Facebook faz anúncios com intuito de coibir “fake news”

Por: Elissandro Sutil

02/02/2018 - 05:02 - Atualizada em: 03/02/2018 - 01:07

Em torno de 12 milhões de pessoas disseminam notícias falsas sobre política no Brasil, na internet. É o que aponta um levantamento feito pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP), com dados de junho do ano passado. Com uma média de 200 seguidores para cada usuário, nas redes sociais, as chamadas fake news podem chegar a alcançar toda a população do país.

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O número é resultado do monitoramento de 500 páginas digitais de conteúdo político falso ou distorcido, do mês de junho de 2017. Diante do grande alcance e também da força que as fake news ganham nas redes sociais – e de seus impactos à sociedade –, especialistas se dedicam a estudar o fenômeno, que das mentiras e boatos do mundo real acabaram ganhando espaço também no mundo virtual.

Os desafios que envolvem as notícias falsas começam já pela própria definição do termo “fake news”, que nasceu durante a cobertura jornalística e no âmbito do debate político durante a eleição presidencial dos Estados Unidos, em 2016. Inicialmente, a expressão se referia ao conteúdo disseminado por sites mal-intencionados, que publicavam informações errôneas com aspecto de notícia jornalística com o objetivo de atacar adversários.

O professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado, em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, observa que teóricos do assunto tentam definir as fake news delineando que se tratam daquelas notícias falsas que aparentam ser feitas seguindo as técnicas jornalísticas, mas cujos erros ou informações equivocadas não são resultado de um trabalho mal feito ou descuidado, havendo, na verdade, interesses por trás, como a intenção de obter lucro financeiro ou benefício político.

Contudo, o termo parece não ser suficiente para abranger o fenômeno, conforme ressalta Ortellado. “A maior parte do que é produzido regularmente por esses sites são matérias recheadas de pequenas distorções: exageros, manchetes apela tivas, sensacionalistas ou em desacordo com o texto, especulações apresentadas como fatos, falsas atribuições e uma miríade de outros procedimentos de fraude e logro”, escreve o professor.

É exatamente por apelarem para a emoção das pessoas que outro agravante surge. Mesmo diante de notícias verdadeiras e fatos verificados, há quem desacredite as informações trazidas por matérias jornalísticas, rotulando-as como fake news pelo simples fato de não corroborarem com suas visões de mundo ou ideologias.

Em entrevista à revista Veja, o diretor do laboratório de pesquisa em mídias sociais da Universidade do Estado da Pensilvânia (EUA), Shyam Sundar, explica que as pessoas acreditam nas notícias falsas por causa do fenômeno psicológico chamado de “viés da confirmação”, em que elas têm a tendência inata a acreditar em informações que confirmam ou correspondem às suas crenças e concepções. Do mesmo jeito, tendem a rejeitar tudo aquilo que contradiz sua visão de mundo.

“Por que o fake news explode, porque ele fala exatamente o que determinados nichos querem ouvir. Então quem gosta do Lula (por exemplo), eles produzem uma notícia falando mal do (Jair) Bolsonaro. Quem gosta do Bolsonaro, eles produzem uma notícia falando mal do Lula e sempre com coisas muito radicais, então a maneira mais fácil de você perceber uma fake news é, se o negócio é tão absurdo, provavelmente ele é fake news, tem que estar com a pulga atrás da orelha”, comenta o diretor de novos projetos da Rede OCP, Max Pires.

Combate às notícias falsas

Criticado por especialistas pelo seu papel na disseminação de fake news – entre outras redes sociais – durante debate no Senado no fim do ano passado, o Facebook fez dois anúncios relevantes recentemente, com o intuito de coibir as fake news e priorizar notícias de qualidade. A primeira mudança anunciada em algoritmos busca dar prioridade a publicações de pessoas ante as de páginas. A segunda é para dar preferência às notícias locais e produtores de conteúdo da região geográfica do usuário.

Já no âmbito estatal, órgãos do governo vem discutindo e montando frentes de trabalho para combater as fake news. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, instituiu no fim do ano passado a criação de um Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições. O colegiado contará com representantes da Polícia Federal e técnicos do TSE e da Procuradoria Geral da República (PGR).

Até mesmo o Exército, por meio do Centro de Defesa Cibernética, terá atuação no conselho consultivo do Tribunal, além de representantes da Agência Brasileira de Inteligência e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Já no Senado, tramita um projeto de lei (473/2017), que pretende penalizar quem divulgar conteúdos falsos. De acordo com o projeto, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), quem fizer a divulgação de notícias que souber serem falsas sobre assuntos relativos a saúde, segurança pública, economia nacional, processo eleitoral ou que afetem interesse público relevante poderá ser punido com penas de detenção ou reclusão, que pode variar entre seis meses a até três anos. Se a prática tiver como intuito o recebimento de alguma vantagem, a pena poderá ser aumentada em até dois terços.

