OCP nos bairros: Santo Antônio cresce recebendo moradores de diferentes lugares

Foto: Arquivo/OCP News

Por: Elissandro Sutil

13/09/2018 - 05:09 - Atualizada em: 13/09/2018 - 08:42

Para chegar ao Centro de Jaraguá do Sul, os moradores do bairro Santo Antônio percorrem aproximadamente 12 quilômetros, variando o trajeto escolhido, mas isso não é um problema, garantem.

Afinal, a tranquilidade do local compensa os cerca de 20 minutos de carro gastos para chegar até a região central. De ônibus o percurso pode se estender, chegando a 50 minutos.

O transporte público é, inclusive, alvo de elogios. “Tem muita coisa que funciona por aqui e com certeza o transporte é uma delas. Acho que esse é um dos bairros que mais tem ônibus e horários”, avalia o aposentado Valdemar Pereira Prestes, 61 anos, que tem conhecimento de causa quando o assunto é o bairro Santo Antônio.

Aposentado, Valdemar defende que bairro está em franco desenvolvimento. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Ex-presidente da associação de moradores, o aposentado escolheu o bairro quando ele ainda sequer tinha uma estrutura mínima, aliás, ele conta que o local não tinha nem 10 casas quando ele chegou do Rio Grande do Sul, há 22 anos. E Valdemar afirma ainda que o Santo Antônio é morada de pessoas de diferentes regiões.

“Quando a gente veio pra cá, tinha muito pouco morador, era uma casa aqui, outra ali em cima e hoje tem gente de tudo que é canto. Hoje, podemos dizer que o Santo Antônio tem um pedacinho de cada lugar do país”, fala enquanto mostra onde foram erguidas as primeiras casas do bairro.

Moradores afirmam que nas últimas três décadas, o bairro cresceu consideravelmente reunindo pessoas de “todos os cantos”. | Foto: Edu Montecino/OCP News

A tranquilidade, o sossego e a segurança fazem com que os moradores criem raízes por ali. Não é difícil ou incomum encontrar pessoas que até vieram de outras cidades e estados, mas não pretendem deixar o Santo Antônio para trás. Tanto que há inúmeros moradores que somam décadas de vida no bairro.

Assim como Valdemar, o aposentado Jesolino Ferreira, de 75 anos, também chegou a Jaraguá do Sul e ao Santo Antônio em 1996, há 22 anos, e também se deparou com uma comunidade bem diferente daquela que a neta e a bisneta enxergam enquanto brincam no parquinho.

“Ah, isso aqui mudou bastante. Quando eu cheguei tinha poucas casas e olha do jeito que isso está hoje, tudo asfaltadinho, com esse monte de casa. Olha que a gente correu atrás nesse tempo para conseguir melhorar o bairro”, diz.

Se há duas décadas o número de casas era limitado, hoje o crescimento fica evidente assim que o bairro se apresenta diante dos olhos de quem chega.

Construções já consolidadas, outras sendo erguidas e ainda os enormes terrenos sendo preparados antecipam o desenvolvimento e, para Jesolino e Valdemar, é certo que os mais de 3,6 mil habitantes apontados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Censo 2010 devem se multiplicar ainda mais nos próximos anos.

Creche não suporta demanda

Há 20 anos, garantem os moradores, o visual do Santo Antônio era muito diferente daquele visto pelas crianças que crescem no bairro hoje, cercadas de ruas asfaltadas. Rosmildo Coutinho, de 45 anos, conta que a principal via de acesso ao bairro antes era “uma picada”.

“Há 27 anos era tudo muito diferente, ônibus tinha dois ou três durante todo o dia, escola só tinha uma e era só até a 4ª série, a estrada era uma picadinha que só cabia um carro. Hoje, qualquer saída é asfaltada”, lembra.

Para ele, é inegável o progresso e o desenvolvimento estrutural do bairro. “Ninguém conhece o sofrimento que era isso aqui”, complementa.

Para ele, só há um fator que ainda deixa a desejar: a educação infantil. Todos os dias Rosmildo vê as crianças agitadas na creche que atende a população do bairro, mas ele próprio não teve a facilidade de ter o filho estudando perto de casa.

Ele conta que a dificuldade é enorme para conseguir uma vaga no centro de educação infantil. Em alguns casos, como o dele, os pais desistem ou os filhos crescem antes que sejam chamados.

“A creche já ao dá conta, tinha que ter pelo menos mais uma. Nós mesmos tivemos que levar o nosso filho para o Centro e ele ficou cinco anos lá”, explica.

Creche não consegue atender a demanda do bairro. | Foto: Edu Montecino/OCP News

A dificuldade com o centro de educação infantil atinge também o aposentado Jesolino Ferreira, ou melhor, a neta e a bisneta. Lavínia e Lolô, ambas com três anos, são cuidadas pela família e o passeio no parquinho já é rotina, garante Jesolino.

