta.
A costureira comenta que a família até já pensou em reformar a casa, mantendo todas as características da construção, há cerca de seis anos. Porém, o orçamento ficou em torno de R$ 85 mil e não havia condições. Ela também se queixa da falta de orientações. “Gostaria que dessem uma atenção, que explicassem como tudo pode funcionar e que tivesse algum incentivo para ajudar a manter o imóvel, já que é de interesse histórico”, finaliza.