Ah, o amor! Clichês ou não, há muitas tentativas de definição para esse sentimento que não é palpável, mas transborda emoção. O poeta português Luiz de Camões, já no século 16, dizia que “Amor é fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer…”.
E repercutindo o Dia dos Namorados, comemorado neste domingo (12), a reportagem do O Correio do Povo foi buscar três casais – com histórias, perfis e faixas etárias distintas – que relatam suas vivências, desafios e superações: de Ada e do marido Dilnaldo, que somam mais de três décadas de união; dos policiais militares Nathalie e Leandro, sempre juntos; e dos jovens Jéssica e Everaldo, noivos preparados para subir ao altar.
Em comum, o trio de enamorados mostra que é possível conciliar diferenças quando existe amor e empenho mútuo, possibilitando que o relacionamento se fortaleça com a passagem do tempo.
“O ser humano não foi feito para viver sozinho”
“O jardim florescerá conforme for semeado e cuidado. E ter um jardim requer tempo e paciência”, explica a psicóloga clínica Mariane Manske Oeschler, que defende o diálogo como a base para o entendimento, na superação das diferenças que resultam em um relacionamento afetivo saudável. A especialista lembra que, apesar da necessidade de individualização do ser humano, contraditoriamente ninguém consegue viver isolado. “O ser humano não foi feito para viver sozinho, mas tem dificuldade de se relacionar”, referenda.
A terapeuta desmistifica a frase “encontrar a metade da laranja”, para ela, uma falsa crença. “Muitas vezes as pessoas se iludem com a relação perfeita. Tem que buscar o ser inteiro, podendo me conhecer nas minhas limitações, o que não posso mudar, e reconhecer o meu potencial”, aponta. Para que a relação dê certo, ensina, é preciso “saber ouvir e saber falar. Quando somente um fala, o outro está se anulando. Abrir mão do que gosta, mas sem se anular”, defende.
Segundo Mariane, a primeira fase do namoro, a da paixão, é importante. “Se fosse somente pelo lado racional, as pessoas não se encontrariam para criarem vínculos. A partir dali, começa-se a construir uma história, ou não”, observa. Respeito, compartilhar momentos, dificuldades, toque, carinho, não deixar a rotina tomar conta e surpreender positivamente: “O casal que consegue ter diálogo genuíno, tem chance de construir junto”.
Ada e Dilnaldo: segredo é cumplicidade
No dia 27 de junho, a dona de casa Ada Reinhardt Schäfer e o marido, o técnico em eletrônica aposentado Dilnaldo Schäfer, completam 35 anos de enlace matrimonial, com muita cumplicidade e companheirismo. Pais de André, 32, de Daniela, 29, e avós de Samuel, de um ano e seis meses, esbanjam bom humor quando falam sobre o início do namoro, lá em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1977. “Foi na igreja luterana. Cheguei de charrete para o culto com meus pais, e aí o vi”, recorda ela. “A conheci no Baile de Natal pelo cunhado e memorizei. Frequentávamos igrejas diferentes, mas depois de duas semanas, nos encontramos no mesmo culto”, lembra ele.
Ada não esperava nada desse encontro: “Não tinha esperança. Morava no interior, em Hidráulica (localidade) e não achava que ele iria se interessar por mim”. Logo depois, Dilnaldo foi trabalhar em um escritório, em São Paulo. “Passei meu endereço. Depois de seis meses, veio uma carta e me emocionei”, diz Ada, com sorriso tímido. Eles noivaram em fevereiro de 1980, no aniversário dele, e se casaram em 1981, quando vieram para Jaraguá do Sul. “Diferenças a gente sempre teve. Gosto de filmes de ação, ela, de filmes românticos, mas me adapto. A gente busca contentar um ao outro”, afirma Dilnaldo. “É preciso ter diálogo, perdão. O romantismo dele é estar ao meu lado, apoiando. Para muita gente, somos um exemplo de companheirismo e cumplicidade”, observa Ada.
