Plantas ornamentais se destacam na economia de Corupá

Éderson Basagni se dedica há duas décadas ao paisagismo | Foto: Eduardo Montecino

Por: Elissandro Sutil

12/05/2018 - 05:05

Na microrregião, o município de Corupá – um dos mais procurados para ecoturismo – evidencia sua beleza natural e exuberante em um vale rodeado de quedas d’água e pela Mata Atlântica. Entre suas riquezas, está a agricultura.

O setor é responsável por 18,3% da economia de Corupá, considerada como a capital catarinense da banana, das plantas ornamentais e das orquídeas. O município também se destaca na piscicultura, produção de palmáceas e frangos, com incremento significativo na economia.

Nesse contexto, a bananicultura possui grande expressão, sendo o principal produto agrícola. Atualmente, possui aproximadamente 5.500 hectares de produção e cerca de 700 produtores.

Segundo a Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali), em 2015 esta atividade gerou uma movimentação econômica que ultrapassou os R$ 40 milhões.

Na cidade, está sediada a maior Associação de Bananicultores do Brasil (Asbanco), possuindo mais de 400 associados ativos. Suas atividades sempre são voltadas ao fortalecimento desses agricultores, sendo destaque nacional na organização e na assistência aos bananicultores.

Entre as forrações, a planta “leiteiro sanguíneo” se destaca pela cor | Foto: Eduardo Montecino

A floricultura em Corupá é a segunda maior atividade agrícola e, conforme o presidente da Associação de Produtores de Plantas Ornamentais (Aproplant), Éderson Basagni, envolve hoje 100 agricultores.

“Estima-se que o Estado tenha aproximadamente 2 mil produtores. Há cerca de 15 anos eram só 200, então aumentou muito a oferta de produto, mas diminuiu muito a procura”, explica.

Segundo ele, a Aproplant abrange o município e a região e conta com 20 associados, cuja área de produção chega a aproximadamente 80 hectares.

Renovação no setor

Basagni ressalta que o setor de plantas ornamentais foi bem visado há alguns anos, devido à lucratividade.“Isso baixou bastante e hoje a floricultura passa por uma renovação, assim como aconteceu com outras indústrias, móveis, a banana também já passou por altos e baixos. A planta hoje tem muita oferta e pouca procura”, aponta.

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Atualmente, o município envia plantas ornamentais para todo o país, de Norte a Sul. Os principais consumidores são Rio Grande do Sul, Paraná e o próprio estado, depois entram São Paulo e Mato Grosso.

“O que aconteceu aqui em Santa Catarina é o que aconteceu em outros estados também. Eles possuem seus próprios polos produtores. Então, Minas já não vem comprar tanto aqui, porque tem seus próprios produtos lá. São Paulo e Rio Grande do Sul também, então tudo isso acarreta um ajuste no setor”, justifica .

Paulista, 37 anos, Basagni está na região há 30 anos e na atividade há pelo menos duas décadas. O negócio é tocado pela família, com apenas quatro pessoas. No entanto, ele afirma que existem empresas do ramo com 30 a 40 funcionários.

Atuando na área de paisagismo, ele produz palmeiras e algumas forrações, tendo aproximadamente 65 espécies de palmeiras, algumas mais para coleção e outras bem comerciais.

Existem mais de 2.700 espécies de palmeira | Foto: Eduardo Montecino

A palmeira, explica o produtor, possui ciclo médio e longo. A colheita pode demorar de cinco a seis anos e às vezes até mais. “Tem produção de palmeiras com 18 a 20 anos. Requer bastante tempo para poder comercializar o produto”, destaca.

Na propriedade, produz cerca de 10 hectares de plantas ornamentais, que está sendo reduzida para chegar a 5 hectares, o que Basagni considera de bom tamanho hoje. Ele também possui eucalipto e está começando a plantar palmeira para corte.

Altos e baixos

As oscilações no mercado são capazes de desvalorizar um produto rapidamente. De acordo com o presidente da Aproplant, as plantas entram em moda assim como roupas ou calçados e a cada ano um determinado tipo está mais em voga que outro.

Por ser uma área bem dinâmica, é preciso ir se adequando e prestando atenção às necessidades do mercado. Porém, Basagni diz que depois de 20 anos, ainda pena um pouco com essa mudança tão rápida.

“Às vezes você produz um produto que todo mundo resolveu plantar também, aí fica um excesso no mercado. E acontece também de ninguém mais querer produzir aquele produto e depois falta, aí o preço sobe”, indica.

O agricultor não considera difícil o manejo com a planta ornamental, mas enfatiza que requer muito trabalho manual e mais minucioso. Vai desde o controle de pragas e doenças, plantio, semeadura, o que exige bastante habilidade. As sementes também variam e em alguns anos ocorre a má germinação.