Jornalismo regional pode coibir fake news

O diretor de novos projetos da Rede OCP, Max Pires, ressalta as mudanças anunciadas pelo Facebook por meio de seu criador, Marck Zuckerberg. “A novidade anunciada diz que a rede está priorizando notícias locais como parte do trabalho de dar ênfase a notícias de alta qualidade e os editores de notícias locais vão ser mais valorizados e vão aparecer mais no newsfeed dos seguidores de área geográfica respectivas”, explica o diretor.

Dessa forma, criadores de conteúdos locais serão mais beneficiados, bem como os criadores que se concentrarão em tópicos de nicho, como esporte local, artes e histórias de interesse humano. O principal objetivo da mudança, continua o diretor, é mostrar mais notícias que conectam as pessoas com suas comunidades locais.

A intenção é que sejam valorizados conteúdos que interfiram efetivamente na vida das pessoas, focando no bem estar do usuário e da sociedade. Nesse sentido, a preferência por conteúdo e produtores de conteúdo locais contribui para trazer o olhar do usuário à sua realidade mais próxima.

“Você pode perceber que ninguém faz uma fake news por algo bobinho, é sempre sobre algo que vai afetar a vida de alguém ou o todo, é a parte de eleições, por exemplo. Então agora, quando a gente vai estar com o período de eleições, vai ter muito fake news para todos os lados, então as pessoas têm que perceber que mais do que nunca notícias que são absurdas, desconsiderem, ou pelo menos se pesquise antes, pelo próprio Google ou sites verificadores de notícia, como o boatos. org”, destaca Pires.

O favorecimento da mídia local, acrescenta o diretor, traz a possibilidade da rápida confirmação da veracidade. “Uma fake news em Jaraguá do Sul ou região, por exemplo, é mais difícil de acontecer, porque se não saiu no O Correio do Povo é porque não aconteceu”, observa. Pires destaca que regionalmente a população tem a familiaridade e confiança com os veículos e mídias locais.

“As pessoas conhecem as marcas que elas vão estar interagindo, e elas já sabem que elas podem confiar naquilo ali. A gente tem diversas comunidades, o próprio Aconteceu em Jaraguá, a gente sempre colocou ele como uma comunidade de notícias regional porque muitas das notícias dali são as pessoas que estão vendo as ocorrências no bairro delas, na rua delas, elas informam a gente, a gente verifica se o fato é real e publica a notícia”, informa.

5 dicas para evitar notícias falsas

Cheque a credibilidade

Confira se a notícia compartilhada nas redes sociais também foi repercutida por veículos de imprensa profissional. Antes de compartilhar qualquer informação, empresas jornalísticas têm por regra chegar informações com diferentes fontes. Falta de evidências sobre os fatos ou menção a especialistas desconhecidos pode ser uma indicação de notícias falsas.

Seja cético com as manchetes

Notícias falsas frequentemente trazem manchetes apelativas em letras maiúsculas e com pontos de exclamação. Se alegações chocantes na manchete parecerem inacreditáveis, desconfie. Muitos sites de notícias falsas contêm erros ortográficos ou layouts estranhos.

Olhe atentamente o endereço

Um endereço de site semelhante à de outro site, muitas vezes de veículos jornalísticos, pode ser um sinal de alerta para notícias falsas. Muitos sites de notícias falsas imitam veículos de imprensa autênticos fazendo pequenas mudanças na URL. Você pode ir até o site para verificar e comparar a URL de veículos de imprensa estabelecidos.

Confira as datas de publicação

Muitas vezes, notícias antigas são usadas fora de contexto para provocar a audiência e mexendo com a opinião pública. No caso de sites falsos, as datas também podem ajudam a identificar – elas podem não fazer sentido ou até mesmo terem sido alteradas.

Verifique de onde vem e quem compartilhou

Veículos de comunicação profissionais contam com páginas organizadas, exibem o nome do responsável pelo texto, créditos ao fotógrafo, e informações bem claras. Notícias falsas normalmente são publicadas em sites anônimos. No caso dos perfis falsos, desconfie de usuários que você não conhece ou não estão ligados à sua rede de amigos – eles costumam disseminar informações falsas entre ações do cotidiano.

*Com informações da Revista Veja e Revista Exame.

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