De farda ou à paisana, sempre apaixonados
Eles se conheceram no curso da Academia Militar em Florianópolis, em 2011 e, desde lá, nunca mais se separaram. O segundo soldado Leandro Cristian Brey, 30 anos, nascido em Água Doce e criado em Canoinhas, reconhece que insistiu por quatro meses para vencer a resistência da colega e hoje cônjuge, Nathalie Ferreira Brey, 33, com quem casou em outubro de 2015. No mesmo ano, ambos foram transferidos de São Francisco do Sul para o 14º BPM de Jaraguá do Sul.
Soldados Leandro e Nathalie Brey se mantêm juntos no trabalho e na vida
Hoje, eles não somente fazem parte do mesmo pelotão, como atuam lado a lado na rádio-patrulha. Nas trocas de olhares, a ligação profunda entre eles é visível. Nathalie não poupa elogios ao parceiro. “Ele sempre foi muito cavalheiro. Até hoje abre a porta do carro para mim, traz flores. Sempre calmo, sensato e me estruturando”, desmancha-se. “Me chamou bastante a atenção a simpatia dela, sempre bem bacana de conversar. Muita gente acha desafiador, mas acho divertido trabalharmos juntos”, diz ele.
Fora do quartel, em casa, cuidam do casal de cães Yumi e Kouga, da raça West Highland White Terrier e, pelo menos por enquanto, não pensam em ter filhos. “Temos muitas afinidades, somos evangélicos, queremos estar junto+, fazer bem um ao outro”, explica a policial. “A gente pensa da mesma maneira e conversa bastante. Continuamos como namorados”, garante Leandro. “Apoiamos muito um ao outro. Eu tirei a sorte grande. Ele é um homem perfeito”, emenda Nathalie.
Amor à moda século 19
Imagine um pedido de noivado em que o pretendente se ajoelha em frente à amada. Pode até lembrar um folhetim do século 19, mas aconteceu em 11 de maio deste ano. A cena foi protagonizada pelo engenheiro civil Everaldo José Voss Junior, 24 anos, ao pedir a mão da namorada, a psicóloga Jéssica Hohl de Medeiros, 22 anos. Foi no dia em que eles completaram quatro anos de namoro, em uma casa de praia em Barra Velha. O cenário teve retrospectiva fotográfica exposta nas paredes, balões e corações, e incluiu a frase “1.461 dias juntos”.
Everaldo Junior e Jéssica Medeiros tomam decisões juntos: “um só para tudo”
Como se não bastasse, ele ainda gravou um vídeo de 15 minutos, dizendo à namorada o quanto a ama e preparou um jantar especial, com salmão assado e saladas, acompanhado por vinho, cerveja e a sobremesa preferida dela, macarron, onde estavam depositadas as alianças. “Fiquei feliz, não esperava. Ele tinha me dito que iríamos comemorar os quatro anos em um restaurante”, conta Jéssica.
Essa história de amor começou em 2012, através de amigos em comum. “O que me chamou a atenção nele é que é determinado, organizado, romântico, divertido e lindo, maravilhoso”, diz. “Ela é bonita, inteligente e gosto do jeito dela, delicada, querida, meiga, fofa”, emenda ele. Para Jéssica, o upgrade do relacionamento foi o pedido de casamento, para 11 de maio de 2019, um sábado. “Para dar certo, tem que agir como casal. Quando tomamos uma decisão, são os dois. Somos um só para tudo e assim queremos que seja para sempre”, revela Jéssica.
‘Santo casamenteiro’ inspira data
No Brasil, o Dia dos Namorados está relacionado ao frei português Fernando de Bulhões, o Santo Antônio, que destacava a importância do amor, do casamento, e ganhou fama de “santo casamenteiro”. É comemorado em 12 de junho, véspera de Santo Antônio, com a troca de presentes e cartões entre os casais. Para quem está só, uma simpatia famosa é colocar o santo de cabeça para baixo, ou então, no congelador.