OCP nos bairros: história e progresso se misturam na Vila Lalau

Por: Elissandro Sutil

03/05/2018 - 06:05 - Atualizada em: 09/04/2024 - 14:15

O pequeno Lalau Rath era ainda uma criança com uma década de vida quando pisou e fincou raízes em Jaraguá do Sul. Aos 10 anos, ele mudou para a cidade vindo de Massaranduba e à época não imaginaria que deixaria uma marca histórica na cidade.

A família chegou em 1941 e se instalou próximo de onde hoje está a recreativa da Marisol. Nos anos de 1940, a localidade tinha um nome peculiar: Cachaça Velha. Foi ali que o pai de Lalau adquiriu e vendeu terras.

Bairro abriga inúmeras empresas, como a Marisol, e a Sociedade Vierense. São mais de cinco mil negócios registrados. | Foto Eduardo Montecino/OCP

O menino foi crescendo, casou e se transformou em ponto de referência da localidade, conta a historiadora Silvia Kita. “Quando alguém queria saber alguma coisa da região, respondiam: vai lá no Lalau”. Daí, o garoto que chegou aos 10 anos e constituiu família em Jaraguá do Sul, deu nome a um dos bairros mais movimentados da cidade: Vila Lalau.

Com cerca de 4,5 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o bairro tem uma população muito maior durante o dia, graças a sua localização. É nele que estão duas das principais vias de acesso e saída da cidade, a avenida Prefeito Waldemar Grubba e a rua Bernardo Dornbusch.

Além disso, outra característica marcante da Vila Lalau é o alto número de empreendedores, sejam eles comerciantes ou empresários. Segundo o presidente da associação de moradores, Rafael Koerich, a característica comercial é muito forte, embora o clima residencial seja um dos fatores que o faz morar há duas décadas no bairro.

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De acordo com ele, atualmente são mais de cinco mil CNPJs (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) registrados na Vila Lalau. Toda essa movimentação e a posição geográfica trazem benefícios, mas também alguns problemas, como relata o aposentado Luiz de Oliveira Souza, de 62 anos.

Embora ele garanta que não troca a Vila por nada, Souza aponta o trânsito e a condição de algumas ruas como uma demanda que precisa ser olhada com carinho pelo poder público municipal. Morador do bairro há 40 anos, ele tem como vista da frente de casa um dos mais tradicionais clubes da cidade, ponto de eventos de grande porte, a Sociedade Vieirense.

Souza aponta duas ruas com demandas que, para ele, são possíveis de serem atendidas, a rua Alberto Santos Dumont e a Dona Matilde. Segundo ele, a primeira é a principal via de entrada para o bairro e a segunda sofre com a falta de manutenção e cuidado. “Boa parte dela ainda é de paralelepípedo, tornando a rua ruim, irregular”, diz.

Já a Dona Matilde precisa de cuidado, avalia o aposentado que já viu acidentes acontecerem no local devido a essa falta de manutenção. Para ele, ao menos uma lombada física deveria ser instalada para evitar as colisões que, ele afirma, são recorrentes. Sobre a Rua Dona Matilde, não há previsão para instalação de faixa elevada.

O tráfego na região é complicado, admite o presidente da associação de moradores, mas ele minimiza o problema porque afirma que esta é uma característica comum de pontos de acesso, como é o caso da Vila Lalau, porta de entrada para a cidade. Essa localização é, inclusive, um dos pontos positivos apontados por Koerich.

“É um bairro de entrada e saída do município e essa facilidade de acesso é muito bacana. Aqui estamos a minutos do Centro e de outras cidades”, destaca.

Para Koerich, que está à frente da associação de moradores há quatro anos, não há bairro melhor. Ele, que morava no vizinho Centenário, é enfático ao dizer que não troca o bairro por nada.

“Eu não trocaria não. Aqui temos essa comodidade de ter uma boa vizinhança. A maioria do pessoal é do bairro, antiga daqui já e mesmo quem chega agora, por conta das empresas, já absorve o ar do bairro, já chega e sabe que aqui o pessoal se cumprimenta na rua, se ajuda. Não troco essa comodidade e esse clima por nada”, afirma.

Bairro sente falta de áreas de lazer

“O que você está fazendo, Pedro?”, foi a pergunta. A resposta do garotinho de quatro anos foi veloz e sincera: “tô brincando”. E estava mesmo. Munido de baldinho e pequenas formas, Pedro aproveitava a areia soltinha do parquinho de diversões para construir sua cidade particular, depois de rodar, correr, balançar, subir e descer dos brinquedos.

