O passeio entre as diferentes manifestações artísticas e a ligação com a literatura são duas coisas naturais e presentes na vida do paulista Fernando Bonassi. Crítico e direto em suas colocações, defendendo seus ideais e sendo o responsável por transportar as pessoas por diferentes histórias através de livros, filmes e séries, onde assina os roteiros, ele é o autor convidado e atração da noite de hoje na Feira do Livro de Jaraguá do Sul.
Escritor, cineasta, roteirista e dramaturgo, Bonassi acumula diferentes funções, porém, nutre uma paixão que alia todas elas: a literatura. Para ele, o cinema, teatro, televisão, tudo é literatura. “Tudo é uma questão poética e/ou narrativa”, enfatiza.
Com mais de vinte obras publicadas, entre elas Luxúria e Subúrbio, Bonassi é co-autor dos roteiros dos filmes Carandiru, Cazuza, Castelo Rá-tim-bum e das séries de TV Força-Tarefa, Mundo da Lua, Castelo Rá-tim-bum e da nova Supermax, que estreia em breve na Rede Globo. E é sobre a ligação entre estes gêneros que o autor vem falar em Jaraguá do Sul. “Vamos conversar sobre criação, sobre as naturezas diferentes de cada linguagem artística, de adaptação (…) sobre aquilo que fazemos e sobre a maneira como nos vemos na indústria cultural, em que trabalho”, adiantou em entrevista exclusiva ao jornal O Correio do Povo. Nela, Bonassi também falou de seu livro “Luxúria”, de como o atual cenário político/social do país influenciou no seu trabalho e também de suas leituras. Veja a seguir:
O Correio do Povo – Você disse, em outras entrevistas, que o livro Luxúria traz a sua visão de “que o Brasil não fez completamente a transição para a democracia desde a ditadura militar”. Como observa a atual situação do país?
Acho que ainda não fizemos a transição completa para a democracia porque ainda estamos à mercê de um sistema de poder concentracionário, pouco representativo do que somos e das regras morais com as quais a maioria de nós, os cidadãos eleitores, se conduz. A representação política virou um negócio em si, que pode ser vendido e arrendado. É horrendo. É muito triste que em nome de uma ideia de governança, a esquerda tenha se sujado tanto na velha política. Essa tristeza, esse sentimento de traição das nossas melhores ideias e ideais, está no livro, funda a tristeza presente no texto.
O Clube do Livro de Jaraguá do Sul escolheu seu livro Luxúria para ler e discutir no encontro de agosto. Segue uma pergunta do grupo: de onde surgiu a ideia da família trazida no livro porque é uma história boa e forte, que deixa o leitor perturbado e ao mesmo tempo conectado. Como foi o processo de criação deste livro?
Lamentavelmente, quando digo que Luxúria se baseia em fatos reais, falo a verdade: provenho de uma cepa de preguiçosos, reacionários e iletrados. A verdade do livro, cuja expressão eu quis assegurar, é que o Brasil é um país disfuncional, com famílias, narrativas e heróis disfuncionais. Este é um tempo desolador, tempo em que os criminosos são os que julgam os bandidos.
O que costuma ler e o que recomenda para nossos leitores?
Os melhores escritores atuais são mulheres: Herta Muller; Ilfried Jelinek; Angélica Freitas, Elvira Vigna, Elena Ferrante…
Confira abaixo a programação completa.
- Foto: Lourival de Souza/OCP Online
- Foto: Eduardo Montecino/Arquivo OCP
- Fotos: Divulgação