Todos os dias mães abraçam seus filhos, seja antes de ir à escola, para recepcioná-los do treino de futebol ou simplesmente porque o carinho falou mais alto. E cada vez que essa imagem se repete nas ruas de Jaraguá do Sul ou em estabelecimentos comerciais nos quais Nicole Raymond esteja, sua cabeça a leva para a República Dominicana.
É no país caribenho que parte do coração da auxiliar de cozinha vive. Da mesma maneira, o operador de produção Jean François Saintilmond não consegue segurar as lágrimas e o rosto firme ao lembrar que os três filhos estão a mais de 4,1 mil quilômetros de distância.
Haitiano, o casal não consegue disfarçar o misto de dor e saudade que sente cada vez que os nomes Jean Wilson, Nicali e Nisali são pronunciados. Com as lágrimas insistentes correndo livremente pelo rosto, Fraçois lembra da frase que ouve quase que diariamente, enquanto conversa por telefone com a caçula, Nisali, que nesta quinta-feira (8), completa 7 anos. “Papi, quando me vem buscar?”.
François, que tem 35 anos, chegou ao Brasil há cinco anos, depois de sair do Haiti e tentar manter a família unida na República Dominicana. Três meses depois de desembarcar em Minas Gerais, ele estabeleceu residência em Jaraguá do Sul, para onde trouxe a companheira Nicole, em fevereiro de 2015.
Mas o pouco dinheiro que conseguiu economizar não foi suficiente para trazer a família toda e os filhos Jean Wilson, 14, Nicali, 12 e Nisali, 7, ficaram com os tios. “Na verdade, o que aconteceu é que depois do terremoto não tinha emprego e nós tentamos na República Dominicana, mas a situação lá é muito difícil também”, fala François.

Nicole não segura as lágrimas quando a saudade dos três filhos aperta | Foto Eduardo Montecino/OCP News
No Brasil, a situação financeira também não ajudou. Para trazer a companheira, ele contou com a ajuda da dona da empresa para a qual trabalha, que emprestou o dinheiro para a passagem.
Já em solo jaraguaense com a intenção de trabalhar para arrecadar o dinheiro que garantiria a viagem dos filhos, Nicole passou quase um ano sem emprego e hoje atua como auxiliar de cozinha.
Os dois salários não são suficientes para custear as três passagens, uma vez que, além das despesas com aluguel e subsistência, o casal ainda envia uma parcela para custear aluguel e alimentação dos filhos.
Mas, como diz Nicole, “há pessoas que tem amor no coração” e, na vida do casal, essas pessoas são os pastores José de Souza Coelho e Adausi Correia Coelho, da igreja Amados de Deus, da Vila Lenzi. Foi dos dois a ideia de iniciar uma campanha com o objetivo de arrecadar fundos para custear a viagem dos três.
Até o momento, graças a uma macarronada e uma feijoada organizada pela comunidade, a arrecadação está em R$ 5 mil. O problema é que a viagem custa R$ 20 mil. Pensando em maneiras de diversificar a possibilidade de doação, os pastores também abriram uma campanha de financiamento coletivo no Catarse com o nome “Reunião da Família”.
Ações para arrecadação continuam
Para aumentar a soma, no dia 7 de dezembro, a comunidade irá promover a “Noite do Pastel”, a partir das 18h, na sede da igreja. “A gente tenta viver a nossa vida e ajudar eles. Não tem como não se colocar no lugar e sentir toda a luta e a saudade”, ressalta o pastor José.
A igreja, inclusive, foi fundada com o objetivo de unir e ajudar a comunidade, especialmente os imigrantes que chegam ao Brasil. “Quando eu percebi o que estava acontecendo, os haitianos vindo para o Brasil em busca de uma oportunidade de vida, não tinha como não fazer nada. Se eu visse e não fizesse nada, que tipo de cristão eu seria?”, complementa.

Doações podem ser encaminhadas à igreja | Foto Eduardo Montecino/OCP News
Para François, a comunidade já se tornou sua família. Foi também por meio da iniciativa da igreja que o casal conseguiu alugar uma casa espaçosa, capaz de receber os três filhos. “Para mim é uma coisa muito importante ver isso tudo. Eu não tenho família aqui e agora contamos com uma família na igreja”, diz.
Emocionada, Nicole sonha com o dia em que poderá reencontrar os filhos e já sabe muito bem como será esse momento. “Vai ser incrível, vou ficar abraçada, dormir com eles. Não tem palavra para descrever. Aqueles pequenos gestos de colocar na cama, não tenho como explicar”, conta.
A conversa por aplicativos de internet é diária e em todos os dias a mesma pergunta se repete: quando vem? Nicole conta que responder a essa pergunta é uma missão difícil e dolorosa e, mais do que isso, uma promessa que não se cumpriu até hoje.
“Todo ano eu prometo que vai ser no próximo, mas até agora não consegui”, lamenta. “Todos os dias eu imagino que estou presa porque não consigo fazer nada capaz de trazer minhas crianças”, complementa.
Eles não perdem a esperança
O Natal deste ano ainda não poderá ser com a família reunida porque, mesmo que a campanha atinja o valor necessário, o trabalho de Nicole só a libera em fevereiro para viajar e buscar os filhos. Apesar disso, o presente pode vir com atraso, garantem. “É o quarto Natal que não consigo estar feliz. Falta uma parte do meu coração”, diz Nicole.
A conta ainda não fechou e faltam R$ 15 mil para completar o valor das passagens, mas François e Nicole não desanimam. “Milagres acontecem a todo momento e pode acontecer com a nossa família também”, diz François.
Com a mudança para a casa que poderá receber os filhos, o casal ainda se adapta a um lugar mais espaçoso, diferente da pequena quitinete na qual moravam.
Esperançosos com o sucesso da campanha, o casal também precisa garantir o conforto das crianças e, por isso, a igreja também está aberta para doações de móveis, como camas de solteiro, guarda-roupas e sofá. Além disso, roupas de cama e louça podem ser encaminhados para a família.
Como doar?
As doações para reunir a família de François e Nicole podem ser feitas pessoalmente na igreja, na rua Victor Rosemberg, 333, bairro Vila Lenzi, nas quintas-feiras, a partir das 19h30 e sábados e domingos a partir das 18h30.
Além disso, uma campanha online de financiamento coletivo foi criada para arrecadar fundos para a viagem. A campanha “Reunião da Família” pode ser acessada no site e as doações podem ser realizadas a partir de R$ 10.
Telefones para contato
- François (47) 9 9631-3433
- Nicole (47) 9 9656-2889
- Pastor José (47) 9 9135-5575
- Pastora Adausi (47) 9 9162-3451
- Igreja (47) 3371-3780
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