O parque, que fica anexo a associação de moradores do bairro, é destino certo de Pedro quando o clima colabora. Acompanhado de Mari Alvisi, que é a responsável por cuidar do meninino, ele se diverte na principal área de lazer da Vila Lalau. Ali ainda é possível bater uma bolinha no campo de futebol e exercitar o corpo na academia ao ar livre.

Mari cuida do pequeno Pedro e tem o parquinho do bairro como único destino. O morador Luiz de Oliveira Souza pede mais cuidado com as ruas. | Foto Eduardo Montecino/OCP

Para Mari que, como afirma, “mora aqui desde sempre”, o bairro é o melhor de Jaraguá do Sul. Nascida e criada na Vila, ela viu o bairro expandir e esse crescimento fez com que ele se tornasse autossustentável, afirma. “Temos toda uma infraestrutura aqui porque tudo o que precisamos tem. Só ‘falta’ hospital, mas nem é algo que faça falta, só não tem mesmo”, diz.

Além do crescimento na oferta de comércio e serviços, Mari aponta o crescimento da população como uma das mudanças fundamentais no bairro, embora não veja isso como algo negativo, apenas “diferente”. “A diferença é que antes era bem restrito, só tinha o pessoal daqui mesmo, que nasceu e se criou aqui, agora tem mais gente e muito disso pelas indústrias. Não que tenha piorado, mas mudou”, conta.

Segundo ela, essas mudanças começaram a ser sentidas com mais intensidade há cerca de 10 anos, com novas construções, o surgimento de prédios residenciais e também de pensões para abrigar a população de fora da cidade que vem à Jaraguá do Sul para trabalhar.

As mudanças estruturais e o crescimento do bairro mudaram a economia e a oferta, mas não alterou o clima tranquilo do bairro. Para Mari, o local acolhe e conquista os moradores muito por esse clima seguro e sossegado. “Eu não trocaria por outro. É tranquilo, sossegado, tanto que as crianças podem ficar e brincar na rua sem que as mães se preocupem”, ressalta.

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Tranquilidade é também o ponto forte do bairro destacado pelo aposentado Luiz de Oliveira Souza. E ele tem propriedade para falar, afinal, são quatro décadas na Vila Lalau. Apesar das qualidades, Souza sente falta de pontos de lazer no bairro. Segundo ele, o único ponto é justamente onde o pequeno Pedro costuma ir construir seu mundo particular. Ele conta que a associação de moradores é o único espaço público destinado ao lazer e, ainda assim, tem seus problemas.

“Não tem área de lazer, só o campo da associação com academia e tudo mais, mas é um local escondido”, lamenta ao afirmar que por ser no final da rua, algumas pessoas podem se sentir inseguras em utilizar o espaço em determinados horários de menor movimentação nas ruas.

Limpeza de ruas e desassoreamento de rio

O bairro Vila Lalau está longe de ser um dos maiores de Jaraguá do Sul, mas também é extenso. Quem passa todos os dias pela avenida Waldemar Grubba, via de acesso a cidade, não imagina que ao entrar pelas ruas secundárias, uma verdadeira cidade se abre com comércio vasto e empresas capazes de atrair novos moradores.

A movimentação constante no bairro não é capaz, segundo o aposentado Luiz de Oliveira Souza, de fazer com que o poder público municipal volte os olhos para a Vila Lalau. “Eles pensam que da ponte para cá não precisa fazer nada”, reclama.

Entre as principais reclamações do aposentado está a falta de manutenção e limpeza das vias. Segundo ele, a limpeza é zero por parte da Prefeitura. “Não se vê ninguém varrendo, quando as pessoas passam e vêem as ruas limpas é porque os moradores mantêm”, diz. “Para nós, a Prefeitura não existe neste aspecto”, completa.

Embora admita que exista uma demanda no que diz respeito a limpeza e roçadas, o presidente da associação de moradores, Rafael Koerich, garante que o diálogo com a Prefeitura nesse sentido de cobrar a manutenção é aberto. Ele afirma ainda que essas são demandas já colocadas porque “é o básico”.

Além disso, Koerich destaca outro problema que precisa ser resolvido e que motivou a associação a desenvolver um projeto: os alagamentos. Ele conta que há no bairro algumas ruas que sofrem com as enchentes por conta do assoreamento do rio. “A gente está fazendo um projeto para desassorear o rio, o que pode evitar os alagamentos que são frequentes em algumas ruas”, finaliza.

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