Ele reclama da falta de vagas não apenas porque tem netos e bisnetos em idade escolar, mas porque ele aponta esse como um dos principais problemas.

“A gente correu atrás, se envolveu com diretoria de associação de bairros e até hoje vai pedir e reclamar na Prefeitura quando necessário e a creche segue sendo um  problema. Tem creche, mas para conseguir uma vaga é muito difícil”, diz enquanto serve de assistente na brincadeira das garotinha no parque do bairro.

Para Valdemar Pereira Prestes, o problema existe e não pode ser ignorado, mas minimiza a responsabilidade do poder público, pois, para ele, é difícil suprir a demanda quando a população e o público-alvo da creche aumenta constantemente.

“A escola dá conta da demanda, mas a creche tem muita gente na fila. Ela não está dando conta porque todos os dias chega gente nova por aqui”, avalia.

Limpeza e sinalização de ruas pedem atenção

Além de evidenciar a segurança e a tranquilidade, os moradores admitem que a estrutura cresceu em paralelo ao desenvolvimento do Santo Antônio. Apesar disso, não fecham os olhos para os problemas pontuais que continuam incomodando em níveis distintos.

Jesolino Ferreira critica a falta de limpeza e manutenção das vias e dos terrenos sob responsabilidade do poder público, como o parquinho e terrenos nos quais ainda não há construção, mas pertencem ao governo municipal, como o espaço imediatamente ao lado da creche.

Ele conta que recentemente equipes da Prefeitura estiveram no bairro realizando ações de limpeza e pintura de algumas vias, mas ressalta que esse procedimento é muito pontual e não reflete o dia a dia do bairro.

“Eu fui lá reclamar há uns seis meses, fui na Câmara de Vereadores falar da sujeira e de como isso estava, aí limparam as ruas, pintaram, mas se não tiver em cima, não fazem. E você vê como está isso aqui tudo podre, um parquinho que a gente traz as crianças para brincar, nesse estado, nessa sujeira”, reclama.

Falta de limpeza de vias, terrenos e córrego preocupa. | Foto: Edu Montecino/OCP News

E a falta de limpeza não está restrita às ruas e espaços públicos destinados ao lazer, como aponta Valdemar Pereira Prestes. Ele conta que os dois córregos, que cortam o bairro e se encontram em determinado ponto, já causaram alagamento, o que não vem ocorrendo nos últimos anos.

Apesar disso, a falta de cuidado e limpeza, incomoda os moradores. “Tem muita sujeira, muito mato. Mau cheiro até não tem porque ele é tratado, mas é só ir ali e olhar como tem sujeira”, diz.

A falta de sinalização nas ruas também é um problema.  Apesar de acertar na pavimentação de ruas do bairro, o governo municipal escorrega na sinalização e implantação de obstáculos capazes de oferecer segurança aos pedestres, afirma Valdemar.

Segundo ele, em algumas ruas não existe sequer uma placa de sinalização ou indicação de velocidade. “Falta placa, falta obstáculo, lombada. Nas ruas José Vicenzi e Anacleto Garcia não têm uma placa e olha que elas são bem compridas”, reclama.

Ações para manter a segurança

Há 23 anos o casal Neusa Odorcick da Silva, de 52 anos, e Darlei César Xavier da Silva, de 45, deixaram o interior do Paraná e se instalaram em Jaraguá do Sul. Se o Santo Antônio é conhecido pelos moradores por abrigar “gente de todo canto”, o casal é mais um exemplar dos que encontraram ali o seu lar.

O casal paranaense que já se considera jaraguaense, assim como os moradores ouvidos pela reportagem, enxerga o bairro em franco desenvolvimento e com estruturas que, em boa parte, conseguem atender a demanda da população, embora pontue as mesmas carências. Mas, para eles, o diferencial é realmente a segurança.

Apesar disso, Neusa e Darlei sabem que até nisso é possível melhorar. “Eu acho que a estrutura é muito razoável e o que é o ponto fora da curva é a segurança. É um bairro tranquilo e seguro, mas sempre pode melhorar”, ressalta Neusa.

Neusa e Darlei consideram o bairro tranquilo | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Neusa e Darlei consideram o bairro tranquilo. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

O companheiro, Darlei, afirma que os moradores sabem que o bairro é seguro, tanto que, ele conta, deixa o carro com a chave na ignição sem se preocupar. Mas, completa ele, já é possível identificar alguns problemas, como o uso e o tráfico de drogas.

“Tem bastante ponto de drogas sim e, talvez para isso, seria necessário mais proximidade da polícia, com um posto policial, quem sabe”, avalia. Outra ação que poderia impedir a evolução da violência, afirma Darlei, é a instalação de câmeras de monitoramento.

Para Neusa, apesar disso, o bairro segue sendo bastante seguro e ela ressalta que a comunidade tem papel fundamental na manutenção dessa tranquilidade. “Nós temos que ter a consciência de que segurança pública é responsabilidade de todo mundo e pensando na comunidade, todo mundo sai ganhando”, finaliza.

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