Para fazer frente a esses problemas, ele diz que o trabalho básico da associação hoje está voltado em trazer conhecimento aos produtores.

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“Alguns presidentes anteriores, em viagens técnicas, voltaram com algum manejo, palestras sobre motivação, dinâmica de atendimento. Mas, hoje, o negócio está tão apertado que estamos focados mais na área de custos, para ver onde está dando lucro ou prejuízo”, enfatiza.

Basagni esclarece que muitas vezes o agricultor não sabe onde o negócio está dando prejuízo por causa do ciclo longo que os produtos enfrentam. O resultado pode ser um investimento de cinco ou seis anos em determinada planta cujo custo de venda não cobre o operacional.

Cycas revoluta (ao fundo), originária da China, já foi uma planta cara | Foto: Eduardo Montecino

“Você tem que ter capital para aguentar o período de cultivo e, às vezes, depois de seis anos, o produto está no ponto, mas o comércio não quer mais ele, já quer outro diferente”, revela.

Mostrando uma palmeira para interior, ele comenta que esta já foi uma planta caríssima. Quando estava em alta, a Cycas revoluta (originária da China) chegou a valer R$ 400,00 (há mais de uma década). Hoje, custa em torno de R$ 65,00.

Isso demonstra o quanto as plantas se valorizam e desvalorizam dependendo do que está em alta e da quantidade produzida. Entre as que estão em evidência, ele cita a palmeira ‘rabo de raposa’ e a ‘palmeira fênix’. Esta última é considerada mais rara porque possui ‘duas cabeças’, e seu valor vai de R$ 10 a R$ 200, dependendo do tamanho.

Grande variedade

Entre as forrações de ambientes, chamam atenção as de coloração vermelho escuro, como o abacaxi roxo (Tradescantia spathacea) – produção que será usada em um jardim vertical – e a leiteiro sanguíneo ou leiteiro vermelho (Euphorbia cotinifolia).

Basagni explica que hoje existem 2.700 espécies de palmeira conhecidas popularmente e que um colecionador de Corupá tem aproximadamente 700 espécies diferentes. “Ele faleceu há alguns dias, mas deixou a coleção para a gente aproveitar”, comenta.

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O número total de plantas ornamentais cadastradas naturais chega a 8 mil. E é preciso conhecer esse universo para ir além do paisagismo e entender o que realmente funciona em determinado ambiente.

“Foi feito um estudo sobre as plantas e chegou-se às ideais para se colocar em ambiente de trabalho. São plantas que além de purificar o ar, reduzem o estresse das pessoas. Algumas plantas pré-dereminadas fazem melhor esse trabalho. A pleomele é uma”, ressalta o produtor.

E, para quem acredita que um belo jardim não faz tanta diferença, ele destaca que o investimento em paisagismo valoriza o imóvel em 16%.

Plantas ornamentais requerem trabalho manual minucioso | Foto: Eduardo Montecino

Praga no meio rural

Para atender a reportagem do OCP, Éderson Basagni precisou fechar seu escritório e ligar o aparelho de ar condicionado. Segundo ele, seria impossível sentar e conversar com a porta ou janela aberta por causa do maruim.

Ele diz que esse é um problema muito sério. “No alto (período) da nossa venda aqui, antes da gente falar bom dia ou boa tarde para o nosso cliente tem que dar um frasco de repelente para ele. Porque senão ele não consegue olhar a mercadoria sossegado. No verão é que o maruim ataca mesmo”, revela.

A proliferação do maruim é um problema incontrolável para todo o segmento rural. E, por enquanto, não há muito o que fazer, a não ser deixar a residência fechada e se proteger com roupas e calçados adequados e repelente.

Por esse motivo, o produtor destaca que o turismo rural, área que vem recebendo incremento, continuará prejudicado enquanto o mosquito estiver se reproduzindo dessa forma.

“O turista que vier aqui vai espantar outros 20, porque tu não volta, não tem beleza natural que aguente esse bicho”, opina.

Produtor afirma que investimento em paisagismo valoriza o imóvel em 16% | Foto: Eduardo Montecino

Fecaplant

Corupá possui um grande evento na área: a Feira Catarinense de Flores e Plantas Ornamentais (Fecaplant), que ocorre a cada dois anos. A coordenação é da Aproplant e da Aproesc – entidade estadual. Ainda conta com auxílio da Secretaria Municipal da Agricultura e Epagri.

Além de exposição de plantas, máquinas e equipamentos, o evento possui um fórum para promover capacitação e oportunizar novas experiências.