Doação de órgãos: pacientes de Jaraguá do Sul falam sobre segunda chance

Estampada em camisetas, materiais de divulgação e totens espalhados pelo Jaraguá do Sul Park Shopping, a hashtag “eu digo sim” representa muito mais do que uma campanha de conscientização organizada pelo Hospital São José.

Para os pacientes que estiveram no shopping na manhã desta segunda-feira (24) e para os tantos outros, a campanha é a representação de uma segunda chance. O hospital promoveu um encontro para que as pessoas pudessem tirar todas as dúvidas com relação a doação e, para isso, os próprios pacientes estavam à disposição.

Para Vanderlei Negherbon, segundo paciente a realizar transplante total de fígado em Jaraguá do Sul, o ato de doação de uma família possibilitou que hoje, aos 28 anos, ele tenha uma vida plena, muito diferente daquela que passou a ter depois da descoberta da Síndrome de Budd-Chiari, diagnosticada em 2016.

A campanha é a representação de uma segunda chance. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

O transplante ocorreu em outubro do ano passado e, prestes a completar um ano, ele lembra o quanto a espera, embora de apenas três meses, foi também tensa e preocupante para ele, mas principalmente para os pais.

“Para mim pareceu um ano, para os meus pais pareceram 10 anos. Eles me viam morrendo mais a cada dia”, conta.

Quando recebeu a ligação pela qual tanto esperava, Vanderlei não tinha muitas esperanças e o corpo sofria as consequências da má funcionalidade do fígado. “Eu precisava de ajuda para tudo”, diz. “Se não fosse essa doação e o transplante naquele momento eu sequer estaria aqui. Eu já entrei com poucas chances de vida na cirurgia, se demorasse mais um mês, talvez eu nem sobrevivesse”, recorda.

Ele ressalta a importância da doação para pessoas que, como ele, só puderam ter mais uma chance graças a um transplante.

“A pessoa pode fazer bem para uma vida, para várias vidas. Não fui só eu que sobrevivi, meus pais, meu irmão, todos sobreviveram junto comigo. A doação pode dar uma saída para quem não tinha mais nenhuma”, destaca.

O desejo de Vanderlei é o de poder, um dia, agradecer a disponibilidade em ajudar mesmo no momento de dor. “Eu tenho muita vontade de achar a família e agradecer, mostrar que o gesto deles salvou uma vida”, finaliza.

Falar sobre a morte ainda é tabu e maior obstáculo

Se Vanderlei ainda não pôde fazer, Isabeli Lourenço já conheceu a família na qual o coração que hoje bate em seu peito foi criado. Hoje com 28 anos, ela recebeu um coração de 15 anos de idade, de um garoto de Indaial e é graças a ele que ela consegue, aos poucos, retomar a vida que antes parecia distante. “Faço coisas hoje que pensei que nunca mais faria de novo. Inclusive vim pedalando até aqui”, diz.

Ela descobriu, em 2009, a cardiomiopatia hipertrófica, que evoluiu para insuficiência cardíaca em 2016. O transplante foi realizado no dia 14 de março deste ano e, para ela, a sensação de acordar após a cirurgia sem dificuldade para respirar é indescritível.

Já o sentimento e admiração por quem permitiu que esse momento acontecesse é de gratidão. “É uma sensação, um sentimento de gratidão que não termina. Saber que alguém, no momento de dor, pensou em outras vidas. É um ato de muita honra permitir que a vida continue”, salienta.

Para Isabeli, o receio em torno da doação de órgãos ainda persiste, mas o tabu não é sobre a doação. “As pessoas têm medo de falar sobre a morte, acham que nunca vai chegar e quando chega, as famílias não sabem o que fazer”, avalia.

Ela conta que sentiu que, por mais de um ano, caminhou lado a lado com a morte e afirma que as pessoas precisam conversar sobre o tema para que outras pessoas, assim como ela, possam ter a mesma chance.

O médico Manoel Tassinari confirma que é essa a principal barreira. “As pessoas têm muito preconceito em falar de morte. É um tabu e isso é muito ruim porque a decisão está nas mãos das pessoas que ficam”, analisa.

Para o médico Manoel, conversar sobre o tema é a principal barreira para as pessoas. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Ele conta que o Hospital São José já foi referência no Estado e o número um do ranking estadual quando o assunto é transplantes. Hoje, ocupa a sétima posição e, neste ano, de janeiro a agosto, foram 23 notificações de morte encefálica com 11 recusas. Ele explica que a média de doações efetivas foi de 50%, ou seja, pouco mais de XX doações.

A campanha #eudigosim prossegue e, na quinta-feira (27), uma missa em homenagem ao Dia Mundial do Doador de Órgãos e Tecidos será realizada pelo hospital.

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