Diálogo entre sócios confirma irregularidades na produção em frigorífico

Por: OCP News Jaraguá do Sul

18/03/2017 - 11:03 - Atualizada em: 21/03/2017 - 10:11

Vizinhos de estabelecimento localizado no bairro Santa Luzia, um dos alvos da Operação Carne Fraca, já haviam denunciado mau cheiro e depósito irregular de detritos.

frigo


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– Somente as ações da JBS (dona de marcas como Friboi e Seara) despencaram 10,59%: https://goo.gl/XIsuqB.

As expressões de nojo e indignação que tomam conta das redes sociais em relação aos alvos da Operação Carne Fraca, desencadeada na sexta-feira pela Polícia Federal, já tinham sido antecipadas em Jaraguá do Sul por vizinhos do local onde está instalada a filial da Peccin Agro Industrial Ltda, no bairro Santa Luzia. Em janeiro desse ano, o jornal O Correio do Povo produziu uma reportagem sobre reclamações dos moradores e comerciantes do bairro  em relação ao mau cheiro que vinha da área onde o frigorífico instalado há cerca de um ano.


SAIU NO OCP: Mau cheiro causado por lago de frigorífico gera reclamações,

O estabelecimento foi um dos alvos da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que pretende desarticular uma organização criminosa que atuaria no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir da Superintendência Federal da Agricultura no Paraná (SFA) para produzir alimentos adulterados, com uso de carnes podres com ácido ascórbico para disfarçar o gosto e comercializar produtos vencidos.

carne

No local, um dos sócios da empresa com sede em Curitiba, no Paraná, Normélio Peccin Filho, foi preso preventivamente e encaminhado ao Presídio Regional de Joinville, onde deve permanecer até a próxima semana.
Grandes nomes do setor, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e a JBS, que detém Friboi, Seara e outras marcas conhecidas nacionalmente, também estão entre as investigadas pela ação conjunta entre Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal.

Segundo a comunidade do Santa Luzia já havia observado em relação às atividades do frigorífico, detritos eram depositados em lagoas nos fundos do terreno. O incômodo era diário e fazia com que os moradores fechassem suas casas, principalmente nos dias de calor. A situação havia sido repassada à Fujama (Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente) que, na época, declarou ter determinado que a empresa interrompesse o uso das lagoas até que fossem executadas adequações. A assessoria da empresa chegou a garantir que providenciaria melhorias. Na sexta, ninguém da empresa quis se manifestar.

dialogo

Confira abaixo o diálogo gravado com autorização judicial entre um dos sócios da Peccin, Idair Peccin, e sua mulher, Nair, e que confirma as irregularidades de suas ações:

IDAIR PECCIN: Você ligou?
NAIR PECCIN: Eu? Sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
IDAIR: É.
NAIR: Ele quer te mandar 2 mil quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
IDAIR: É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
NAIR: Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga.
IDAIR: Tá bom, mas vamos usar no quê?
NAIR: Não sei.
IDAIR: Aí que vem a pergunta, né? Vamos usar na calabresa, mas aí, é massa fina, é? A calabresa já está saturada de massa fina, é pura massa fina.
NAIR: Tá.
IDAIR: Vamos botar no quê?
NAIR: Não vamos pegar, então?
IDAIR: Ah, manda vir 2 mil quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina.
NAIR: Na linguiça?
IDAIR: Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça…
NAIR: Tá, seria só 2 mil quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um pouco de toucinho, mas, por enquanto, ainda tem toucinho (ininteligível).
IDAIR: O toucinho, primeira coisa, tem de ver que tipo de toucinho que ele tem.
NAIR: Sim.
IDAIR: É, manda ele botar, vai descarregar aonde?
NAIR: Cem quilos de toucinho para ver que tipo de toucinho é o dele.
IDAIR: Vai descarregar aonde isso?
NAIR: Em Jaraguá.
IDAIR: Manda botar. (…)
NAIR: E dessa vez pego os 2 mil quilos de cabeça então?
IDAIR: É, pega. Nós vamos fazer o quê? Só que na verdade usar no quê? Vai ter de enfiar um pouco em linguiça ali.
NAIR: Em Jaraguá tem mil quilos de sangria, essa serve para quê?
IDAIR: Para calabresa.
NAIR: Só para calabresa? Tá, tá bom, tá.
IDAIR: Tchau.