Desafio de novo gestor do Hospital Santo Antônio, de Guaramirim, é torná-lo sustentável

Por: Elissandro Sutil

27/02/2018 - 07:02 - Atualizada em: 28/02/2018 - 23:06

O desafio é gigante: transformar aquele que é considerado o “calcanhar de Aquiles” de qualquer gestão em um ponto de referência e mudar completamente a visão que a população tem do Hospital Municipal Santo Antônio. É nesse cenário que Jackson Testoni assumiu a gestão da unidade, que hoje pesa no orçamento municipal de Guaramirim. Todos os meses, R$ 1 milhão é destinado ao hospital. Entre as missões dele está a tarefa de diminuir esse peso, tornando a unidade hospitalar mais sustentável e minimizando o impacto no caixa.

Apesar de ainda estar se ambientando à rotina do hospital, Testoni deu os primeiros passos para melhorar a comunicação interna, o que para ele é fundamental. “Eles conhecem o hospital, conhecem os pacientes. Isso é fundamental até para que eu possa saber quais dificuldades eles têm e também as soluções que eles vislumbram. Eles até trazem os problemas, mas também tem as soluções e nós precisamos ser resolutivos, não podemos mais ‘deixar pra lá’”, afirma.

O maior desafio do profissional, que atua pela primeira vez na gestão de uma unidade de saúde, é o orçamento. Hoje, todo o recurso do hospital é oriundo do município. O R$ 1 milhão destinado mensalmente ao Santo Antônio, segundo Testoni, mantém a unidade. Mas para ele, a solução para elevar a arrecadação do próprio hospital é aumentar o número de cirurgias realizadas na unidade. Explica que atualmente são realizadas, em média, 18 cirurgias por mês. Os procedimentos demandam também internações e este tipo de atendimento gera uma receita oriunda do governo do Estado. É neste ponto que o gestor pretende “aliviar as contas”. Além disso, o aumento no número de cirurgias irá minimizar as filas de espera.

A partir da segunda quinzena de março, a intenção é que o número de procedimentos cirúrgicos tenha um incremento considerável. “Pela qualidade que temos no nosso centro cirúrgico o número de cirurgias é muito baixo. Então, na segunda quinzena do mês, em parceria com a Secretaria de Saúde, vamos começar a intensificar as cirurgias, em torno de 70 a 80 cirurgias ao mês”, conta. Nesta parceria, a secretaria irá ceder profissionais para realização dos procedimentos. De acordo com Testoni, três cirurgiões trabalharão no hospital. Entre as especialidades contempladas estão a otorrinolaringologia, oftalmologia e cirurgia vascular.

O incremento no número de procedimentos, ressalta o gestor, não irá incidir em novos custos para o hospital, uma vez que os gastos fixos do centro cirúrgico já estão incluídos no orçamento mensal. “O nosso custo fixo já está previsto. Agora falta começar a trabalhar com esses procedimentos para obter esse repasse do governo estadual e reduzir a carga pra cima do Executivo”, explica.

As especialidades foram indicadas pela fila de espera e o maior volume está, justamente, nas três especialidades. “Temos fila de otorrino desde 2014 e a fila nunca para. Não podemos dizer que vamos eliminar a fila, mas nós vamos agilizar esse processo para que a nossa população não fique esperando tanto tempo”, diz. Além de intensificar o trabalho no centro cirúrgico, os olhos do gestor também se voltam para os custos com horas-extras. Segundo ele, um levantamento já foi iniciado para analisar a demanda e conseguir reduzir o impacto das horas-extras no orçamento. As duas medidas devem “dar um pouquinho mais de liberdade financeira”, garante.

Modelo de gestão por organização social descartada por falta de interessados

A gestão de hospitais por Organizações Sociais, as chamadas OS, são comuns em Santa Catarina. Pertinho de Guaramirim, o Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, de Joinville, é um dos exemplos. Mas essa não será a realidade do Hospital Municipal Santo Antônio. Ao menos, não em médio prazo.

Em 2017, a administração municipal abriu licitação para que as organizações sociais se candidatassem e recebeu cinco inscrições. Porém, nenhuma apresentou o projeto, que deveria girar em torno de R$ 900 mil mensais. De acordo com Testoni, embora as inscrições tenham sido realizadas, nenhuma organização se apresentou no dia programado e apenas uma deu “satisfação”: não assumiria por menos de R$ 1,5 milhão.

A ideia foi deixada de lado e os olhos da administração se voltaram para uma gestão própria. “Nós estamos no limite e com essa negativa das OS o prefeito entrou com essa proposta de eu assumir, ao lado dos funcionários, a gestão do hospital. E esse é o gancho para trazer os funcionários para perto, mostrar que eles têm condições de tocar o hospital. Não há necessidade de colocar na mão de terceiros”, avalia.

Testoni ressalta que passada a fase de tentar apostar em um modelo de gestão por OS é momento de mostrar aos funcionários que eles são capazes de ajudar a gerir o hospital. “Estamos aqui para mostrar que nós conseguimos fazer um atendimento com qualidade, com os funcionários que temos e com a estrutura que temos”, completa.

Pronto-atendimento vai ganhar cara nova

Todos os meses, cerca de 5.500 pessoas passam pelo Pronto -atendimento do Hospital Municipal Santo Antônio. E é no PA que está a maior prioridade de Testoni. Emboora o projeto de reforma do local não tenha impacto sobre o número de atendimentos, o PA é a menina dos olhos do novo gestor.

Humanizar o atendimento. Essa é a missão que o gestor assumiu. “Hoje, o PA é a minha prioridade. Ele é a porta de entrada, então, o acolhimento e o atendimento precisam ser ágeis e de qualidade. É ali que as coisas acontecem”, diz.

O projeto de ampliação está em fase de finalização e deve custar em torno de R$ 70 mil. O valor já está disponível para a obra que, ele estima, deve estar concluída ainda no primeiro semestre. “A gente vai fazer um novo layout ali fora. Não é uma reforma estrutural, mas iremos melhorar a situação do atendimento com novas poltronas de espera, chama eletrônica, organizar e humanizar os espaços”, explica.

Além do PA, outras obras já estão em andamento e previstas, além de equipamentos, como um novo raio-x digital. Um heliponto já está passando pela pintura e deve ser entregue em breve. O gestor conta ainda que um novo necrotério está em funcionamento no hospital e o projeto é tornar o espaço antigo uma oficina para macas e camas que necessitem de conserto.

Por enquanto, nada de novos guaramirenses

Quem nunca ouviu aquela frase que mistura indagação com ironia e humor: “não nascem mais guaramirenses”. Por enquanto, essa realidade continua. Demanda antiga da cidade, a reativação da maternidade não está nos planos do novo gestor do Hospital Municipal Santo Antônio. E o motivo é justamente o orçamento.

De acordo com Jackson Testoni, hoje o valor mensal para que a maternidade pudesse ser reativada é de R$ 300 mil. E o orçamento está no limite. “Nós já tínhamos toda uma estrutura pronta, só que no momento, financeiramente, não é viável”, explica.

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