Abuso sexual no futebol: como clubes e escolinhas devem se comportar

Foco do futebol na semana ficou para fora do campo após caso de estupro de vulnerável de um técnico jaraguaense | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Lucas Pavin

27/03/2019 - 00:03 - Atualizada em: 27/03/2019 - 11:58

Referência no estado quando o assunto é a formação de bons talentos no futebol, Jaraguá do Sul iniciou esta semana com um escândalo.

Denunciado por dois alunos, com idades entre 11 e 12 anos, o técnico Joares Sérgio Silvano, foi preso na segunda-feira (25) por estupro de vulnerável. Para evitar ficarem marcadas pelo episódio isolado, diversas escolinhas e clubes da cidade se manifestaram com repúdio aos atos do treinador de 45 anos.

Em razão do caso chocante para o histórico do esporte municipal, que evidencia uma realidade perversa e antiga no país, o OCP conversou com responsáveis de três dos principais centros de formação de jogadores em Jaraguá, que destacaram as ações tomadas para combater esse tipo de conduta.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Com a base coordenada por Eduardo Rodrigues, o Juventus contrata apenas educadores físicos formados, fiscalizando e monitorando o trabalho dentro do clube.

Além disso, há normas de convívio, como, por exemplo, a proibição de professores e alunos transitarem nos mesmos vestiários, e trabalho de orientação aos jovens sobre temas como este em questão e sobre uso de drogas.

Pelo lado da Apaif (Associação de Pais e Amigos Incentivadores do Futebol), gestora da base do Jaraguá Futsal, são três profissionais contratados que fazem um trabalho aberto com os pais, que podem acompanhar as crianças em treinamentos, jogos e demais viagens que acontecem durante o ano.

“A família é parte muito importante em nosso projeto, por isso, em tudo que realizamos existem pais e familiares que estão conosco, o que deixa o ambiente mais tranquilo e seguro”, destaca Anderson Decker, técnico do futsal jaraguaense.

Anderson Decker, técnico da base do Jaraguá Futsal | Foto Arquivo Pessoal

O mesmo método é utilizado na Xoxo 10. Com garotos de 4 até 17 anos, a escolinha administrada pelo ex-jogador do Jaraguá Futsal, Xoxo, tem os pais diariamente observando as atividades, comandadas por professores formados em licenciatura e bacharel.

“Temos um trabalho bem transparente. Nossa escolinha tem três lemas: ética, respeito e disciplina. Isso é o básico do esporte, juntamente com o acompanhamento escolar para formar um bom cidadão”, declara Xoxo.

Xoxo, coordenador da Escolinha Xoxo 10 | Foto Henrique Porto/Arquivo Avante! Esportes

Independentemente do renome e tamanho do projeto de futebol, os profissionais ressaltam que é fundamental a fiscalização e conhecimento dos familiares sobre o local de treinamento do filho, assim como da própria escolinha na contratação de professores, além, claro, da exposição de qualquer tipo de suspeita de abuso.

“Infelizmente, existem essas pessoas doentes e as crianças têm que estar preparadas para se defender, que é não ter medo de falar. Não gostaríamos que essa prática ilícita estivesse no nosso meio, mas o assunto tem que ser abordado. Lamentamos profundamente e esperamos que isso não aconteça mais na nossa região”, ressalta Eduardo Rodrigues, do Juventus.

Eduardo Rodrigues, coordenador da base do Juventus | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Conselho regional de educação física se posiciona

Detido em um campo no bairro Três Rios do Sul, onde mantinha a sua escolinha há pouco mais de um ano, Joares não possuía formação em educação física, conforme boatos espalhados pela cidade nos últimos dias.

O treinador chegou a realizar cursos em algumas universidades, mas não concluiu, o que não impede o envolvimento no esporte.

Segundo Jean Leutprecht, gerente executivo do Conselho Regional de Educação Física, uma decisão da 19ª Turma da Vara do Rio de Janeiro tornou inviável a fiscalização da entidade no futebol, o que pode gerar esse tipo de situação. “Espero que isso seja apurado e se for culpado que se tome as devidas providências”, declara.

Ainda de acordo com Leutprecht, a imagem de outros profissionais não pode ser denegrida em função deste caso.

“É uma notícia que entristece, principalmente pela situação das crianças que sofrem esse tipo de abuso. Isso também poderia acontecer com um educador físico, mas tem que ter cuidado com a imagem e não colocar em dúvida outros professores, esses, sim, profissionais de educação física que atuam em diversas modalidades”, conclui.

 

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